Conan, o Bárbaro
O bárbaro cimério imaginado por Robert E. Howard na década de 30, retorna aos cinemas em nova versão. Não exatamente um remake do filme de John Milius, estrelado por Arnold Schwarzenegger. Jason Momoa, o Conan de Marcus Nispel, é ainda mais bárbaro, apesar bastante astuto também, só vendo sua sede de vingança à frente. Isso torna o roteiro tão pífio que chega a dar vontade de continuar apenas com a lembrança do filme de 1981.
Conan é um cimério que nasceu em meio a uma batalha sangrenta. Ali ele nasce, perde a sua mãe e conhece o gosto de sangue no lugar do leite materno. O garoto cresce determinado a ser um guerreiro tão bom quanto seu pai, mas um ataque do exército de Khalar Zym à sua aldeia faz com que Conan fique não apenas orfão, mas completamente só na vida. Aprendendo a roubar e se virar, o bárbaro vai vivendo, e isso nos é contado em uma narração over completamente fora de propósito e sinal de que algo realmente não vai bem na escrita dos roteiristas. Seu único objetivo é vingar a morte do pai, o que ele não sabe, e parece não estar nem um pouco interessado em saber, é que Khalar Zym conseguiu em sua aldeia a última peça de uma máscara mágica que o fará senhor do mundo.
A história da máscara e seu propósito já havia sido contada na mesma narração over no início do filme, mas os roteiristas parecem não confiar na memória e bom entendimento da platéia fazendo-a ser repetida em vários momentos do filme. É tanto que dá para se irritar. E o pior é perceber que o protagonista está completamente alheio a isso. Sua preocupação se resume à sua vingança, tanto que quando prende a "sangue puro" interpretada por Rachel Nichols, quer usá-la de isca para o vilão. E se Conan não está preocupado com o fato, porque o espectador estaria? A gente fica na dúvida se tem raiva do protagonista que não se importa com isso, ou com o narrador que insiste em nos lembrar que aquilo não pode acontecer. Se levarmos em conta o que acontece depois, então...
Se o roteiro é fraco, os efeitos especiais são caprichados. Marcus Nispel, talvez acostumado à quantidade de sangue de seus filmes de terror, faz questão de deixar as batalhas mais explícitas possíveis. Tem sangue jorrando para todos os lados, membros decepados em close, feridas expostas, e todo tipo de violência para deixar claro que aquele é mesmo um mundo bárbaro. O filme já começa deixando clara sua posição, ao construir o nascimento de Conan. A câmera nesse momento não mostra o pai do guerreiro fazendo o parto com uma espada, mas o som cortante e o grito da mãe já são suficientemente chocantes. Até esse momento, no entanto, o longametragem ainda prometia ser algo de grande valor por toda a constituição da cena, a grandiosidade da luta, a tensão. Mas, além de se tornar repetitivo, o filme vai perdendo seu sentido de ser com o passar da projeção.
Nos poucos momentos de respiro, Conan, o Bárbaro, se torna uma caricatura de si mesmo, as cenas de taverna mesmo soam praticamente todas falsas. As brincadeiras de Conan com os amigos, as disputas, as prostitutas, nada ali parece real, natural, e não é por causa de interpretação, mas sim de construção mesmo de cena. As interpretações, aliás, são os menores dos problemas. Jason Momoa consegue passar verdade em seu personagem. Stephen Lang está caricato como o vilão Khalar Zym, mas funciona, assim como Rose McGowan que faz sua filha em um tom acima, mas que também funciona para a caricatura da personagem que é extremamente estereotipada. Já Rachel Nichols o que tem de bonita, tem de fraca e Nonso Anozie consegue interpretar o personagem mais fraco do filme, o amigo de Conan, Artus. Sua cena no barco, gritando para Conan e Tamara, é de causar vergonha.
E diante do fraco roteiro, das lutas intermináveis, apesar de bem orquestradas, da violência exposta, do mundo ameaçado e do protagonista preocupado apenas com o próprio umbigo, ainda tem o 3D que serve mais para deixar a tela escura e difícil de ver os detalhes do que para nos ambientar em uma profundidade interessante. Seria injusto dizer que é totalmente desnecessário, pois em alguns momentos é interessante ver o recorte da cena, as camadas do cenário, principalmente em um momento em que Conan está em uma caverna. Mas, não contribui de forma satisfatória para a história, sendo apenas um plus. É um reflexo do todo. Conan, o Bárbaro, é um filme de boas intenções, mas que fica no "poderia ter sido".
Conan, o Bárbaro (Conan, the Barbarian: 2011 / EUA)
Direção: Marcus Nispel
Roteiro: Thomas Dean Donnelly, Sean Hood e Joshua Oppenheimer.
Com: Jason Momoa, Rose McGowan, Ron Perlman, Rachel Nichols.
Duração: 90 min.
Conan é um cimério que nasceu em meio a uma batalha sangrenta. Ali ele nasce, perde a sua mãe e conhece o gosto de sangue no lugar do leite materno. O garoto cresce determinado a ser um guerreiro tão bom quanto seu pai, mas um ataque do exército de Khalar Zym à sua aldeia faz com que Conan fique não apenas orfão, mas completamente só na vida. Aprendendo a roubar e se virar, o bárbaro vai vivendo, e isso nos é contado em uma narração over completamente fora de propósito e sinal de que algo realmente não vai bem na escrita dos roteiristas. Seu único objetivo é vingar a morte do pai, o que ele não sabe, e parece não estar nem um pouco interessado em saber, é que Khalar Zym conseguiu em sua aldeia a última peça de uma máscara mágica que o fará senhor do mundo.
A história da máscara e seu propósito já havia sido contada na mesma narração over no início do filme, mas os roteiristas parecem não confiar na memória e bom entendimento da platéia fazendo-a ser repetida em vários momentos do filme. É tanto que dá para se irritar. E o pior é perceber que o protagonista está completamente alheio a isso. Sua preocupação se resume à sua vingança, tanto que quando prende a "sangue puro" interpretada por Rachel Nichols, quer usá-la de isca para o vilão. E se Conan não está preocupado com o fato, porque o espectador estaria? A gente fica na dúvida se tem raiva do protagonista que não se importa com isso, ou com o narrador que insiste em nos lembrar que aquilo não pode acontecer. Se levarmos em conta o que acontece depois, então...
Se o roteiro é fraco, os efeitos especiais são caprichados. Marcus Nispel, talvez acostumado à quantidade de sangue de seus filmes de terror, faz questão de deixar as batalhas mais explícitas possíveis. Tem sangue jorrando para todos os lados, membros decepados em close, feridas expostas, e todo tipo de violência para deixar claro que aquele é mesmo um mundo bárbaro. O filme já começa deixando clara sua posição, ao construir o nascimento de Conan. A câmera nesse momento não mostra o pai do guerreiro fazendo o parto com uma espada, mas o som cortante e o grito da mãe já são suficientemente chocantes. Até esse momento, no entanto, o longametragem ainda prometia ser algo de grande valor por toda a constituição da cena, a grandiosidade da luta, a tensão. Mas, além de se tornar repetitivo, o filme vai perdendo seu sentido de ser com o passar da projeção.
Nos poucos momentos de respiro, Conan, o Bárbaro, se torna uma caricatura de si mesmo, as cenas de taverna mesmo soam praticamente todas falsas. As brincadeiras de Conan com os amigos, as disputas, as prostitutas, nada ali parece real, natural, e não é por causa de interpretação, mas sim de construção mesmo de cena. As interpretações, aliás, são os menores dos problemas. Jason Momoa consegue passar verdade em seu personagem. Stephen Lang está caricato como o vilão Khalar Zym, mas funciona, assim como Rose McGowan que faz sua filha em um tom acima, mas que também funciona para a caricatura da personagem que é extremamente estereotipada. Já Rachel Nichols o que tem de bonita, tem de fraca e Nonso Anozie consegue interpretar o personagem mais fraco do filme, o amigo de Conan, Artus. Sua cena no barco, gritando para Conan e Tamara, é de causar vergonha.
E diante do fraco roteiro, das lutas intermináveis, apesar de bem orquestradas, da violência exposta, do mundo ameaçado e do protagonista preocupado apenas com o próprio umbigo, ainda tem o 3D que serve mais para deixar a tela escura e difícil de ver os detalhes do que para nos ambientar em uma profundidade interessante. Seria injusto dizer que é totalmente desnecessário, pois em alguns momentos é interessante ver o recorte da cena, as camadas do cenário, principalmente em um momento em que Conan está em uma caverna. Mas, não contribui de forma satisfatória para a história, sendo apenas um plus. É um reflexo do todo. Conan, o Bárbaro, é um filme de boas intenções, mas que fica no "poderia ter sido".
Conan, o Bárbaro (Conan, the Barbarian: 2011 / EUA)
Direção: Marcus Nispel
Roteiro: Thomas Dean Donnelly, Sean Hood e Joshua Oppenheimer.
Com: Jason Momoa, Rose McGowan, Ron Perlman, Rachel Nichols.
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Conan, o Bárbaro
2011-09-15T08:52:00-03:00
Amanda Aouad
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