Larry Crowne – O amor está de volta
Se Poliana, a personagem de Eleanor H. Porter, escrevesse o roteiro de um filme, seria Larry Crowne, segundo filme de Tom Hanks na direção cinematográfica. Não por acaso a distribuidora brasileira acrescentou o sub-título O amor está de volta. Tudo nessa obra parece inacreditável de tão perfeito. Mesmo com a crise inicial, Larry Crowne parece disposto a mostrar que esse é mesmo um mundo maravilhoso.
Tudo começa quando o exemplar funcionário de uma rede de supermercados é demitido com a desculpa de que não tem curso superior. "Nós nunca poderemos te promover, como o lema da empresa é oportunidades iguais, você está fora". Algo assim é dito a Larry Crowne. Ele resolve, então, se matricular em uma faculdade e recomeçar sua vida. No curso de oratória, ele se encanta pela professora e no de economia ele conhece uma garota que ajuda a mudar sua vida. Ele entra para "gangue" de moto dela e aprende que é possível viver qualquer coisa de forma mais leve.
O roteiro do próprio Tom Hanks em parceria com Nia Vardalos é um conjunto de fatores fadados a dar certo. Não existe necessariamente um conflito para o personagem. Ele perde o emprego, é certo. Mas, facilmente se matricula na faculdade, compra uma motoquinha para economizar combustível, ganha a solidariedade dos vizinhos e principalmente da colega Talia, vivida pela bela Gugu Mbatha-Raw. Com o pequeno encontro no estacionamento da faculdade e reconhecimento na sala de aula, ela já se torna a melhor amiga de Larry, arrumando sua casa, dando-lhe roupas novas e enturmando ele em seu grupo de amigos. Uma verdadeira fada madrinha.
Em contrapartida, nada parece dar certo para personagem de Julia Roberts. A professora Mercedes Tainot está completamente desanimada com a vida. Seu marido finge trabalhar em casa enquanto visita sites pornográficos e suas turmas de alunos quase nunca podem existir por não ter o número mínimo de alunos. É certo que Oratória 217 e Shakespeare Político não são tão atrativos quando Economia 1 com Dr. Matsutani e seu método infalível. Aliás, George Takei está ótimo como o assustador professor. É interessante a forma como Hanks compara as duas aulas, enquanto a de Roberts tem apenas 10 alunos em uma sala simples, as de Takei estão lotadas naquelas salas amplas estilo arquibancada com cadeiras geminadas, um reflexo do interesse do país.
A direção é cuidadosa, construindo bons jogos de enquadramento que revelam aos poucos as situações. Como na apresentação da personagem de Julia Roberts, que primeiro aparece uma mão colocando os saltos no chão, depois seus pés, para finalmente expor toda a personagem. A forma desleixada de Mercedes Tainot andar já demonstra sua insatisfação com a vida. A conversa na sala dos professores é apenas para reforçar isso. A câmera acompanha seu olhar sob a sala com apenas nove alunos e, enquanto ela se prepara para cancelar a turma, chega Larry Crowne. Nada precisa ser dito para percebermos que a personagem não gostou daquela situação.
Aliás, muitas vezes Hanks prefere conduzir sua história com gestos e jogos de imagens, o que é interessante. A situação com o celular nas aulas de George Takei são outro exemplo de boa construção de imagens. A primeira vez é explícita, a segunda há um jogo interessante de som e imagem com apenas a mão do personagem entrando em quadro e depois, apenas os vários celulares em cima da mesa do professor. Em outro momento, o olho mágico é utilizado como um recurso interessante de construção de situação engraçada e ao mesmo tempo que passa uma mensagem exata do que o personagem está sentindo. Hanks só falha ao ser literal colocando Julia Roberts em uma cena de óculos escuro para demonstrar sua ressaca real e moral. A atriz perdeu ali a única chance de uma interpretação mais expressiva nessa obra.
Porque, no geral, Larry Crowne – O amor está de volta não tem muito o que ser trabalhado em relação a interpretação. O próprio Tom Hanks, vencedor de três Oscars, tem momentos lamentáveis. Lembra Forrest Gump sendo que Larry não deveria ter nenhum retardamento mental. Quem acaba roubando a cena é mesmo George Takei, alívio cômico do filme. Suas caras e bocas se tornam divertidas de tão tolas em uma verdadeira brincadeira descompromissada. E ainda tem um paralelo na aula de oratória com um personagem vestido de trekker defendendo a série clássica que imortalizou o ator. E, claro, que não podia faltar a provocação com os fãs de Star Wars.
Larry Crowne – O amor está de volta é um filme divertido, leve, para toda a família. Assim mesmo, um grande clichê com espírito de conto de fadas, só que sem bruxa má. O cavaleiro motorizado só precisa de tempo para conquistar sua princesa com uma ajuda imensa de sua fada madrinha.
Larry Crowne – O amor está de volta (Larry Crowne: 2011 /EUA)
Direção: Tom Hanks
Roteiro: Tom Hanks e Nia Vardalos
Com: Tom Hanks, Julia Roberts, Bryan Cranston, Rami Malek.
Duração: 99 min
Tudo começa quando o exemplar funcionário de uma rede de supermercados é demitido com a desculpa de que não tem curso superior. "Nós nunca poderemos te promover, como o lema da empresa é oportunidades iguais, você está fora". Algo assim é dito a Larry Crowne. Ele resolve, então, se matricular em uma faculdade e recomeçar sua vida. No curso de oratória, ele se encanta pela professora e no de economia ele conhece uma garota que ajuda a mudar sua vida. Ele entra para "gangue" de moto dela e aprende que é possível viver qualquer coisa de forma mais leve.
O roteiro do próprio Tom Hanks em parceria com Nia Vardalos é um conjunto de fatores fadados a dar certo. Não existe necessariamente um conflito para o personagem. Ele perde o emprego, é certo. Mas, facilmente se matricula na faculdade, compra uma motoquinha para economizar combustível, ganha a solidariedade dos vizinhos e principalmente da colega Talia, vivida pela bela Gugu Mbatha-Raw. Com o pequeno encontro no estacionamento da faculdade e reconhecimento na sala de aula, ela já se torna a melhor amiga de Larry, arrumando sua casa, dando-lhe roupas novas e enturmando ele em seu grupo de amigos. Uma verdadeira fada madrinha.
Em contrapartida, nada parece dar certo para personagem de Julia Roberts. A professora Mercedes Tainot está completamente desanimada com a vida. Seu marido finge trabalhar em casa enquanto visita sites pornográficos e suas turmas de alunos quase nunca podem existir por não ter o número mínimo de alunos. É certo que Oratória 217 e Shakespeare Político não são tão atrativos quando Economia 1 com Dr. Matsutani e seu método infalível. Aliás, George Takei está ótimo como o assustador professor. É interessante a forma como Hanks compara as duas aulas, enquanto a de Roberts tem apenas 10 alunos em uma sala simples, as de Takei estão lotadas naquelas salas amplas estilo arquibancada com cadeiras geminadas, um reflexo do interesse do país.
A direção é cuidadosa, construindo bons jogos de enquadramento que revelam aos poucos as situações. Como na apresentação da personagem de Julia Roberts, que primeiro aparece uma mão colocando os saltos no chão, depois seus pés, para finalmente expor toda a personagem. A forma desleixada de Mercedes Tainot andar já demonstra sua insatisfação com a vida. A conversa na sala dos professores é apenas para reforçar isso. A câmera acompanha seu olhar sob a sala com apenas nove alunos e, enquanto ela se prepara para cancelar a turma, chega Larry Crowne. Nada precisa ser dito para percebermos que a personagem não gostou daquela situação.
Aliás, muitas vezes Hanks prefere conduzir sua história com gestos e jogos de imagens, o que é interessante. A situação com o celular nas aulas de George Takei são outro exemplo de boa construção de imagens. A primeira vez é explícita, a segunda há um jogo interessante de som e imagem com apenas a mão do personagem entrando em quadro e depois, apenas os vários celulares em cima da mesa do professor. Em outro momento, o olho mágico é utilizado como um recurso interessante de construção de situação engraçada e ao mesmo tempo que passa uma mensagem exata do que o personagem está sentindo. Hanks só falha ao ser literal colocando Julia Roberts em uma cena de óculos escuro para demonstrar sua ressaca real e moral. A atriz perdeu ali a única chance de uma interpretação mais expressiva nessa obra.
Porque, no geral, Larry Crowne – O amor está de volta não tem muito o que ser trabalhado em relação a interpretação. O próprio Tom Hanks, vencedor de três Oscars, tem momentos lamentáveis. Lembra Forrest Gump sendo que Larry não deveria ter nenhum retardamento mental. Quem acaba roubando a cena é mesmo George Takei, alívio cômico do filme. Suas caras e bocas se tornam divertidas de tão tolas em uma verdadeira brincadeira descompromissada. E ainda tem um paralelo na aula de oratória com um personagem vestido de trekker defendendo a série clássica que imortalizou o ator. E, claro, que não podia faltar a provocação com os fãs de Star Wars.
Larry Crowne – O amor está de volta é um filme divertido, leve, para toda a família. Assim mesmo, um grande clichê com espírito de conto de fadas, só que sem bruxa má. O cavaleiro motorizado só precisa de tempo para conquistar sua princesa com uma ajuda imensa de sua fada madrinha.
Larry Crowne – O amor está de volta (Larry Crowne: 2011 /EUA)
Direção: Tom Hanks
Roteiro: Tom Hanks e Nia Vardalos
Com: Tom Hanks, Julia Roberts, Bryan Cranston, Rami Malek.
Duração: 99 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Larry Crowne – O amor está de volta
2011-09-06T08:38:00-03:00
Amanda Aouad
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