The Runaways - Garotas do Rock
Em um mundo machista e patriarcal, a história da mulher sempre foi construída em cima de quebras de tabus. Foi assim que Joan Jett viveu seus primeiros anos de vida. Apaixonada por Rock 'N Roll e com o sonho de montar sua própria banda apenas de mulheres, ela passou por cima de muito preconceito a começar pelo professor de guitarra que sentenciou: mulheres não tocam guitarra elétrica. Apenas quando encontra o empresário Kim Fowley, o sonho começa a tomar forma e surge The Runaways, um grupo que fez sucesso de 1975 a 1979 e mexeu com o cenário mundial do rock.
Produzido pela própria Joan Jett, o filme, no Brasil intitulado Garotas do Rock, dirigido e roteirizado por Flora Sigismondi, tem inspiração no livro de Cherrie Currie, e aí está o tom do longametragem. The Runaways não conta exatamente a história do grupo e sim, das duas garotas nele, as demais integrantes são praticamente figurantes da obra audiovisual, e isso fica claro desde o princípio quando acompanhamos a trajetória de Cherrie Currie, vivida por Dakota Fanning, e Joan Jett, interpretada por Kristen Stewart, até a formação da banda. Mesclando momentos da vida das duas artistas, o filme vai nos conduzindo ao encontro inevitável, depois, seguimos a trajetória de ensaios, primeiros passos e turnês de sucesso, sempre pela ótica das duas.
Isso, necessariamente, não chega a ser um problema de roteiro. Elas eram mesmo as líderes do The Runaways e a história flui de uma maneira condizente. É interessante ver Cherrie Currie como uma espécie de ovelha negra, tentando encontrar aceitação em um meio que não parece o seu e sempre negar o fracasso. Isso fica claro ao ser vaiada na escola por uma performance cover de David Bowie e alegar que ganhou o prêmio, por exemplo. Ao mesmo tempo em que acompanhamos Joan Jett tentando impor seu estilo Rock 'N Roll, seja comprando roupas masculinas ou tentando aprender guitarra. A baterista Sandy West ainda tem uma pequena apresentação na porta da boate, mas as demais, principalmente a baixista Jackie Fox que teve inclusive seu nome mudado para Robin por problemas de direitos autorais, já surgem na banda sem apresentações.
Apesar de alguns percalços, Flora Sigismondi consegue conduzir bem esta cinebiografia. Há bons momentos na obra, principalmente em sua parte inicial até a formação da banda, quando direção e roteiro consegue construir o interesse pela história e a empatia pelas personagens sem ser muito didáticos. A partir do momento em The Runaways começa a cair na estrada, no entanto, o filme caí no clichê de exagerar nos momentos clipados com várias músicas da banda em uma mistura de cenas diversas como shows, ensaios, viagens, etc. Isso sem falar na exposição de várias manchetes de jornais e revistas demonstrando o sucesso da banda. A turnê no Japão, no entanto, é bem desenvolvida, com boas cenas de histeria do público e situações colocadas de forma orgânica.
Flora Sigismondi consegue se destacar ainda na construção cuidadosa da relação entre Joan Jett e Cherrie Currie. A cena no gelo, por exemplo, é muito bem executada, de bom gosto, com uma direção e uma fotografia que dão sensualidade, mistério e até mesmo uma certa pureza. A forma como ela constrói a curva da relação das duas que culmina na briga no estúdio é muito bem feita. Currie abrindo a porta e deixando a luz entrar quase cegando Jett e a nós, simboliza bem a ruptura do momento. As duas atrizes também merecem elogios, Dakota Fanning mais do que Kristen Stewart, é verdade. Mas, apesar de uma certa expressão apática que persegue a atriz, Stewart consegue encarnar bem o estilo de Jett, em uma dose masculinizada, tímida e ao mesmo tempo agressiva que nos convence da estrela do rock que interpreta. Porém, Fanning nos surpreende com um amadurecimento impressionante de sua Currie, não apenas pela explosão no palco, ou cenas de excesso de drogas, mas, principalmente pela atitude subversiva demonstrada desde o princípio.
The Runaways - Garotas do Rock é um filme que cumpre o papel a que se propõe. Constrói o mito em torno de duas artistas que brilharam, brigaram e seguiram rumos diferentes. Joan Jett até hoje segue em sua carreira de sucesso, enquanto Cherrie Currie foi praticamente esquecida. Peca em não construir um roteiro melhor amarrado para nos envolver no drama das personagens. E talvez, para os fãs de The Runaways, peca por não falar verdadeiramente do grupo. Seria como fazer um filme dos Beatles e falar apenas de John e Paul. Mas, como disse, apesar do título, o propósito claramente não era esse, vide o cartaz do filme.
Garotas do Rock (The Runaways: 2010 / EUA)
Direção: Flora Sigismondi
Roteiro: Floria Sigismondi
Com: Kristen Stewart, Dakota Fanning, Michael Shannon, Scout Taylor-Compton.
Duração: 106 min.
Produzido pela própria Joan Jett, o filme, no Brasil intitulado Garotas do Rock, dirigido e roteirizado por Flora Sigismondi, tem inspiração no livro de Cherrie Currie, e aí está o tom do longametragem. The Runaways não conta exatamente a história do grupo e sim, das duas garotas nele, as demais integrantes são praticamente figurantes da obra audiovisual, e isso fica claro desde o princípio quando acompanhamos a trajetória de Cherrie Currie, vivida por Dakota Fanning, e Joan Jett, interpretada por Kristen Stewart, até a formação da banda. Mesclando momentos da vida das duas artistas, o filme vai nos conduzindo ao encontro inevitável, depois, seguimos a trajetória de ensaios, primeiros passos e turnês de sucesso, sempre pela ótica das duas.
Isso, necessariamente, não chega a ser um problema de roteiro. Elas eram mesmo as líderes do The Runaways e a história flui de uma maneira condizente. É interessante ver Cherrie Currie como uma espécie de ovelha negra, tentando encontrar aceitação em um meio que não parece o seu e sempre negar o fracasso. Isso fica claro ao ser vaiada na escola por uma performance cover de David Bowie e alegar que ganhou o prêmio, por exemplo. Ao mesmo tempo em que acompanhamos Joan Jett tentando impor seu estilo Rock 'N Roll, seja comprando roupas masculinas ou tentando aprender guitarra. A baterista Sandy West ainda tem uma pequena apresentação na porta da boate, mas as demais, principalmente a baixista Jackie Fox que teve inclusive seu nome mudado para Robin por problemas de direitos autorais, já surgem na banda sem apresentações.
Apesar de alguns percalços, Flora Sigismondi consegue conduzir bem esta cinebiografia. Há bons momentos na obra, principalmente em sua parte inicial até a formação da banda, quando direção e roteiro consegue construir o interesse pela história e a empatia pelas personagens sem ser muito didáticos. A partir do momento em The Runaways começa a cair na estrada, no entanto, o filme caí no clichê de exagerar nos momentos clipados com várias músicas da banda em uma mistura de cenas diversas como shows, ensaios, viagens, etc. Isso sem falar na exposição de várias manchetes de jornais e revistas demonstrando o sucesso da banda. A turnê no Japão, no entanto, é bem desenvolvida, com boas cenas de histeria do público e situações colocadas de forma orgânica.
Flora Sigismondi consegue se destacar ainda na construção cuidadosa da relação entre Joan Jett e Cherrie Currie. A cena no gelo, por exemplo, é muito bem executada, de bom gosto, com uma direção e uma fotografia que dão sensualidade, mistério e até mesmo uma certa pureza. A forma como ela constrói a curva da relação das duas que culmina na briga no estúdio é muito bem feita. Currie abrindo a porta e deixando a luz entrar quase cegando Jett e a nós, simboliza bem a ruptura do momento. As duas atrizes também merecem elogios, Dakota Fanning mais do que Kristen Stewart, é verdade. Mas, apesar de uma certa expressão apática que persegue a atriz, Stewart consegue encarnar bem o estilo de Jett, em uma dose masculinizada, tímida e ao mesmo tempo agressiva que nos convence da estrela do rock que interpreta. Porém, Fanning nos surpreende com um amadurecimento impressionante de sua Currie, não apenas pela explosão no palco, ou cenas de excesso de drogas, mas, principalmente pela atitude subversiva demonstrada desde o princípio.
The Runaways - Garotas do Rock é um filme que cumpre o papel a que se propõe. Constrói o mito em torno de duas artistas que brilharam, brigaram e seguiram rumos diferentes. Joan Jett até hoje segue em sua carreira de sucesso, enquanto Cherrie Currie foi praticamente esquecida. Peca em não construir um roteiro melhor amarrado para nos envolver no drama das personagens. E talvez, para os fãs de The Runaways, peca por não falar verdadeiramente do grupo. Seria como fazer um filme dos Beatles e falar apenas de John e Paul. Mas, como disse, apesar do título, o propósito claramente não era esse, vide o cartaz do filme.
Garotas do Rock (The Runaways: 2010 / EUA)
Direção: Flora Sigismondi
Roteiro: Floria Sigismondi
Com: Kristen Stewart, Dakota Fanning, Michael Shannon, Scout Taylor-Compton.
Duração: 106 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
The Runaways - Garotas do Rock
2011-09-27T08:39:00-03:00
Amanda Aouad
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