A Casa dos Sonhos
A Casa dos Sonhos é um suspense psicológico que tinha tudo para ser uma obra-prima. A começar pela direção de Jim Sheridan, que tem no currículo pérolas como Em nome do pai, Meu Pé Esquerdo ou O Lutador. Além do bom elenco encabeçado por Daniel Craig, Naomi Watts e Rachel Weisz. Não deixa de ser um filme interessante, principalmente em sua primeira parte, mas parece que algo se perde no terceiro ato, tornando a resolução um exagero de clichês, maniqueísmos e emoções exarcebadas.
Difícil falar da história sem entregar algumas pistas sobre o mistério que Jim Sheridan e o roteirista David Loucka se apegam com tanto afinco. Uma parte dele, o próprio trailer já entregou, o que é uma pena, pois é interessante o exercício de se deixar levar pela curva dramática criada. Tudo gira em torno de Will Atenton, um editor que larga a profissão para se dedicar mais à família, em uma bela casa no campo. O problema é que coisas estranhas começam a acontecer perturbando a paz familiar. Sons à noite, grupo de góticos fazendo reunião no porão, vulto vigiando a casa e uma certa hostilidade da vizinhança. Logo Will irá descobrir que ali houve um assassinato brutal no passado e ao investigar irá descobrir revelações bem mais perturbadoras.
Sem querer falar mais da trama, vamos nos concentrar na estrutura fílmica de A Casa dos Sonhos. Como um bom suspense, há aqui um abuso de sombras, muitas das cenas são à noite e a casa constrói um espaço fechado perfeito para deixar os personagens vulneráveis. Há um jogo de imagens e sons que nos deixam com a atenção suspensa durante toda a primeira parte, quando as pistas ainda estão muito soltas e pouco sabemos do que está acontecendo ali de fato. O perigo real não está claro, mas as pistas vão sendo entregues desde a cena inicial ainda na editora. Após a primeira virada, e consequente revelação, o tom se reverte, não é mais o medo, mas a curiosidade que impulsiona o espectador.
É interessante perceber que o suspense não some no momento em que temos a primeira revelação. Há ainda muita coisa a ser explicada, o tom de perigo iminente ainda é real, ainda tememos pela vida dos protagonistas e o efeito de tensão ainda é o principal combustível para construção das cenas. Mas, como já foi dito, agora a curiosidade é mais forte. Como detetives desenrolando um novelo, vamos acompanhando a investigação de Will, suas dúvidas, sua falta de noção do que pode ser ou não realidade. O tom psicológico toma conta do roteiro. Isso sem falar de uma certa dose de sobrenatural, que acaba sendo bem resolvida.
Mas, é bom deixar claro que A Casa dos Sonhos não é um filme de terror como alguns podem suspeitar. Um ou dois sustos acontecem, mas nada que possa colocá-lo no gênero. O suspense psicológico é construído para conduzir o espectador no drama daquele personagem. A empatia é criada e tememos de fato por sua sorte. Queremos que ele consiga resolver tudo e ficar bem, apesar de em determinado momento não nos reste muitas esperanças em relação ao seu futuro. A segunda virada do filme é que acaba por comprometer o que vinha vendo uma ótima condução até então. Não exatamente pelas revelações, pela resposta que esperávamos, mas pela forma como tudo é construído. O exagero das cenas finais, o maniqueísmo de determinados personagens, a grandiosidade do clímax nos deixa uma sensação de "não precisava". Isso sem falar na sensação de que o filme não foi terminado, mas abandonado em determinado ponto.
Daniel Craig, no entanto, merece ser elogiado. Não é fácil construir tantas nuanças em um mesmo persoangem, desde o distante editor do início, o pai amoroso e marido apaixonado até o homem atormentado a medida que as revelações vão acontecendo. Sua esposa Rachel Weisz também está muito bem em cena, dando veracidade a sua personagem tão complexa, já Naomi Watts poderia ser melhor, mas não compromete a história. É preciso destacar também as duas crianças que vivem as filhas do casal, Taylor Geare e Claire Geare, que são irmãs na vida real, estão extremamente naturais. Conseguem alternar entre o medo e felicidade com uma facilidade incrível. E quando lhes é exigido uma carga dramática maior em determinado ponto chave da trama, elas dão conta do recado.
A Casa dos Sonhos acaba tendo um saldo positivo. Tem problemas e bons momentos, consegue nos envolver em sua história e construir o efeito de suspense necessário. Uma pena é saber que Jim Sheridan poderia ter nos oferecido muito mais, principalmente na parte final da trama.
A Casa dos Sonhos (Dream House: 2011 / EUA)
Direção: Jim Sheridan
Roteiro: David Loucka
Com: Daniel Craig, Naomi Watts, Rachel Weisz, Elias Koteas.
Duração: 92 min.
Difícil falar da história sem entregar algumas pistas sobre o mistério que Jim Sheridan e o roteirista David Loucka se apegam com tanto afinco. Uma parte dele, o próprio trailer já entregou, o que é uma pena, pois é interessante o exercício de se deixar levar pela curva dramática criada. Tudo gira em torno de Will Atenton, um editor que larga a profissão para se dedicar mais à família, em uma bela casa no campo. O problema é que coisas estranhas começam a acontecer perturbando a paz familiar. Sons à noite, grupo de góticos fazendo reunião no porão, vulto vigiando a casa e uma certa hostilidade da vizinhança. Logo Will irá descobrir que ali houve um assassinato brutal no passado e ao investigar irá descobrir revelações bem mais perturbadoras.
Sem querer falar mais da trama, vamos nos concentrar na estrutura fílmica de A Casa dos Sonhos. Como um bom suspense, há aqui um abuso de sombras, muitas das cenas são à noite e a casa constrói um espaço fechado perfeito para deixar os personagens vulneráveis. Há um jogo de imagens e sons que nos deixam com a atenção suspensa durante toda a primeira parte, quando as pistas ainda estão muito soltas e pouco sabemos do que está acontecendo ali de fato. O perigo real não está claro, mas as pistas vão sendo entregues desde a cena inicial ainda na editora. Após a primeira virada, e consequente revelação, o tom se reverte, não é mais o medo, mas a curiosidade que impulsiona o espectador.
É interessante perceber que o suspense não some no momento em que temos a primeira revelação. Há ainda muita coisa a ser explicada, o tom de perigo iminente ainda é real, ainda tememos pela vida dos protagonistas e o efeito de tensão ainda é o principal combustível para construção das cenas. Mas, como já foi dito, agora a curiosidade é mais forte. Como detetives desenrolando um novelo, vamos acompanhando a investigação de Will, suas dúvidas, sua falta de noção do que pode ser ou não realidade. O tom psicológico toma conta do roteiro. Isso sem falar de uma certa dose de sobrenatural, que acaba sendo bem resolvida.
Mas, é bom deixar claro que A Casa dos Sonhos não é um filme de terror como alguns podem suspeitar. Um ou dois sustos acontecem, mas nada que possa colocá-lo no gênero. O suspense psicológico é construído para conduzir o espectador no drama daquele personagem. A empatia é criada e tememos de fato por sua sorte. Queremos que ele consiga resolver tudo e ficar bem, apesar de em determinado momento não nos reste muitas esperanças em relação ao seu futuro. A segunda virada do filme é que acaba por comprometer o que vinha vendo uma ótima condução até então. Não exatamente pelas revelações, pela resposta que esperávamos, mas pela forma como tudo é construído. O exagero das cenas finais, o maniqueísmo de determinados personagens, a grandiosidade do clímax nos deixa uma sensação de "não precisava". Isso sem falar na sensação de que o filme não foi terminado, mas abandonado em determinado ponto.
Daniel Craig, no entanto, merece ser elogiado. Não é fácil construir tantas nuanças em um mesmo persoangem, desde o distante editor do início, o pai amoroso e marido apaixonado até o homem atormentado a medida que as revelações vão acontecendo. Sua esposa Rachel Weisz também está muito bem em cena, dando veracidade a sua personagem tão complexa, já Naomi Watts poderia ser melhor, mas não compromete a história. É preciso destacar também as duas crianças que vivem as filhas do casal, Taylor Geare e Claire Geare, que são irmãs na vida real, estão extremamente naturais. Conseguem alternar entre o medo e felicidade com uma facilidade incrível. E quando lhes é exigido uma carga dramática maior em determinado ponto chave da trama, elas dão conta do recado.
A Casa dos Sonhos acaba tendo um saldo positivo. Tem problemas e bons momentos, consegue nos envolver em sua história e construir o efeito de suspense necessário. Uma pena é saber que Jim Sheridan poderia ter nos oferecido muito mais, principalmente na parte final da trama.
A Casa dos Sonhos (Dream House: 2011 / EUA)
Direção: Jim Sheridan
Roteiro: David Loucka
Com: Daniel Craig, Naomi Watts, Rachel Weisz, Elias Koteas.
Duração: 92 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Casa dos Sonhos
2011-11-02T13:08:00-02:00
Amanda Aouad
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