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Entrevista com o Vampiro
Entrevista com o Vampiro
Com roteiro da própria Anne Rice, Neil Jordan trouxe aos cinemas em 1994 o que considero o melhor filme de vampiro já feito. Não que Francis Ford Coppola tenha feito algo ruim com seu Drácula de Bram Stoker, muito pelo contrário, assim como tantos outros desde Noferatu de F. W. Murnau. Mas, Entrevista com o Vampiro parece a maturidade dos sanguessugas cinematográficos. Forte, intenso, com boas interpretações e uma direção cuidada, encanta a quem assiste independente de idade.
Aqui acompanhamos a história de Louis desde que ele nasceu para escuridão como define ao entrevistador Daniel Malloy vivido por Christian Slater. Através de sua entrevista, vamos conhecendo a alma do vampiro que se sente culpado por ter que matar. Sim, por que ao contrário dos demais de sua espécie, Louis conserva sua alma humana, com todas as suas paixões, desejos e culpas. Assim, se constrói uma espécie de fascínio em Lestat e depois em Armando, para não falar da pequena víbora Cláudia. Através dos olhos perdidos de Louis vamos sendo apresentados ao mundo imaginado por Anne Rice, um mundo de sombras nos becos das cidades. Aqui não há ainda muita explicação para a origem dos vampiros, que ela só irá aprofundar depois, até porque Louis não sabe muito sobre isso. Ele só sabe que se tornou um monstro que não pode mais ver a luz do sol e precisa de sangue para se manter em pé.
O início de Entrevista com o Vampiro já é impactante em seus detalhes. Começa com uma tomada aérea noturna com a bela trilha de Elliot Goldenthal nos ambientando com o clima do filme. Somos então levados até um quarto simples, onde seremos apresentados a Louis, Brad Pitt em ótima performance, de uma maneira incrivelmente bem cuidada. Ele está de costas para Christian Slater, olhando a rua, a sala está na penumbra, a voz dele apenas com o entrevistador em destaque. Só então, ele anuncia que acenderá a luz e vemos seu rosto fantasmagórico. Isso sem falar no texto que dá sempre a sensação de algo especial, com um tom ácido, sarcástico. "Como devo começar, igual a David Copperfield? Eu nasci, cresci? Ou quando eu nasci para a escuridão como eu chamo?" Tudo se encaixa como uma orquestra.
O flashback que nos leva ao século XVIII nos leva também a Lestat e aí reside o grande jogo criado por Anne Rice, o contraste de visões de mundo. Não é exatamente a dicotomia Bem vs Mal, é bom deixar claro. Aos nossos olhos, Lestat parece mesmo um ser tenebroso, até porque somos apresentados a ele por Louis. Mas, o vampiro é apenas um retrato de sua própria natureza. Em determinado momento, Lestat questiona a Louis "o que é o mal?" Para ele, suas atitudes são apenas reflexo do que tem de ser, não há culpas, nem julgamentos. "Deus também mata aleatoriamente", diz ele e ainda completa "não há ninguém como ele, assim como não há ninguém como nós." Compreendendo a mitologia em que se baseia Anne Rice, de que os vampiros são filhos de Lilith, a primeira mulher expulsa do paraíso por não aceitar ser submissa a Adão, tudo faz ainda mais sentido. Não existe aqui a culpa do pecado original. Há sim, uma busca por liberdade plena.
De certa forma, Louis e Lestat se completam, mesmo que em meio ao desespero do primeiro que não consegue aceitar sua natureza. O equilíbrio acaba quando entra em cena Cláudia, a pequena orfão mordida por Louis que Lestat transforma em vampiro dando assim "vida" a um monstro. Cláudia é a garotinha com ar angelical, cabelinhos enrolados, roupinhas de boneca. Mas, o tempo é sempre cruel com a melhor das criaturas, e ela se torna uma mulher presa em um corpo infantil. Tem a malícia e os desejos de uma mulher egoísta que foi criada com todos os mimos, mas engana por suas feições. Cláudia se torna a mais perversa das criaturas e conduz Louis em sua trajetória de traição, castigo, redenção e eterna culpa com o que vai acontecendo a partir de então.
Como um bom filme de vampiro, boa parte das cenas é feita a noite. Neil Jordan e o diretor de fotografia Philippe Rousselot podem então, abusar das sombras, do efeito da vela, das tempestades escuras para ajudar na construção da narrativa. Os detalhes são explorados, os cenários são ricos, tudo nos transporta para aquele mundo irreal e fascinante, apesar de assustador. Quando Louis e Cláudia vão para Europa o clima sombrio se mantêm com as ruas desertas e pouco iluminadas, os becos escuros e as lojas visitadas apenas pela noite. Mas, há também novidades como a trupe de teatro e sua morada propícia para vampiros. E claro, Armando, um vislumbre de mestre que Louis sempre sonhou que pudesse talvez lhe explicar o que seja tudo aquilo. Mas, é aí também que ele perderá parte de sua alma.
Outro ponto fundamental para o sucesso de Entrevista com o Vampiro é o elenco. Mesmo com todos os protestos de Anne Rice, Tom Cruise encarnou um Lestat digno de qualquer livro da autora. Sedutor, forte, envolvente e ao mesmo tempo assustador. O ator já vinha querendo dar outro rumo a sua carreira, afastando a imagem de galã adolescente em filmes como Nascido em 4 de julho (1989) e Questão de Honra (1992), mas foi aqui que provou que tinha talento para ser um ator acima de qualquer suspeita. Já Brad Pitt, apesar da beleza e alguns papéis românticos, parece nunca ter tido seu talento questionado e como Louis também conseguiu dar o seu recado. Completando o time de ídolos femininos temos a beleza latina de Antonio Banderas com um Armando enigmático. Apenas como curiosidade, River Phoenix estava escalado para ser o entrevistador, mas sua morte prematura deu espaço para Christian Slater que doou seu cachê para uma instituição de caridade. Essa curiosidade é apenas para apontar o quão empenhados os produtores estavam em atrair o público feminino para um filme onde o universo parecia mesmo atrair aos homens seja por estética ou temática. Destaque ainda para Kirsten Dunst, ainda criança, que conseguiu até hoje a melhor interpretação de sua carreira como a assustadora Cláudia.
Por tudo isso, Entrevista com o Vampiro é daqueles filmes que impressionam e ficam em nossa memória. Daria espaço para análises diversas. Uma pena que tamanho cuidado e apuro no texto e universo criado não teve continuidade. O segundo livro, O Vampiro Lestat que explica muito da mitologia da autora nunca chegou aos cinemas e o terceiro, A Rainha dos Condenados teve uma adaptação lamentável em 2002.
Entrevista com o Vampiro (The Vampire Chronicles: 1994 / EUA)
Direção: Neil Jordan
Roteiro: Anne Rice
Com: Tom Cruise, Brad Pitt, Antonio Banderas, Kirsten Dunst, Stephen Rea.
Duração: 122 min.
Aqui acompanhamos a história de Louis desde que ele nasceu para escuridão como define ao entrevistador Daniel Malloy vivido por Christian Slater. Através de sua entrevista, vamos conhecendo a alma do vampiro que se sente culpado por ter que matar. Sim, por que ao contrário dos demais de sua espécie, Louis conserva sua alma humana, com todas as suas paixões, desejos e culpas. Assim, se constrói uma espécie de fascínio em Lestat e depois em Armando, para não falar da pequena víbora Cláudia. Através dos olhos perdidos de Louis vamos sendo apresentados ao mundo imaginado por Anne Rice, um mundo de sombras nos becos das cidades. Aqui não há ainda muita explicação para a origem dos vampiros, que ela só irá aprofundar depois, até porque Louis não sabe muito sobre isso. Ele só sabe que se tornou um monstro que não pode mais ver a luz do sol e precisa de sangue para se manter em pé.
O início de Entrevista com o Vampiro já é impactante em seus detalhes. Começa com uma tomada aérea noturna com a bela trilha de Elliot Goldenthal nos ambientando com o clima do filme. Somos então levados até um quarto simples, onde seremos apresentados a Louis, Brad Pitt em ótima performance, de uma maneira incrivelmente bem cuidada. Ele está de costas para Christian Slater, olhando a rua, a sala está na penumbra, a voz dele apenas com o entrevistador em destaque. Só então, ele anuncia que acenderá a luz e vemos seu rosto fantasmagórico. Isso sem falar no texto que dá sempre a sensação de algo especial, com um tom ácido, sarcástico. "Como devo começar, igual a David Copperfield? Eu nasci, cresci? Ou quando eu nasci para a escuridão como eu chamo?" Tudo se encaixa como uma orquestra.
O flashback que nos leva ao século XVIII nos leva também a Lestat e aí reside o grande jogo criado por Anne Rice, o contraste de visões de mundo. Não é exatamente a dicotomia Bem vs Mal, é bom deixar claro. Aos nossos olhos, Lestat parece mesmo um ser tenebroso, até porque somos apresentados a ele por Louis. Mas, o vampiro é apenas um retrato de sua própria natureza. Em determinado momento, Lestat questiona a Louis "o que é o mal?" Para ele, suas atitudes são apenas reflexo do que tem de ser, não há culpas, nem julgamentos. "Deus também mata aleatoriamente", diz ele e ainda completa "não há ninguém como ele, assim como não há ninguém como nós." Compreendendo a mitologia em que se baseia Anne Rice, de que os vampiros são filhos de Lilith, a primeira mulher expulsa do paraíso por não aceitar ser submissa a Adão, tudo faz ainda mais sentido. Não existe aqui a culpa do pecado original. Há sim, uma busca por liberdade plena.
De certa forma, Louis e Lestat se completam, mesmo que em meio ao desespero do primeiro que não consegue aceitar sua natureza. O equilíbrio acaba quando entra em cena Cláudia, a pequena orfão mordida por Louis que Lestat transforma em vampiro dando assim "vida" a um monstro. Cláudia é a garotinha com ar angelical, cabelinhos enrolados, roupinhas de boneca. Mas, o tempo é sempre cruel com a melhor das criaturas, e ela se torna uma mulher presa em um corpo infantil. Tem a malícia e os desejos de uma mulher egoísta que foi criada com todos os mimos, mas engana por suas feições. Cláudia se torna a mais perversa das criaturas e conduz Louis em sua trajetória de traição, castigo, redenção e eterna culpa com o que vai acontecendo a partir de então.
Como um bom filme de vampiro, boa parte das cenas é feita a noite. Neil Jordan e o diretor de fotografia Philippe Rousselot podem então, abusar das sombras, do efeito da vela, das tempestades escuras para ajudar na construção da narrativa. Os detalhes são explorados, os cenários são ricos, tudo nos transporta para aquele mundo irreal e fascinante, apesar de assustador. Quando Louis e Cláudia vão para Europa o clima sombrio se mantêm com as ruas desertas e pouco iluminadas, os becos escuros e as lojas visitadas apenas pela noite. Mas, há também novidades como a trupe de teatro e sua morada propícia para vampiros. E claro, Armando, um vislumbre de mestre que Louis sempre sonhou que pudesse talvez lhe explicar o que seja tudo aquilo. Mas, é aí também que ele perderá parte de sua alma.
Outro ponto fundamental para o sucesso de Entrevista com o Vampiro é o elenco. Mesmo com todos os protestos de Anne Rice, Tom Cruise encarnou um Lestat digno de qualquer livro da autora. Sedutor, forte, envolvente e ao mesmo tempo assustador. O ator já vinha querendo dar outro rumo a sua carreira, afastando a imagem de galã adolescente em filmes como Nascido em 4 de julho (1989) e Questão de Honra (1992), mas foi aqui que provou que tinha talento para ser um ator acima de qualquer suspeita. Já Brad Pitt, apesar da beleza e alguns papéis românticos, parece nunca ter tido seu talento questionado e como Louis também conseguiu dar o seu recado. Completando o time de ídolos femininos temos a beleza latina de Antonio Banderas com um Armando enigmático. Apenas como curiosidade, River Phoenix estava escalado para ser o entrevistador, mas sua morte prematura deu espaço para Christian Slater que doou seu cachê para uma instituição de caridade. Essa curiosidade é apenas para apontar o quão empenhados os produtores estavam em atrair o público feminino para um filme onde o universo parecia mesmo atrair aos homens seja por estética ou temática. Destaque ainda para Kirsten Dunst, ainda criança, que conseguiu até hoje a melhor interpretação de sua carreira como a assustadora Cláudia.
Por tudo isso, Entrevista com o Vampiro é daqueles filmes que impressionam e ficam em nossa memória. Daria espaço para análises diversas. Uma pena que tamanho cuidado e apuro no texto e universo criado não teve continuidade. O segundo livro, O Vampiro Lestat que explica muito da mitologia da autora nunca chegou aos cinemas e o terceiro, A Rainha dos Condenados teve uma adaptação lamentável em 2002.
Entrevista com o Vampiro (The Vampire Chronicles: 1994 / EUA)
Direção: Neil Jordan
Roteiro: Anne Rice
Com: Tom Cruise, Brad Pitt, Antonio Banderas, Kirsten Dunst, Stephen Rea.
Duração: 122 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Entrevista com o Vampiro
2011-11-12T10:03:00-02:00
Amanda Aouad
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