Originária do grego (melos + drama), o
melodrama surgiu oficialmente em 1800, baseado nos espetáculos de feira e
pantomima que mesclavam elementos da
tragédia e da
comédia com música (OROZ, 1992). Posteriormente, ele inspirou o
romance folhetim, histórias melosas publicadas nos jornais, destinadas ao público feminino, construindo no senso comum a ideia de que o gênero era destinado apenas à esse público. Hoje o
melodrama, também conhecido como
drama sentimental, é o gênero dominante nos filmes comerciais, principalmente dos grandes estúdios dos Estados Unidos.
Quem conhece um bom
melodrama já sabe o que esperar de um papel de
heroína. Segundo Sílvia Oroz (1992), o
melodrama comporta seis tipos de personagens femininos: a mãe, a irmã, a namorada, a esposa, a amada, a má e/ou prostituta. A arte representa o mundo em que vivemos e o mundo ocidental mostrou-se em toda sua história ser patriarcal. Ou seja, as regras de conduta da sociedade são controladas pelos homens. Baseado no conjunto de histórias que permeiam o inconsciente humano, podemos perceber que o padrão do papel
feminino nas histórias não mudou. Segundo Pina Coco (2004), a visão da
heroína injustiçada só se reforçou com o passar do tempo. Mesmo em histórias onde a
mulher aparenta ser independente, ela sempre está acompanhada de um ombro masculino que a ampara, a auxilia, como um Zeus que permite que ela siga certos passos sozinha, mas com limites, ou tal qual
Cinderela, tem que voltar para casa à meia-noite.
Antes do
cinema, elas estavam na literatura, no teatro, nos contos e imaginários coletivos. E essa é a questão que nos leva a buscar entender como esse processo foi construído. Sílvia Oroz (1992) diz que para entender “o significado mítico da
mulher” é preciso compreender a sociedade patriarcal em que vivemos, com seu sistema tradicional, seguro por leis, mitos e divisão de trabalho. Até bem pouco tempo, à
mulher existiam dois caminhos: ser
esposa ou ser
prostituta. E o
melodrama, como principal gênero nos meios de comunicação de massa seguiu à risca esses conceitos.
Mas, será que essa regra é mesmo válida até hoje? Ou as
mulheres já conseguem se destacar sem necessariamente depender de um homem? Analisando a maioria dos filmes, percebemos que o padrão se mantêm. Basta pensar em uma lista de personagens inesquecíveis para ver que as
mulheres são minoria absoluta. E quantos filmes são protagonizados por elas? Mas, sempre existem excessões. Ainda que o homem exista em sua vida, resgato aqui uma lista de
mulheres que fizeram a diferença, se tornando verdadeiras
heroínas da história do cinema.
10 - Alice (Milla Jovovich) em "Resident Evil" / Lara Croft (Angelina Jolie) em "Tomb Raider"
- A lista começa com um empate, já que ambas são, na verdade,
heroínas de video game. Mas, tanto
Alice, quanto
Lara Croft são verdadeiras
heroínas modernas de filmes de ação. Assumem a função antes destinada aos homens para salvar o mundo e ainda ficar com o mocinho.
9 - Amelie Poulain (Audrey Tatou) em "O Fabuloso Destino de Amelie Poulain"
- Esta é o estereótipo da mulher antiga, é verdade, doce, sonhadora que fica a espera de seu príncipe encantado. Mas, há algo em
Amelie Poulain que a torna especial, não é apenas a mocinha em busca do amor, ela constrói sua própria realidade. E só por isso, já vale a citação.
8 - Mary Poppins (Julie Andrews) em "Mary Poppins" / Nanny McPhee (Emma Thompson) em "Nanny McPhee - A Babá Encantada" - Outra citação dupla para duas babás mágicas que exercem uma força imensa nas famílias que visitam. E ao contrário de Maria em "
A noviça rebelde", não terminam casadas com ninguém. São seres mágicos, especiais com uma função típica de fadas madrinhas.
7 - Sarah Connor (Linda Hamilton) em "O Exterminador do Futuro 2"
- Ela não é protagonista do filme, é verdade. Seria a protagonista no primeiro onde é apenas a mocinha indefesa ameaçada por uma máquina e salva pelo homem do
futuro. Mas,
Sarah Connor se torna uma heróina e tanto no segundo filme da série, sendo a responsável pelo treinamento de seu filho John. Seu desespero, sua loucura, seu foco são comoventes na esperança de uma chance da humanidade em um futuro próximo. Não por acaso, seu nome se tornou o título do seriado televisivo baseado no universo.
6 - Clarice Starling (Jodie Foster) em "O Silêncio dos Inocentes" - Clarice é completamente guiada por um homem, é verdade, ainda mais por um homem com atitudes tão condenáveis. Mas, como boa aprendiz, ela demonstra força, inteligência e coragem para ir além, tornando-se uma das grande personagens do cinema. E
Jodie Foster constrói isso muito bem.
5 - Dr. Eleanor Ann Arroway (Jodie Foster) em "Contato"
- Aqui temos uma cientista e seu sonho de comprovar que existe vida em outro planeta. A luta de Eleanor é comovente, principalmente quando ela volta da experiência inesquecível no espaço e ninguém acredita em sua palavra. Uma mulher realmente admirável.
4 - Noiva (Uma Thurman) em "Kill Bill: Vol. 1 e 2" - Não exatamente uma personagem que sirva de exemplo para ninguém, mas a força da
Noiva em sua saga de
vingança é inesquecível. Ainda que com crenças e conceitos duvidosos, é uma marcante
heroína do cinema.
3 - Erin Brockovich (Julia Roberts) em "Erin Brockovich"
- Ela desafiou o mundo dos homens em todos os sentidos. Com determinação e ternura, Erin Brockovich salvou famílias inteiras afetadas com produtos químicos e mostrou que é possível ainda ser humana nesse mundo. Merece pódio nessa lista.
2 - Ellen Ripley (Sigourney Weaver) em "Alien - o 8º Passageiro" - Ela se tornou heroína quase por eliminação, já que o oitavo passageiro foi destruindo a tripulação da nave aos poucos. Mas,
Ellen Ripley demonstrou sua força e persistência em toda a série, provando que não foi mera coincidência ter sido a única sobrevivente daquela primeira investida.
1 - Scarlett O’Hara (Vivien Leigh) em "E o Vento Levou"
- Mesmo com toda modernidade, no entanto, é de 1939 que vem o primeiro lugar da lista. Ela matou, roubou, mentiu, enganou, mas cumpriu sua promessa de jamais passar fome novamente. Scarlett O’Hara se transformou de menina mimada em heroína, ainda que incompreendida, sustentando sua família no pós-guerra e entrando para história do cinema como uma das grandes personagens de todos os tempos.