Almoço em Agosto
Um simples e singelo filme italiano de Gianni Di Gregorio, assim pode ser definido Almoço em Agosto. Daquelas obras gostosas de assistir, com um tom bastante próximo da realidade. Tão próximo que até os nomes dos personagens são os mesmos dos atores.
Dia 15 de agosto é o Ferragosto, uma data importante para os italianos onde é comemorado a Assunção de Maria, além do início das férias. Em uma pequena cidade italiana, Gianni e sua mãe Valéria estão passando por dificuldades financeiras sérias. É quando o administrador do prédio chega com uma solução mirabolante. Partes de suas dívidas serão perdoadas se Gianni cuidar de sua mãe no feriado. A senhora Marina, no entanto, desembarca na casa na companhia da tia Maria. Para completar, o médico da família, aproveita para pedir que hospedem também sua mãe Grazia, que tem vários problemas de saúde e restrições alimentares. Gianni se vê de repente cercado por quatro aparentes simpáticas senhoras, cada uma com suas manias, mas não deixa de ser uma saga interessante.
Mesmo com baixo orçamento e uma fotografia granulada, o filme tem um cuidado nas imagens e nos detalhes. A cena inicial onde Gianni lê para sua mãe é incrivelmente bela. A interpretação de Valeria de Franciscis é construída em detalhes, como ela querendo interagir com o que é dito, ao perguntar sobre a aparência de D'artagnan, por exemplo. É tudo natural, fácil de acompanhar, com diálogos verossímeis e uma cumplicidade ímpar. Aliás, o roteiro escrito pelo próprio Gianni Di Gregorio é repleto dessas sutilezas bem realizadas. A gente se sente ali, ao lado deles, mesmo que não haja um aprofundamento na construção da personalidade dos personagens.
Não sabemos em nenhum momento o porquê de Gianni não poder trabalhar. "Como com a mamãe nesse estado?", ele alega. Mas isso é a verdade ou ele é preguiçoso? Afinal, Dona Valéria não parece tão incapaz assim. Ela anda, conversa, parece lúcida, poderia ficar em casa sozinha por algumas horas. Ao mesmo tempo ele tem um cuidado especial com os afazeres domésticos, cozinha muito bem, arruma a casa, lê para a mãe dormir. E quando as senhoras invadem o local, é possível ver a paciência com que cuida e se preocupa com todas. Há momentos de fuga, é verdade, como quando ele coloca calmante no chá na esperança de vê-las dormindo. Mas, é possível ver os cuidados com a senhora que some no meio da noite, ou com o excesso de comida da outra que acaba perdendo o sono, fazendo-o dormir em uma cadeira ao lado de sua cama.
Sem um conflito delimitado, ou mesmo uma forte curva dramática desenvolvida, Almoço em Agosto é quase um filme sobre nada. Um cotidiano peculiar em um feriado italiano, onde podemos acompanhar parte da cultura local. Ainda assim, salta aos olhos temas como a própria inversão de papéis entre pais e filhos. Não apenas nos cuidados de Gianni com as quatro senhoras, mas os próprios filhos que as deixam ali. Alfonso, o administrador do prédio, que deixa Dona Marina e a tia Maria como aqueles pais que querem se distrair um pouco e deixam os filhos na casa dos avós. Já o médico é aquele pai preocupado que deixa todas as recomendações, lista de remédios e alimentação.
Interessante perceber que todas as preocupações em excesso acabam se demonstrando desnecessárias. Elas conseguem levar bem a situação de ficar sozinhas em casa, quando Gianni vai em busca do peixe do feriado, por exemplo. Aliás o paralelo das senhoras arrumando o local, enquanto ele procura o almoço pela cidade é bem feito. Da mesma forma, Grazia se diverte comendo aqueles alimentos que não lhe são permitidos, e Marina sai no meio da noite para beber sozinha como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Almoço em Agosto não é uma típica comédia italiana, daquelas clássicas em que você irá se acabar de rir. Mas, é uma trama gostosa de acompanhar. Um daqueles casos sem muita importância, simples e simpáticos. Um passeio leve por um dia de feriado.
Almoço em agosto (Pranzo di Ferragosto: 2008 / Itália)
Direção: Gianni Di Gregorio
Roteiro: Gianni Di Gregorio
Com: Gianni Di Gregorio, Valeria de Franciscis, Alfonso Santagata, Marina Cacciotti, Grazia Cesarini, Maria Cali.
Duração: 75 min.
Dia 15 de agosto é o Ferragosto, uma data importante para os italianos onde é comemorado a Assunção de Maria, além do início das férias. Em uma pequena cidade italiana, Gianni e sua mãe Valéria estão passando por dificuldades financeiras sérias. É quando o administrador do prédio chega com uma solução mirabolante. Partes de suas dívidas serão perdoadas se Gianni cuidar de sua mãe no feriado. A senhora Marina, no entanto, desembarca na casa na companhia da tia Maria. Para completar, o médico da família, aproveita para pedir que hospedem também sua mãe Grazia, que tem vários problemas de saúde e restrições alimentares. Gianni se vê de repente cercado por quatro aparentes simpáticas senhoras, cada uma com suas manias, mas não deixa de ser uma saga interessante.
Mesmo com baixo orçamento e uma fotografia granulada, o filme tem um cuidado nas imagens e nos detalhes. A cena inicial onde Gianni lê para sua mãe é incrivelmente bela. A interpretação de Valeria de Franciscis é construída em detalhes, como ela querendo interagir com o que é dito, ao perguntar sobre a aparência de D'artagnan, por exemplo. É tudo natural, fácil de acompanhar, com diálogos verossímeis e uma cumplicidade ímpar. Aliás, o roteiro escrito pelo próprio Gianni Di Gregorio é repleto dessas sutilezas bem realizadas. A gente se sente ali, ao lado deles, mesmo que não haja um aprofundamento na construção da personalidade dos personagens.
Não sabemos em nenhum momento o porquê de Gianni não poder trabalhar. "Como com a mamãe nesse estado?", ele alega. Mas isso é a verdade ou ele é preguiçoso? Afinal, Dona Valéria não parece tão incapaz assim. Ela anda, conversa, parece lúcida, poderia ficar em casa sozinha por algumas horas. Ao mesmo tempo ele tem um cuidado especial com os afazeres domésticos, cozinha muito bem, arruma a casa, lê para a mãe dormir. E quando as senhoras invadem o local, é possível ver a paciência com que cuida e se preocupa com todas. Há momentos de fuga, é verdade, como quando ele coloca calmante no chá na esperança de vê-las dormindo. Mas, é possível ver os cuidados com a senhora que some no meio da noite, ou com o excesso de comida da outra que acaba perdendo o sono, fazendo-o dormir em uma cadeira ao lado de sua cama.
Sem um conflito delimitado, ou mesmo uma forte curva dramática desenvolvida, Almoço em Agosto é quase um filme sobre nada. Um cotidiano peculiar em um feriado italiano, onde podemos acompanhar parte da cultura local. Ainda assim, salta aos olhos temas como a própria inversão de papéis entre pais e filhos. Não apenas nos cuidados de Gianni com as quatro senhoras, mas os próprios filhos que as deixam ali. Alfonso, o administrador do prédio, que deixa Dona Marina e a tia Maria como aqueles pais que querem se distrair um pouco e deixam os filhos na casa dos avós. Já o médico é aquele pai preocupado que deixa todas as recomendações, lista de remédios e alimentação.
Interessante perceber que todas as preocupações em excesso acabam se demonstrando desnecessárias. Elas conseguem levar bem a situação de ficar sozinhas em casa, quando Gianni vai em busca do peixe do feriado, por exemplo. Aliás o paralelo das senhoras arrumando o local, enquanto ele procura o almoço pela cidade é bem feito. Da mesma forma, Grazia se diverte comendo aqueles alimentos que não lhe são permitidos, e Marina sai no meio da noite para beber sozinha como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Almoço em Agosto não é uma típica comédia italiana, daquelas clássicas em que você irá se acabar de rir. Mas, é uma trama gostosa de acompanhar. Um daqueles casos sem muita importância, simples e simpáticos. Um passeio leve por um dia de feriado.
Almoço em agosto (Pranzo di Ferragosto: 2008 / Itália)
Direção: Gianni Di Gregorio
Roteiro: Gianni Di Gregorio
Com: Gianni Di Gregorio, Valeria de Franciscis, Alfonso Santagata, Marina Cacciotti, Grazia Cesarini, Maria Cali.
Duração: 75 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Almoço em Agosto
2011-12-13T08:30:00-02:00
Amanda Aouad
cinema europeu|comedia|critica|Gianni Di Gregorio|
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