Intérprete: The Dickies
Bata imaginar a cena, uma criança fantasiada, cheia de armas na mão, matando todos que aparecem em sua frente. A cena por si só é chocante e irônica. Aí, entra a música Banana Splits do The Dickies para dar o ritmo à cena e à coreografia da garota. Se colocassem um rock pesado, típico de cenas de ação, não teria a mesma graça. Olhando a letra da música, a ironia é ainda maior, as bananas que vão aumentando "uma banana, duas bananas", podem ser uma metáfora das vítimas daquela garotinha, todos homens adultos e aparentemente mais fortes. Além de ter a frase "muita diversão para todos", que traduz um pouco a situação esquizofrênica de Bad Dad e Hit Girl.
Intérprete: Elis Regina
Uma arena, uma toureira, um touro. A cena padrão de duelo entre os dois, o touro enraivecido, a toureira com o pano vermelho, a platéia observando. De repente, entra a voz de Elis Regina cantando os versos "Oh! meu bem-amado quero fazer-te um juramento, uma canção. Eu prometo, por toda a minha vida ser somente tua e amar-te como nunca". Almodóvar fez uma cena de amor entre um touro e sua algoz, com plástica e beleza de uma maneira ímpar. E sem a música de Tom Jobim, ela perderia muito da graça que a deixou em nossas memórias.
Intérprete: Santa Esmeralda
A principal cena do primeiro volume de Kill Bill é o confronto entre a Noiva, Uma Thurman, e O-Ren Ishii / Boca de Algodão, vivida por Lucy Liu. O duelo de espadas em meio a neve é esperado, preparado e iniciado como o confronto final, o momento em que após derrotar todos os soldados, a protagonista irá enfrentar o "chefão". O balé entre elas é belo, o jogo de espadas, a neve, a fotografia. Mas, no momento em que Tarantino escolhe colocar como trilha da cena "Don't Let Me Be Misunderstood" do grupo Santa Esmeralda, ele a torna inesquecível de fato. O tom de sedução da letra, o ritmo latino da música em um país que é o seu oposto, o contraste, a quebra da expectativa. Tudo favorece para tornar a cena mais uma das clássicas do cinema.
Intérprete: Frank Patterson
Os irmãos Coen são obsessivos por ritmo e precisão na montagem de seus filmes. Em Ajuste Final existe uma sequência que já gerou teses de doutorado e discussões diversas como uma das melhores utilizações de música em uma cena. A sequência da invasão à casa de Leo, Albert Finney, é muito bem orquestrada. Pela tensão dos gangsters invadindo a residência, pelo tiroteio, pela ação alucinante, mas principalmente porque tudo isso está sendo regido por “Danny boy”, uma canção tradicional irlandesa que fala da relação de um pai e um filho. Tudo se encaixa na trama, na relação entre Leo e o protagonista Tom Reagan, Gabriel Byrne, no fato de ser um dos poucos filmes de gangsters onde um irlandês é "o poderoso chefão" e claro, pelo ritmo da cena e o contraste da expectativa. Um marco no cinema, sem dúvidas, ainda mais pelo cuidado dos irmãos Coen com os detalhes.
Intérprete: Nat King Cole
Por fim, uma sequência realmente inesquecível, com o perdão do trocadilho. A morte do Comediante em Watchmen prima pela escolha da música Unforgettable na versão imortalizada por Nat King Cole. Além de ser uma música de amor em uma cena de duelo e morte, traz a ironia do tema, uma pessoa inesquecível quando o Comediante e todos os Watchmen estão sofrendo com o esquecimento. Em muitos momentos, a cena é construída em câmera lenta, seguindo a música e causando ainda mais impacto em todo aquele sangue e violência. Uma cena que fica em minha memória por todo o conjunto. E por isso está em primeiro lugar, apesar da genialidade dos irmãos Coen no segundo lugar.
Essas foram as que lembrei e as que mais me marcaram. Com certeza, existem muitas outras por aí. Quem lembra de mais alguma?