2 Coelhos é um filme diferente, com uso de diversas técnicas de animação, efeitos especiais e ação, mas que não esquece o conteúdo. A base do filme é o roteiro e os três atores presentes foram unânimes em concordar que ali tinha um conteúdo diferenciado. Na trama, temos o protagonista Edgar articulando um plano misterioso envolvendo criminosos e vários níveis e políticos corruptos. E só aos poucos vamos descobrindo onde ele pretende chegar. E o mais impressionante é que tudo ali faz sentido, é bem construído e impressiona.
Vindo da publicidade, Afonso Poyart estreia em longametragens com o pé direito. O diretor já tinha dirigido um curta de ficção (Eu te darei o céu), que foi premiado no Festival de Gramado e do Rio em 2005 e demonstrado talento versátil. A julgar pelo que vimos no Iguatemi na última quinta-feira, o sucesso na bilheteria é esperado e merecido. Vejam abaixo o bate-papo com o diretor e atores.
AP - Eu trabalho com publicidade há um tempo e eu sempre quis fazer um filme. Eu já tinha uma idéia antiga de fazer um filme sobre um cara, um cara comum que representa o povo brasileiro, fazendo justiça contra a classe corrupta e os criminosos. Esse foi o mote inicial: um cara que faz justiça com as próprias mãos. Mas, conforme eu fui escrevendo, a coisa foi ficando maior que isso. As idéias foram aparecendo e a trama foi ficando mais complexa e esse conceito inicial se tornou apenas um ponto de partida. O que esse cara busca é uma coisa muito além que só vendo o filme para descobrir.
Além de dirigir, você escreveu o roteiro, produziu e participou da montagem. É uma forma de ter o controle de todo o processo?
AP - Eu comecei com pós-produção, comecei na animação, então é natural me envolver em todas as etapas, fiz um monte de coisa. Mas, também tinha pouco dinheiro para segmentar demais, além de ser o primeiro filme também, não dá para deixar de lado, tem que fazer tudo.
E a escolha do elenco? Você já tinha os atores em mente?
AP - Não, a gente fez uns quatro meses de seleção do elenco de apoio. Os personagens principais eu fiz convites, a Alessandra mesmo eu convidei e achei que ela não ia aceitar, mas ela aceitou de cara, foi muito bacana.
Você vem da publicidade, o que trouxe dela para esse trabalho? Essa linguagem rápida, essas inserções gráficas, montagem, quais foram suas referências?
AP - Como eu disse, eu sou um cara da pós-produção, então, acho que veio um pouco de minha bagagem , é muito natural mexer com isso. Acho que na publicidade a gente aprende a fazer filmes, com a prática mesmo, a gente está toda hora fazendo algo, convivendo com pessoas criativas, referências que ajudam no final. Mas, tenho vários diretores como referência, tipo Tarantino, Christopher Nolan, Alejandro González Iñárritu, Guy Ritchie, Danny Boyle, Fernando Meirelles , todos esses caras me influenciaram.
Já tem projetos pros próximos filmes?
AP - Eu tenho um projeto de um filme de MMA/ UFC, do José Aldo que é o campeão de peso pena do UFC. Vamos começar a filmar agora em agosto com o Malvino Salvador no papel principal . E continuo fazendo publicidade também.
MD - O Afonso já me conhecia do teatro, a produtora dele é lá de São Paulo e aí me chamou para ler o roteiro e eu curti. Achei o roteiro muito bem escrito, mais do que ser essa novidade de um filme de ação, um gênero não tão feito no Brasil, mais do que participar disso, dessa coisa inovadora, eu gostei muito do roteiro.
Como você definiria o Maicon?
MD - Bom, ele é um líder de um bando de crime organizado, então, é uma pessoa assim sem muito caráter. Mas ao mesmo tempo, o que deu um toque interessante no personagem, é que ele não é um personagem totalmente mau, perverso, tem um toque de humor. Então, é um bandido legal.
Você acha que é mais interessante fazer um vilão?
MD - Olha, eu acho que gosto mais de fazer vilão. Eu lembro que na época da novela de Odete Roitman (Vale Tudo) eu ficava torcendo pra ela. Então, eu acho que eu gosto mais dos vilões, acho mais interessante fazer.
E o Afonso como diretor? Você gostou de trabalhar com ele?
MD - Eu adorei, foi muito legal. Eu acho que o fato dele ser um diretor estreante em longametragem foi muito bom, porque tinha um frescor, às vezes uma ingenuidade mesmo na hora de fazer, que nos deixava muito livres para experimentar, criar. Então, foi uma experiência muito bacana.
E quais são os seus projetos futuros?
MD - Eu vou rodar o filme do Jayme Monjardim , O Tempo e o Vento. Em julho, vou fazer outro longa que é um road movie, Minas Brasília, que é de um jovem diretor de Brasília Gustavo Galvão. Vou fazer um curta de uma turma de São Paulo em Fevereiro. Então, estou mais engajado em cinema mesmo. Apesar de estar com saudades do teatro e louco para voltar para ele.
T - A experiência foi bem vinda, porque é o Afonso estreando e a gente também estreando nessa linguagem totalmente diferente, uma linguagem de filme de ação, intenso, com vibração, com roteiro realmente digno. E uma parceria muito grande entre direção e ator. Eu vim de Tropa de Elite que tinha essa mesma experiência de diretor que permite que o ator atue e realmente até a linguagem de direção é diferente. Então, valeu muito a pena, atores incríveis, momentos incríveis. Muita boa sorte para a estreia. Só louros.
E o seu personagem, Bolinha, como definiria?
T - É engraçado, né? Normalmente fazer bandido é o meu negócio, mas eu estou procurando fazer outras coisas. O legal é você pegar o personagem, mesmo que seja um bandido e criar um diferencial, o Afonso permitiu isso, aí eu consegui fazer o malandro agulha. Aquele cara que tá lá, tá presente pra fazer o papel dele enquanto bandido, mas não causa antipatia, pelo contrário. O Bolinha é alegre, sarcástico, tem um humor sutil que tá funcionando pra caramba na trama.
CC - Recebi um telefonema, depois o Afonso marcou um almoço e me mostrou o roteiro. Eu curti. Era um roteiro que exigia de mim uma atenção, saída de estado de passividade, pensei, "opa, esse roteiro exige alguma coisa de quem está assistindo".
Como você definia o Walter?
CC - Todos os personagens nesse filme não são o que parecem ser. E o Walter é o mais radical nesse sentido. Você não pode entender qual é do Walter até a última cena. Ele é todo construído no contra-fluxo. Geralmente você se esforça para o público entender o que o personagem está sentindo. Aqui foi o contrário. Tem que entender que ele está sentindo alguma coisa, não pode ser vazio, mas não pode entender nunca o que é.
É mais difícil?
CC - Sim, tem pouca cena, tem pouca fala, é tudo no silêncio, no mistério.
E como foi trabalhar com o Afonso?
CC - Foi tranqüilo, porque ele é um cara de trabalha com publicidade, a equipe é a que ele trabalha sempre , o equipamento ele domina , a linguagem da câmera ele domina. A novidade para ele, éramos nós, os atores, como ele iria lidar com a gente, pedir as coisas. Então, ele foi muito aberto, deixou a gente muito à vontade. Pediu muito a nossa ajuda para reconstruir os diálogos. Chamou a gente para contribuir com o filme, dando uma liberdade muito legal.
Fotos gentilmente cedidas por João do Salada Cultural.