Um Dia
Um dia, o que pode ser feito em 24 horas? Amores podem começar e terminar em um piscar de olhos, pessoas nascem e morrem a cada dia, a vida pode ser traduzida nessa pequena janela de tempo. Pensando assim, David Nicholls criou o seu livro, onde acompanhamos a vida de duas pessoas apenas a partir do que lhes acontece em determinado dia do ano, mais precisamente o dia 15 de julho.
Através dessa janela de tempo, durante duas décadas, vemos Emma e Dexter se conhecerem, quase transarem, tornarem-se amigos, brigarem, se separarem, fazem as pazes e diversas outras coisas. É interessante como, mesmo pulando de ano em ano naquele mesmo dia, conseguimos ter uma idéia geral do que lhes acontece. A narrativa é bastante realista, com um ritmo lento até, não fica a sensação de ser picotada. O dia acaba e lá estamos nós no ano seguinte, quando a vida deles pode ter mudado completamente, mas eles continuam ligados por algum motivo extra.
Os diálogos são um ponto forte do roteiro, também escrito por David Nicholls. São rápidos, com sacadas inteligentes e conseguem traduzir perfeitamente a personalidade de cada personagem e suas relações um com os outros. Mesmo com piadas bobas, como a mãe de Dexter em Paris falando para o filho, "olha ali, Alain Delon" ... ou não, é seu pai", demonstrando o quão apaixonada é pelo marido. Tem cenas engraçadas também, como quando Dexter encena para sua filha a cena mais famosa de Spartacus com os bonecos. Mas, nenhum personagem é melhor traduzido pelos diálogos que Emma, a garota tímida, mas extremamente inteligente e sagaz. Cada fala dela é um pouco do seu temperamento, sentimento, espontaneidade. E é graças a ela que nos encantamos e nos envolvemos com o filme.
Não apenas por Emma e sua personalidade fascinante, mas também pelo talento e carisma de Anne Hathaway, que rouba o filme. Não por acaso, Emma vai melhorando a cada ano, tornando-se mais bonita, mais segura, mais atraente em todos os aspectos. Enquanto que Dexter vai definhando, perdendo o rumo. Ele que era o garotão da faculdade, enquanto que ela era a tímida CDF que ninguém notava. Dexter se envolve em um emprego fútil que lhe dá aparente fama e dinheiro, mas logo se demonstra um desvio de vida. Enquanto que Emma começa como garçonete de um restaurante mexicano e vai melhorando sua situação aos poucos.
Como casal eles funcionam, o problema é que o roteiro não ajuda nisso. Há sempre uma sensação de não pertencimento a eles, um estranhamento que não os faz viver nem paixão, nem amor, nem desejo. Por mais que Emma demonstre no olhar que sempre foi louca por Dexter, suas atitudes acabam minando qualquer tentativa do garoto fútil que vive trocando de namorada. Um Dia é o conto sobre o amor que poderia ter sido em sua maior parte do tempo. Aquele amor que nasceu predestinado, mas faltou algo, coragem talvez, para se realizar plenamente. Ficamos acompanhando dois amigos que deveriam ser amantes, até que nos sentimos enganados pelo destino.
Não podemos, no entanto, dizer que o filme não seja romântico. Tem seus momentos, ainda que nos prepare as lágrimas de uma maneira tão óbvia e tão breve. Logo já estaremos no ano seguinte, e no depois dele, esquecendo a dor e seguindo em frente. Mas, isso não nos impede de viver o momento. São breves, é verdade, mas verdadeiros e bem construídos. Principalmente no ato final, onde queremos voltar desesperadamente ao início, como uma tentativa de refazer a história, ou pelo menos enganar nossa mente com aquele encontro singelo no meio da rua e um beijo sela a história de amor que deveria ter sido.
A diretora dinamarquesa Lone Scherfig conseguiu trazer delicadeza à história de Emma e Dexter, fazendo de Um Dia um filme sensível. Uma história de amor construída sem recursos comuns a filmes dessa natureza. Tudo é quase realista e medroso como a vida. Pena que, quando a situação engata, ela nos tire o tapete, com uma situação clichê, anunciada, feita apenas para nos fazer chorar. E nem assim conseguiu. Ainda assim, um bom filme.
Um Dia (One Day: 2011 / Estados Unidos)
Direção: Lone Scherfig
Roteiro: David Nicholls
Com: Anne Hathaway, Jim Sturgess, Patricia Clarkson, Tom Mison.
Duração: 108 min.
Através dessa janela de tempo, durante duas décadas, vemos Emma e Dexter se conhecerem, quase transarem, tornarem-se amigos, brigarem, se separarem, fazem as pazes e diversas outras coisas. É interessante como, mesmo pulando de ano em ano naquele mesmo dia, conseguimos ter uma idéia geral do que lhes acontece. A narrativa é bastante realista, com um ritmo lento até, não fica a sensação de ser picotada. O dia acaba e lá estamos nós no ano seguinte, quando a vida deles pode ter mudado completamente, mas eles continuam ligados por algum motivo extra.
Os diálogos são um ponto forte do roteiro, também escrito por David Nicholls. São rápidos, com sacadas inteligentes e conseguem traduzir perfeitamente a personalidade de cada personagem e suas relações um com os outros. Mesmo com piadas bobas, como a mãe de Dexter em Paris falando para o filho, "olha ali, Alain Delon" ... ou não, é seu pai", demonstrando o quão apaixonada é pelo marido. Tem cenas engraçadas também, como quando Dexter encena para sua filha a cena mais famosa de Spartacus com os bonecos. Mas, nenhum personagem é melhor traduzido pelos diálogos que Emma, a garota tímida, mas extremamente inteligente e sagaz. Cada fala dela é um pouco do seu temperamento, sentimento, espontaneidade. E é graças a ela que nos encantamos e nos envolvemos com o filme.
Não apenas por Emma e sua personalidade fascinante, mas também pelo talento e carisma de Anne Hathaway, que rouba o filme. Não por acaso, Emma vai melhorando a cada ano, tornando-se mais bonita, mais segura, mais atraente em todos os aspectos. Enquanto que Dexter vai definhando, perdendo o rumo. Ele que era o garotão da faculdade, enquanto que ela era a tímida CDF que ninguém notava. Dexter se envolve em um emprego fútil que lhe dá aparente fama e dinheiro, mas logo se demonstra um desvio de vida. Enquanto que Emma começa como garçonete de um restaurante mexicano e vai melhorando sua situação aos poucos.
Como casal eles funcionam, o problema é que o roteiro não ajuda nisso. Há sempre uma sensação de não pertencimento a eles, um estranhamento que não os faz viver nem paixão, nem amor, nem desejo. Por mais que Emma demonstre no olhar que sempre foi louca por Dexter, suas atitudes acabam minando qualquer tentativa do garoto fútil que vive trocando de namorada. Um Dia é o conto sobre o amor que poderia ter sido em sua maior parte do tempo. Aquele amor que nasceu predestinado, mas faltou algo, coragem talvez, para se realizar plenamente. Ficamos acompanhando dois amigos que deveriam ser amantes, até que nos sentimos enganados pelo destino.
Não podemos, no entanto, dizer que o filme não seja romântico. Tem seus momentos, ainda que nos prepare as lágrimas de uma maneira tão óbvia e tão breve. Logo já estaremos no ano seguinte, e no depois dele, esquecendo a dor e seguindo em frente. Mas, isso não nos impede de viver o momento. São breves, é verdade, mas verdadeiros e bem construídos. Principalmente no ato final, onde queremos voltar desesperadamente ao início, como uma tentativa de refazer a história, ou pelo menos enganar nossa mente com aquele encontro singelo no meio da rua e um beijo sela a história de amor que deveria ter sido.
A diretora dinamarquesa Lone Scherfig conseguiu trazer delicadeza à história de Emma e Dexter, fazendo de Um Dia um filme sensível. Uma história de amor construída sem recursos comuns a filmes dessa natureza. Tudo é quase realista e medroso como a vida. Pena que, quando a situação engata, ela nos tire o tapete, com uma situação clichê, anunciada, feita apenas para nos fazer chorar. E nem assim conseguiu. Ainda assim, um bom filme.
Um Dia (One Day: 2011 / Estados Unidos)
Direção: Lone Scherfig
Roteiro: David Nicholls
Com: Anne Hathaway, Jim Sturgess, Patricia Clarkson, Tom Mison.
Duração: 108 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Um Dia
2012-01-21T08:03:00-02:00
Amanda Aouad
Anne Hathaway|critica|drama|Jim Sturgess|livro|romance|
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