
E a
84ª Cerimônia do Oscar terminou ontem com um paradoxo: foi uma surpreendente previsibilidade. Todos estavam apostando suas fichas em
O Artista,
Michel Hazanavicius e
Jean Dujardin. Eram favoritos, ganharam a maioria dos prêmios, mas é uma grande surpresa a Academia premiar um
filme, um diretor e um
ator franceses nas principais categorias. Nunca em oitenta e quatro anos de Oscar, um não-americano tinha levado as principais estatuetas. Claro que
O Artista é um filme que exalta Hollywood, o estilo americano de fazer
filmes e a supremacia norte-americana, tanto que na França, ele não foi tão ovacionado. Dias antes,
Jean Dujardin tinha perdido o Cesar para Omar Sy (
Intouchables), apesar de
filme e diretor levarem os prêmios. Mas, ainda assim é um filme francês e, ao premiar
O Artista com cinco estatuetas, o
Oscar admite ao mundo que é possível fazer bons
filmes fora dos Estados Unidos. Só nos resta comemorar.

Comemoramos também, e muito, outra quebra de tabu. Após 29 anos e dezessete indicações,
Meryl Streep voltou a vencer a cobiçada estatueta dourada. Aliás, ela já foi toda dourada para a noite em que a categoria de
melhor atriz trazia a maior incógnita da premiação. A Academia sabia disso e aproveitou bem o momento, tanto que este prêmio foi o penúltimo da noite, quando normalmente é um dos primeiros, depois de
melhor diretor e
melhor ator que sempre ficaram por último. Não foi dessa vez que
Viola Davis se tornou a segunda mulher negra a levar o
Oscar de melhor atriz (antes só Halle Berry - A Última Ceia). Mas,
Octavia Spencer levou, como esperado, o de
melhor atriz coadjuvante, se juntando ao time que já tinha Hattie McDaniel (E o Vento Levou) e Whoopi Goldberg (Ghost). Na categoria de
melhor ator coadjuvante, veio o esperado prêmio para
Christopher Plummer, deixando para trás os que considero os dois melhores candidatos dessa premiação,
Nick Nolte e
Max von Sydow.

A cerimônia não foi das mais emocionantes, mesmo as homenagens soaram rápidas e quase frias em sua parte final. Outro paradoxo, já que começou tão emocionante com o depoimento de
Morgan Freeman, seguido da brincadeira de
Billy Crystal com os filmes indicados. Outro bom momento foi a apresentação do
Cirque du Soleil em uma homenagem ao ato de ir ao
cinema, com destaque para as cenas de grandes clássicos no telão. Teve ainda a tradicional homenagem aos que já se foram, com uma bela interpretação de
What a Wonderful World e por fim os homenageados da noite, com apresentação de
Meryl Streep.
E a noite começou prometendo uma disputa mais acirrada entre
O Artista e
A Invenção de Hugo Cabret, que também teve cinco prêmios, mas todos técnicos, ao contrário de seu concorrente. O
filme de Martin Scorsese merecia destaque, talvez até o prêmio de direção, mas acabou tirando a estatueta de
filmes que mereciam mais em outras categorias, como
Melhor Fotografia que deveria ser de
A Árvore da Vida e
Efeitos Visuais que ficaria melhor nas mãos de
O Planeta dos Macacos: A Origem. Essas sim, grandes surpresas da noite. Outra surpresa esperada, mantendo o paradoxo, foi o total descaso para com a série mais rentável dos últimos tempos:
Harry Potter teve oito filmes, grandes bilheterias, fãs de todas as espécies, mas acabou sua trajetória no
cinema sem levar uma única estatueta. Mesmo nas categorias técnicas, foi indicado, mas não levou um único
Oscar em todos esses anos.

Isso só confirma a distância cada vez maior da academia e do público. Dos nove indicados a melhor filme,
Histórias Cruzadas e
O Homem que Mudou o Jogo eram as maiores billheterias norte-americanas.
O Artista não é dos mais aclamados pelo grande público, assim como
A Invenção de Hugo Cabret. Ainda assim, eram mesmo os melhores filmes, junto a
A Árvore da Vida, outra obra desprezada pela maioria do público.
O que não teve surpresa, nem injustiça foi na vitória de
Rango em melhor animação. Grande
filme e prêmio merecido, ao contrário da ausência de
Rio, filme de
Carlos Saldanha que estava representado apenas como melhor canção original e perdeu para
Os Muppets. Nessa categoria havia uma torcida especial do Brasil, já que era música de
Carlinhos Brown e
Sérgio Mendes, e uma boa música, diga-se de passagem. Uma pena mesmo que a Academia aqui se manteve previsível e tradicional. No mais, confiram a abertura do
Oscar com a genial montagem dos
filmes indicados e os vencedores em todas as categorias.
Se quiserem saber mais sobre os
filmes, leiam as
críticas.
Melhor Filme –
O Artista
Melhor Diretor –
Michel Hazavinicius (O Artista)
Melhor Ator –
Jean Dujardin (O Artista)
Melhor Atriz –
Meryl Streep (A Dama de Ferro)
Melhor Ator Coadjuvante –
Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
Melhor Atriz Coadjuvante –
Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)
Melhor Roteiro Original –
Woody Allen (Meia-Noite em Paris)
Melhor Roteiro Adaptado –
Alexander Payne (Os Descendentes)
Melhor Filme de Animação –
Rango
Melhor Curta de Animação –
The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
Melhor Direção de Arte –
A Invenção de Hugo Cabret
Melhor Fotografia –
A Invenção de Hugo Cabret
Melhor Figurino –
O Artista
Melhor Documentário –
Undefeated
Melhor Documentário Curta-Metragem –
Saving Face
Melhor Montagem –
Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres
Melhor Filme Estrangeiro –
A Separação
Melhor Curta-Metragem –
The Shore
Melhor Maquiagem –
A Dama de Ferro
Melhor Trilha Sonora –
O Artista
Melhor Canção –
Man or Muppet
Melhor Edição de Som –
A Invenção de Hugo Cabret
Melhor Mixagem –
A Invenção de Hugo Cabret
Melhores Efeitos Visuais –
A Invenção de Hugo Cabret