Toda Forma de Amor
As premiações de Christopher Plummer, seja no Globo de Ouro, ou a boa cotação para o Oscar, pode resgatar do anonimato esse ótimo drama de Mike Mills. Lançado no país diretamente para o DVD, com o singelo nome de Toda Forma de Amor, Beginners chama a atenção por retratar bem um caso verídico do próprio diretor.
A trama é das mais inusitadas. Após a morte de sua mãe, Oliver Fields interpretado por Ewan McGregor ouve de seu pai a revelação de que é gay e que agora irá em busca do tempo perdido. Por cinco anos, ele vive intensamente, sofre, ama, conhece um bom companheiro e descobre que tem câncer, falecendo de suas complicações. O roteiro do próprio Mills, encontra seu protagonista nesse momento, pós perda do pai, totalmente deprimido, sem vontade de refazer a vida e tomando conta de Arthur, o inteligente cãozinho que lhe fica de herança e rende ótimos momentos, principalmente quando os dois conversam.
Aliás, o filme começa com Oliver literalmente apresentando a casa a Arthur, entrando em cada cômodo e explicando as coisas como se ele fosse realmente entender. O paralelo dele repetindo o ato com a personagem de Mélanie Laurent que conhecerá depois não deixa de ser interessante. Além de marcar uma das características da personalidade que Oliver que herdou do pai. O roteiro não-linear é bastante funcional nesse sentido, demonstrando todos hábitos, manias e trejeitos bizarros herdados do pai ou da mãe, em uma divisão bastante interessante. A mãe de Oliver é a sua lembrança da infância, quando o pai estava sempre ausente. Seu resgate com a figura paterna é mesmo nesses últimos cinco anos de vida do mesmo. Até por isso, é natural que o rapaz fique tão transtornado com a morte do mesmo.
Oliver é o típico solitário, que faz questão de afastar as pessoas, de não se expor emocionalmente. Por isso sente tanta necessidade de falar com as paredes, ou nesse caso com o cachorro. Não por acaso, ele escolheu ir a uma festa à fantasia vestido de Freud. E é lá que conhece Anna, a mulher que irá tentar abalar as estruturas pré-estabelecidas por ele. O problema é que a moça também tem suas complicações emocionais. Não deixa de ser um encontro de almas interessante. Curiosamente, há coisas nesse filme que me lembrou muito O Turista Acidental de Lawrence Kasdan. Arthur, com certeza, precisava de umas férias com a personagem de Geena Davis que iria curar sua carência. E a insistência de Anna em não atender o telefone lembrou também a família de William Hurt naquele filme.
As interpretações são outro ponto positivo da obra. Ewan McGregor está muito bem como o protagonista deprimido e nos conduzindo em seus dilemas de forma brilhante. Mélanie Laurent também convence como Anna e Goran Visnjic está convincente como o traumatizado Andy, namorado do pai de Oliver. Em poucas cenas ele consegue nos passar toda a sua personalidade amigável e medo de preconceito contra homossexuais. Já Christopher Plummer realmente chama a atenção como o velho Hall Fields. Há leveza e delicadeza em sua transformação. Ele revela-se homossexual de uma maneira bastante digna ao filho, assim como constrói a personalidade de Hall de uma maneira convincente. Somos capazes de entender aquele homem que casou e passou a maior parte da vida fingindo para si mesmo ser o que não era. E durante o processo da doença, tudo fica ainda mais emocionante.
Toda Forma de Amor é uma bela crônica familiar, que trata de assuntos delicados sem cair na caricatura. Tudo é muito cuidadoso e verdadeiro. Desde o texto, passando pelas interpretações até a direção de Mike Mills que procura costurar os pedaços da vida de Oliver como um emaranhado de lembranças e sentimentos. Isso nos ajuda a compreender sua trajetória e a embarcar em sua jornada de autodescobrimento e virada de vida. Na verdade, mais do que para o pai, esse é o seu recomeço, como indica o título original.
Toda Forma de Amor (Beginners: 2011 / EUA)
Direção: Mike Mills
Roteiro: Mike Mills
Com: Ewan McGregor, Christopher Plummer, Mélanie Laurent, Goran Visnjic.
Duração: 105 min.
A trama é das mais inusitadas. Após a morte de sua mãe, Oliver Fields interpretado por Ewan McGregor ouve de seu pai a revelação de que é gay e que agora irá em busca do tempo perdido. Por cinco anos, ele vive intensamente, sofre, ama, conhece um bom companheiro e descobre que tem câncer, falecendo de suas complicações. O roteiro do próprio Mills, encontra seu protagonista nesse momento, pós perda do pai, totalmente deprimido, sem vontade de refazer a vida e tomando conta de Arthur, o inteligente cãozinho que lhe fica de herança e rende ótimos momentos, principalmente quando os dois conversam.
Aliás, o filme começa com Oliver literalmente apresentando a casa a Arthur, entrando em cada cômodo e explicando as coisas como se ele fosse realmente entender. O paralelo dele repetindo o ato com a personagem de Mélanie Laurent que conhecerá depois não deixa de ser interessante. Além de marcar uma das características da personalidade que Oliver que herdou do pai. O roteiro não-linear é bastante funcional nesse sentido, demonstrando todos hábitos, manias e trejeitos bizarros herdados do pai ou da mãe, em uma divisão bastante interessante. A mãe de Oliver é a sua lembrança da infância, quando o pai estava sempre ausente. Seu resgate com a figura paterna é mesmo nesses últimos cinco anos de vida do mesmo. Até por isso, é natural que o rapaz fique tão transtornado com a morte do mesmo.
Oliver é o típico solitário, que faz questão de afastar as pessoas, de não se expor emocionalmente. Por isso sente tanta necessidade de falar com as paredes, ou nesse caso com o cachorro. Não por acaso, ele escolheu ir a uma festa à fantasia vestido de Freud. E é lá que conhece Anna, a mulher que irá tentar abalar as estruturas pré-estabelecidas por ele. O problema é que a moça também tem suas complicações emocionais. Não deixa de ser um encontro de almas interessante. Curiosamente, há coisas nesse filme que me lembrou muito O Turista Acidental de Lawrence Kasdan. Arthur, com certeza, precisava de umas férias com a personagem de Geena Davis que iria curar sua carência. E a insistência de Anna em não atender o telefone lembrou também a família de William Hurt naquele filme.
As interpretações são outro ponto positivo da obra. Ewan McGregor está muito bem como o protagonista deprimido e nos conduzindo em seus dilemas de forma brilhante. Mélanie Laurent também convence como Anna e Goran Visnjic está convincente como o traumatizado Andy, namorado do pai de Oliver. Em poucas cenas ele consegue nos passar toda a sua personalidade amigável e medo de preconceito contra homossexuais. Já Christopher Plummer realmente chama a atenção como o velho Hall Fields. Há leveza e delicadeza em sua transformação. Ele revela-se homossexual de uma maneira bastante digna ao filho, assim como constrói a personalidade de Hall de uma maneira convincente. Somos capazes de entender aquele homem que casou e passou a maior parte da vida fingindo para si mesmo ser o que não era. E durante o processo da doença, tudo fica ainda mais emocionante.
Toda Forma de Amor é uma bela crônica familiar, que trata de assuntos delicados sem cair na caricatura. Tudo é muito cuidadoso e verdadeiro. Desde o texto, passando pelas interpretações até a direção de Mike Mills que procura costurar os pedaços da vida de Oliver como um emaranhado de lembranças e sentimentos. Isso nos ajuda a compreender sua trajetória e a embarcar em sua jornada de autodescobrimento e virada de vida. Na verdade, mais do que para o pai, esse é o seu recomeço, como indica o título original.
Toda Forma de Amor (Beginners: 2011 / EUA)
Direção: Mike Mills
Roteiro: Mike Mills
Com: Ewan McGregor, Christopher Plummer, Mélanie Laurent, Goran Visnjic.
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Toda Forma de Amor
2012-02-07T08:43:00-02:00
Amanda Aouad
Christopher Plummer|critica|drama|Ewan McGregor|Mike Mills|oscar2012|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
Com previsão de lançamento para maio desse ano, Estranhos , primeiro longa do diretor Paulo Alcântara terá pré-estreia (apenas convidados) ...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...