Fúria de Titãs 2
Continuações são, em sua maioria, uma oportunidade de arrecadar mais bilheteria de um filme de sucesso. E em alguns casos, uma nova chance de consertar erros passados. Fúria de Titãs 2 parece querer preencher os dois perfis, aproveita o sucesso de bilheteria do fraco remake de 2010 e tenta melhorar os pontos críticos daquele, que tinha um roteiro frágil, deuses raivosos sem nenhum aprofundamento e um 3D convertido que fazia vergonha em sua maior parte. Conseguiu melhor, principalmente na questão tecnológica, apesar do roteiro continuar bastante raso.
Estamos há dez anos da história anterior. Perseu voltou a ser um simples pescador, viúvo, que cria seu filho com toda a dedicação. Porém, um dia, Zeus o procura pedindo ajuda. A Era dos deuses está acabando, estão todos enfraquecendo e morrendo, pois as pessoas não estão mais rezando. Com isso, há um perigo iminente de seu pai, Cronos, libertar-se da prisão de Tártaro, ameaçando a vida no planeta. Seguindo a trajetória do herói, descrita por Christopher Vogler, Perseu nega a aventura, complicando em muito a vida de seu pai. Poseidon morre, Zeus é sequestrado por Hades e Ares, Cronos está prestes a se libertar. Restará a Perseu encontrar o semideus Agenor e tentar reverter essa situação apocalíptica.
Uma questão básica demonstra a fragilidade do roteiro: se os deuses estão enfraquecendo porque as pessoas não rezam mais, não seria mais prudente Perseu convencê-las a rezar? Exércitos reunidos para enfrentar Quimeras estavam com medo, era o primeiro ponto para retomar a fé. Mas, alguns poucos queriam apenas rezar por Ares, que havia mudado de lado. Se poderia rezar por Ares, por que não por Zeus? Mas, com isso, provavelmente não teríamos filme. Já que tudo se centra no enfraquecimento de Zeus, no fortalecimento de Ares e no despertar de Cronos. Interessante que, mais uma vez, os deuses estão resumidos aos irmãos originais, acrescido de Ares. O resto do Olimpo já está complemente esquecido, provavelmente reduzido a pó. Perdendo-se uma oportunidade maior de uma luta entre deuses.
Outro grande problema do roteiro é a nossa visão maniqueísta de uma cultura judaico/cristã que vê sempre bem ou mal nas pessoas. Os deuses gregos são mais do que essa simples dicotomia. Então, coisas como Hades é ruim, ou "ainda há bondade em você, meu irmão", soam tolas. Há lutas e interesses entre eles, claro, cobiça, jogos de poder, traições. Mas, nada é simplesmente bom ou ruim, todos os deuses gregos são complexos, com camadas e justificativas para os seus atos, já que são reflexos das fraquezas humanas. Com o passar da história, essas camadas vão sendo melhor desenvolvidas, mas a primeira parte do filme sofre muito com essa questão. Da mesma forma como soa estranho Zeus dizer que os deuses estão morrendo, e morrendo, some tudo que eles criaram, mas com a morte de Poisedon, nada parece mudar. Isso sem falar que todos os outros deuses, tirando Zeus, Hades e Ares já estão mortos.
No elenco, Liam Neeson e Ralph Fiennes que estavam lamentáveis no primeiro filme, melhoram e muito aqui. Talvez porque Zeus e Hades se tornam mais humanos, menos caricatos, com possibilidades de cenas que exijam um pouco mais de interpretação. Mas, ainda assim é um desperdício de dois atores tão bons em um texto tão insignificante. Já Sam Worthington convence mais como seu Perseu, assim como Toby Kebbell traz frescor ao seu personagem Agenor, alívio cômico da trama. Já Edgar Ramírez está quase no piloto automático ao dar vida ao deus Ares.
Fúria de Titãs 2 carece de verossimilhança, de credibilidade naquilo que está sendo narrado. Tudo soa falso, estranho, desculpa para mais uma aventura. E, de fato, o filme se centra nesse quesito. O 3D, dessa vez existente ao contrário do filme anterior, funciona muito bem. A profundidade das cenas chama a atenção, as chamas caindo em diversas camadas e as pedras arremessadas em nossa frente ampliam o impacto das cenas de ação. Os seres mitológicos também estão muito bem construídos, principalmente Cronos, com um realismo impressionante e efeitos que chamam a atenção. Sendo assim, o ritmo acaba maquiando as falhas, se tornando um blockbuster com potencial de boas bilheterias novamente. Um divertimento fácil, sem muitas preocupações e aprofundamentos.
Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans, 2012 / EUA)
Direção: Jonathan Liebesman
Roteiro: Dan Mazeau, David Johnson e Greg Berlanti
Com: Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes, Edgar Ramírez, Toby Kebbell e Rosamund Pike
Duração: 99 min.
Estamos há dez anos da história anterior. Perseu voltou a ser um simples pescador, viúvo, que cria seu filho com toda a dedicação. Porém, um dia, Zeus o procura pedindo ajuda. A Era dos deuses está acabando, estão todos enfraquecendo e morrendo, pois as pessoas não estão mais rezando. Com isso, há um perigo iminente de seu pai, Cronos, libertar-se da prisão de Tártaro, ameaçando a vida no planeta. Seguindo a trajetória do herói, descrita por Christopher Vogler, Perseu nega a aventura, complicando em muito a vida de seu pai. Poseidon morre, Zeus é sequestrado por Hades e Ares, Cronos está prestes a se libertar. Restará a Perseu encontrar o semideus Agenor e tentar reverter essa situação apocalíptica.
Uma questão básica demonstra a fragilidade do roteiro: se os deuses estão enfraquecendo porque as pessoas não rezam mais, não seria mais prudente Perseu convencê-las a rezar? Exércitos reunidos para enfrentar Quimeras estavam com medo, era o primeiro ponto para retomar a fé. Mas, alguns poucos queriam apenas rezar por Ares, que havia mudado de lado. Se poderia rezar por Ares, por que não por Zeus? Mas, com isso, provavelmente não teríamos filme. Já que tudo se centra no enfraquecimento de Zeus, no fortalecimento de Ares e no despertar de Cronos. Interessante que, mais uma vez, os deuses estão resumidos aos irmãos originais, acrescido de Ares. O resto do Olimpo já está complemente esquecido, provavelmente reduzido a pó. Perdendo-se uma oportunidade maior de uma luta entre deuses.
Outro grande problema do roteiro é a nossa visão maniqueísta de uma cultura judaico/cristã que vê sempre bem ou mal nas pessoas. Os deuses gregos são mais do que essa simples dicotomia. Então, coisas como Hades é ruim, ou "ainda há bondade em você, meu irmão", soam tolas. Há lutas e interesses entre eles, claro, cobiça, jogos de poder, traições. Mas, nada é simplesmente bom ou ruim, todos os deuses gregos são complexos, com camadas e justificativas para os seus atos, já que são reflexos das fraquezas humanas. Com o passar da história, essas camadas vão sendo melhor desenvolvidas, mas a primeira parte do filme sofre muito com essa questão. Da mesma forma como soa estranho Zeus dizer que os deuses estão morrendo, e morrendo, some tudo que eles criaram, mas com a morte de Poisedon, nada parece mudar. Isso sem falar que todos os outros deuses, tirando Zeus, Hades e Ares já estão mortos.
No elenco, Liam Neeson e Ralph Fiennes que estavam lamentáveis no primeiro filme, melhoram e muito aqui. Talvez porque Zeus e Hades se tornam mais humanos, menos caricatos, com possibilidades de cenas que exijam um pouco mais de interpretação. Mas, ainda assim é um desperdício de dois atores tão bons em um texto tão insignificante. Já Sam Worthington convence mais como seu Perseu, assim como Toby Kebbell traz frescor ao seu personagem Agenor, alívio cômico da trama. Já Edgar Ramírez está quase no piloto automático ao dar vida ao deus Ares.
Fúria de Titãs 2 carece de verossimilhança, de credibilidade naquilo que está sendo narrado. Tudo soa falso, estranho, desculpa para mais uma aventura. E, de fato, o filme se centra nesse quesito. O 3D, dessa vez existente ao contrário do filme anterior, funciona muito bem. A profundidade das cenas chama a atenção, as chamas caindo em diversas camadas e as pedras arremessadas em nossa frente ampliam o impacto das cenas de ação. Os seres mitológicos também estão muito bem construídos, principalmente Cronos, com um realismo impressionante e efeitos que chamam a atenção. Sendo assim, o ritmo acaba maquiando as falhas, se tornando um blockbuster com potencial de boas bilheterias novamente. Um divertimento fácil, sem muitas preocupações e aprofundamentos.
Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans, 2012 / EUA)
Direção: Jonathan Liebesman
Roteiro: Dan Mazeau, David Johnson e Greg Berlanti
Com: Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes, Edgar Ramírez, Toby Kebbell e Rosamund Pike
Duração: 99 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Fúria de Titãs 2
2012-03-31T08:24:00-03:00
Amanda Aouad
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