Projeto X – Uma festa fora de controle
Há um consenso que o formato de mocumentário (falso documentário) está se esgotando. Desde que surgiu com A Bruxa de Blair, ele tem sido usado com frequência sob argumentos forçados, que parecem se justificar apenas pelo orçamento. Mas, o produtor Todd Phillips, homem por trás de filmes como Se Beber, Não Case e Um Parto de Viagem, sabe como atrair seu público e trouxe uma inovação ao gênero. Apesar de ser assustador o que acontece, Projeto X não é um filme de terror. É uma comédia de adolescentes adulta, e totalmente politicamente incorreta.
Thomas é um adolescente tímido e pouco popular na escola. Tão pouco sociável que seu próprio pai o classifica como loser, e não se preocupa em deixá-o sozinho em casa por um fim de semana. O que o pai não sabe é que um de seus poucos amigos, Costa, tem planos para mudar essa sina. Então, ele cria um plano para produzir a festa do século que intitula de Projeto X. Provavelmente com receio do público confundir com filme de ficção científica, os tradutores brasileiros acrescentaram o "singelo" subtítulo Uma festa fora de controle. Mas, é exatamente nisso que se resume o filme, a festa foge completamente do controle de Thomas, seus amigos Costa e JB, além dos dois surreais seguranças que eles contratam.
Como um bom mocumentário, o filme é feito com atores pouco conhecidos e com nomes parecidos dos seus personagens. Talvez o mais conhecido do público seja Miles Teller, que participou de Reencontrando a Felicidade e está no remake de Footloose. Mas, é praticamente impossível comprar a idéia de que é tudo real. A começar, temos aquelas situações sem sentido de a câmera seguir os personagens em todos os lugares, até em momentos totalmente improváveis. Depois, porque dando a informação de que Dax é mesmo cinegrafista e sua câmera é profissional (podemos vê-la no espelho, quando ele se filma) as imagens acabam se confundindo e muitas vezes não parece um mocumentário, mas um filme de ficção comum.
Esse recurso acaba tirando alguns dos problemas do gênero, como a imagem ruim e o ritmo lento do documental. Afinal, é uma festa, logo a música segue alta envolvendo personagens e platéia e temos vários clipes de situações diversas. Projeto X - Uma Festa Fora de Controle ainda tem outro fator a seu favor. Com o avanço da tecnologia, a maioria das pessoas tem câmera ou celular com boa qualidade, podendo variar os ângulos de gravação durante a festa sem soar falso. Isso dá ainda mais dinâmica ao filme que se sustenta pela eterna sensação de descontrole que os jovens estão. Como se tudo isso não bastasse, Dax, o cinegrafista é uma pessoa "estranha" e se tem duas ou três falas durante o filme é muito. Ou seja, ele quase não é personagem, o que quebra outra situação dos mocumentários tradicionais onde a visão de um personagem é nosso único canal com a história.
Mas, apesar de todos os recursos e ideias para nos dar essa sensação de festa inesquecível, o roteiro não é mesmo dos mais inspirados. O clichê do garoto que quer ser popular, já foi usado diversas vezes no cinema, tem até o bad boy que quer bater nele, a garota mais "gata" do colégio que vai se aproximar e a amiga que estava sempre ali e ele não notou. O que difere Projeto X dos outros é o tom politicamente incorreto. Mais do que comédias adolescentes que exploram sexualidade e descobertas em geral, aqui há uma ausência de censura, pudor e falso moralismo. Há sexo, drogas e muita música eletrônica envolvem a todos sem culpa. Nem mesmo as ameaças dos vizinhos, da polícia ou do traficante roubado é capaz de fazê-los parar. Nem mesmo uma casa destruída é capaz de fazê-los se arrepender. A cada momento que Thomas tem um acesso de desespero, algo acontece que o faz pensar que tudo valeu a pena.
Ainda assim, o roteiro é eficaz ao construir esse jogo de culpa e prazer do protagonista, enquanto seus amigos estão aproveitando todas as loucuras que programaram. Os personagens são bem apresentados no primeiro ato em poucas ações e palavras. Também não é muito difícil apresentá-los e compreender tudo que virá a partir de então. Thomas é o tímido, JB é o gordinho rejeitado e Costa é o forasteiro que não tem limites e acha que pode tudo. Isso sem falar no Dax que é o estranho. A preparação para festa ocupa pouca parte do filme, deixando a situação sair do controle aos poucos, com o aumento do número de convidados e participantes. A questão da câmera nos engana por causa das justificativas com os celulares e outras câmeras digitais, sendo o resultado satisfatório. Apenas em uma cena, em que Thomas conversa com seu pai ao lado da piscina, seria impossível ter uma câmera ali.
Mas, aos que pensam que na festa de Thomas vale tudo e o filme é quase um pornô soft, estão enganados. Não há genitálias à mostra, não há sexo explícito, e a utilização de drogas não é muito explorada, apesar de estar lá. Não há nenhuma cena chocante. Eles não aprofundam os dois temas. O choque é maior em relação a balbúrdia completa em que aquilo se transforma, principalmente em sua parte final. O exagero chega a um ponto que só poderia acontecer mesmo em filmes. Ainda assim envolve e nos deixa sem ação diante do desenrolar da trama. Afinal, a moral perdeu mesmo o seu espaço.
Projeto X - Uma Festa Fora de Controle é uma espécie de repaginada das antigas comédias adolescentes dos anos 80, como O Último Americano Virgem e Porky's, com o plus da era digital, com câmeras que gravam tudo e uma sensação maior de poder fazer o que quiser. Como proposta de Big Brother de uma rave, é até um espetáculo interessante de análise. E de maneira surpreendente consegue envolver e cumprir seu propósito, dando outro fôlego para os mocumentários, para alegria dos produtores.
Projeto X - Uma Festa Fora de Controle (Project X: 2012 / EUA)
Direção: Nima Nourizadeh
Roteiro: Michael Bacall, Matt Drake
Com: Thomas Mann, Oliver Cooper, Jonathan Daniel Brown e Miles Teller
Duração: 88 min.
Thomas é um adolescente tímido e pouco popular na escola. Tão pouco sociável que seu próprio pai o classifica como loser, e não se preocupa em deixá-o sozinho em casa por um fim de semana. O que o pai não sabe é que um de seus poucos amigos, Costa, tem planos para mudar essa sina. Então, ele cria um plano para produzir a festa do século que intitula de Projeto X. Provavelmente com receio do público confundir com filme de ficção científica, os tradutores brasileiros acrescentaram o "singelo" subtítulo Uma festa fora de controle. Mas, é exatamente nisso que se resume o filme, a festa foge completamente do controle de Thomas, seus amigos Costa e JB, além dos dois surreais seguranças que eles contratam.
Como um bom mocumentário, o filme é feito com atores pouco conhecidos e com nomes parecidos dos seus personagens. Talvez o mais conhecido do público seja Miles Teller, que participou de Reencontrando a Felicidade e está no remake de Footloose. Mas, é praticamente impossível comprar a idéia de que é tudo real. A começar, temos aquelas situações sem sentido de a câmera seguir os personagens em todos os lugares, até em momentos totalmente improváveis. Depois, porque dando a informação de que Dax é mesmo cinegrafista e sua câmera é profissional (podemos vê-la no espelho, quando ele se filma) as imagens acabam se confundindo e muitas vezes não parece um mocumentário, mas um filme de ficção comum.
Esse recurso acaba tirando alguns dos problemas do gênero, como a imagem ruim e o ritmo lento do documental. Afinal, é uma festa, logo a música segue alta envolvendo personagens e platéia e temos vários clipes de situações diversas. Projeto X - Uma Festa Fora de Controle ainda tem outro fator a seu favor. Com o avanço da tecnologia, a maioria das pessoas tem câmera ou celular com boa qualidade, podendo variar os ângulos de gravação durante a festa sem soar falso. Isso dá ainda mais dinâmica ao filme que se sustenta pela eterna sensação de descontrole que os jovens estão. Como se tudo isso não bastasse, Dax, o cinegrafista é uma pessoa "estranha" e se tem duas ou três falas durante o filme é muito. Ou seja, ele quase não é personagem, o que quebra outra situação dos mocumentários tradicionais onde a visão de um personagem é nosso único canal com a história.
Mas, apesar de todos os recursos e ideias para nos dar essa sensação de festa inesquecível, o roteiro não é mesmo dos mais inspirados. O clichê do garoto que quer ser popular, já foi usado diversas vezes no cinema, tem até o bad boy que quer bater nele, a garota mais "gata" do colégio que vai se aproximar e a amiga que estava sempre ali e ele não notou. O que difere Projeto X dos outros é o tom politicamente incorreto. Mais do que comédias adolescentes que exploram sexualidade e descobertas em geral, aqui há uma ausência de censura, pudor e falso moralismo. Há sexo, drogas e muita música eletrônica envolvem a todos sem culpa. Nem mesmo as ameaças dos vizinhos, da polícia ou do traficante roubado é capaz de fazê-los parar. Nem mesmo uma casa destruída é capaz de fazê-los se arrepender. A cada momento que Thomas tem um acesso de desespero, algo acontece que o faz pensar que tudo valeu a pena.
Ainda assim, o roteiro é eficaz ao construir esse jogo de culpa e prazer do protagonista, enquanto seus amigos estão aproveitando todas as loucuras que programaram. Os personagens são bem apresentados no primeiro ato em poucas ações e palavras. Também não é muito difícil apresentá-los e compreender tudo que virá a partir de então. Thomas é o tímido, JB é o gordinho rejeitado e Costa é o forasteiro que não tem limites e acha que pode tudo. Isso sem falar no Dax que é o estranho. A preparação para festa ocupa pouca parte do filme, deixando a situação sair do controle aos poucos, com o aumento do número de convidados e participantes. A questão da câmera nos engana por causa das justificativas com os celulares e outras câmeras digitais, sendo o resultado satisfatório. Apenas em uma cena, em que Thomas conversa com seu pai ao lado da piscina, seria impossível ter uma câmera ali.
Mas, aos que pensam que na festa de Thomas vale tudo e o filme é quase um pornô soft, estão enganados. Não há genitálias à mostra, não há sexo explícito, e a utilização de drogas não é muito explorada, apesar de estar lá. Não há nenhuma cena chocante. Eles não aprofundam os dois temas. O choque é maior em relação a balbúrdia completa em que aquilo se transforma, principalmente em sua parte final. O exagero chega a um ponto que só poderia acontecer mesmo em filmes. Ainda assim envolve e nos deixa sem ação diante do desenrolar da trama. Afinal, a moral perdeu mesmo o seu espaço.
Projeto X - Uma Festa Fora de Controle é uma espécie de repaginada das antigas comédias adolescentes dos anos 80, como O Último Americano Virgem e Porky's, com o plus da era digital, com câmeras que gravam tudo e uma sensação maior de poder fazer o que quiser. Como proposta de Big Brother de uma rave, é até um espetáculo interessante de análise. E de maneira surpreendente consegue envolver e cumprir seu propósito, dando outro fôlego para os mocumentários, para alegria dos produtores.
Projeto X - Uma Festa Fora de Controle (Project X: 2012 / EUA)
Direção: Nima Nourizadeh
Roteiro: Michael Bacall, Matt Drake
Com: Thomas Mann, Oliver Cooper, Jonathan Daniel Brown e Miles Teller
Duração: 88 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Projeto X – Uma festa fora de controle
2012-03-17T08:49:00-03:00
Amanda Aouad
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