Meu Primeiro Casamento
Há tempos, a crítica em geral vem elogiando os filmes argentinos que chegam no país. Virou quase uma referência de obra de qualidade, sendo adjetivo para alguns filmes nacionais como Meu País, que lembra o estilo dos hermanos. Pois bem, agora, chega ao Brasil, Meu Primeiro Casamento, uma típica comédia no estilo brasileiro do início da retomada, só que com um acréscimo de um certo humor irônico inglês.
Meu Primeiro Casamento traz um casal no dia "mais importante de suas vidas" que, em vez de acontecer como o previsto, se torna uma sucessão de confusões graças a um pequeno deslize do noivo que muda tudo. Dirigido por Ariel Winograd, o filme é daquelas comédias cheias de cenas nonsense atrapalhadas e piadas de humor irônico. Não há excessos, nem apelos para cenas escatológicas ou grotescas, mas também não há muita criatividade para ir além, criar novos plots e fazer a narrativa ganhar um ritmo ágil como as boas comédias inglesas. O episódio que inicia toda a confusão acaba se arrastando até o final, nos deixando cansados em algum momento.
A linguagem inicialmente não-linear do roteiro, no entanto, nos chama a atenção e deixa curioso para aquele casal. A quebra da quarta parede, a conversa direta para a câmera de ambos, cada um em seu quarto, explicando o que aconteceu naquele fatídico dia, é ágil e engraçada, principalmente no contraponto das duas versões. Leonora e Adrián possuem personalidades completamente diferentes. E essas diferenças nos são apresentadas de uma forma bastante criativa e sucinta na apresentação em desenho. A vida dos dois é desenvolvida, ela sempre inteligente, ele sempre se deixando levar. Boa parte da adolescência passou jogando videogame, por exemplo.
Leonora tem uma personalidade forte, é uma mulher decidida, enquanto que Adrián é o chamado "bocó". Isso tudo nos leva ao plot da história, quando ele perde o que não deveria no telhado da casa e morre de medo da reação da noiva. Como a maior parte do filme é contada pela versão de Adrián, temos, então, uma Leonora ditadora, estressada, que cobra demais do noivo e nem mesmo aceita que seu primo cante no casamento deles. Uma chata e uma neurótica exagerada. E uma das formas de brincar com isso é falar de seus estudos de psicanálise com o livro de Lacan. São esses comentários irônicos que enriquecem o texto do filme, nos dando várias piadas nas entrelinhas.
Outro ponto que funciona muito bem com essa ironia é a trama à parte do padre e do rabino tentando chegar ao casamento. As conversas dos dois sobre religião e diferenças da Torá e da Bíblia são hilárias. A questão do celibato mesmo é uma piada pronta. Mas, tudo fica melhor ainda quando começam a discutir questões mais "profundas" como a teoria da evolução de Darwin. Ou quando resolvem fazer imitações que só eles acham que é a coisa mais engraçada do mundo. Isso sem falar das formas que começam a inventar para passar o tempo como brincar de pedra, papel e tesoura.
Apesar de um certo mistério do que vai acontecer, principalmente pelo início com algumas "pistas" misteriosas, o roteiro é previsível, com trapalhadas esperadas e resoluções pressentidas. Mas, mesmo assim, há criatividade em várias brincadeiras. Os clichês também não chegam a destruir o filme. E o inusitado da situação invertida na festa não deixa de ser um convite à falta de lógica por parte da platéia. E funciona, principalmente pela naturalidade dos atores e ritmo da montagem. Mas, acaba cansando em algum momento, por não ter tantos desdobramentos. A situação a ser resolvida é praticamente a mesma durante toda a projeção.
Por fim, Meu Primeiro Casamento nos brinda com uma divertidíssima cena pós-créditos que amplia as gargalhadas dadas durante a projeção. Atenção que temos duas partes deste recurso. Uma após os primeiros créditos e outra após a segunda parte do mesmo. Então, vale a pena fica um pouco mais sentado na sala para ver o que os produtores prepararam. Uma boa comédia, sem grande criatividade, mas que é capaz de nos levar a boas risadas.
Meu Primeiro Casamento (Mi Primera Boda, 2011 / Argentina)
Direção: Ariel Winograd
Roteiro: Patricio Vega
Com: Natalia Oreiro, Daniel Hendler e Imanol Arias
Duração: 102 min.
Meu Primeiro Casamento traz um casal no dia "mais importante de suas vidas" que, em vez de acontecer como o previsto, se torna uma sucessão de confusões graças a um pequeno deslize do noivo que muda tudo. Dirigido por Ariel Winograd, o filme é daquelas comédias cheias de cenas nonsense atrapalhadas e piadas de humor irônico. Não há excessos, nem apelos para cenas escatológicas ou grotescas, mas também não há muita criatividade para ir além, criar novos plots e fazer a narrativa ganhar um ritmo ágil como as boas comédias inglesas. O episódio que inicia toda a confusão acaba se arrastando até o final, nos deixando cansados em algum momento.
A linguagem inicialmente não-linear do roteiro, no entanto, nos chama a atenção e deixa curioso para aquele casal. A quebra da quarta parede, a conversa direta para a câmera de ambos, cada um em seu quarto, explicando o que aconteceu naquele fatídico dia, é ágil e engraçada, principalmente no contraponto das duas versões. Leonora e Adrián possuem personalidades completamente diferentes. E essas diferenças nos são apresentadas de uma forma bastante criativa e sucinta na apresentação em desenho. A vida dos dois é desenvolvida, ela sempre inteligente, ele sempre se deixando levar. Boa parte da adolescência passou jogando videogame, por exemplo.
Leonora tem uma personalidade forte, é uma mulher decidida, enquanto que Adrián é o chamado "bocó". Isso tudo nos leva ao plot da história, quando ele perde o que não deveria no telhado da casa e morre de medo da reação da noiva. Como a maior parte do filme é contada pela versão de Adrián, temos, então, uma Leonora ditadora, estressada, que cobra demais do noivo e nem mesmo aceita que seu primo cante no casamento deles. Uma chata e uma neurótica exagerada. E uma das formas de brincar com isso é falar de seus estudos de psicanálise com o livro de Lacan. São esses comentários irônicos que enriquecem o texto do filme, nos dando várias piadas nas entrelinhas.
Outro ponto que funciona muito bem com essa ironia é a trama à parte do padre e do rabino tentando chegar ao casamento. As conversas dos dois sobre religião e diferenças da Torá e da Bíblia são hilárias. A questão do celibato mesmo é uma piada pronta. Mas, tudo fica melhor ainda quando começam a discutir questões mais "profundas" como a teoria da evolução de Darwin. Ou quando resolvem fazer imitações que só eles acham que é a coisa mais engraçada do mundo. Isso sem falar das formas que começam a inventar para passar o tempo como brincar de pedra, papel e tesoura.
Apesar de um certo mistério do que vai acontecer, principalmente pelo início com algumas "pistas" misteriosas, o roteiro é previsível, com trapalhadas esperadas e resoluções pressentidas. Mas, mesmo assim, há criatividade em várias brincadeiras. Os clichês também não chegam a destruir o filme. E o inusitado da situação invertida na festa não deixa de ser um convite à falta de lógica por parte da platéia. E funciona, principalmente pela naturalidade dos atores e ritmo da montagem. Mas, acaba cansando em algum momento, por não ter tantos desdobramentos. A situação a ser resolvida é praticamente a mesma durante toda a projeção.
Por fim, Meu Primeiro Casamento nos brinda com uma divertidíssima cena pós-créditos que amplia as gargalhadas dadas durante a projeção. Atenção que temos duas partes deste recurso. Uma após os primeiros créditos e outra após a segunda parte do mesmo. Então, vale a pena fica um pouco mais sentado na sala para ver o que os produtores prepararam. Uma boa comédia, sem grande criatividade, mas que é capaz de nos levar a boas risadas.
Meu Primeiro Casamento (Mi Primera Boda, 2011 / Argentina)
Direção: Ariel Winograd
Roteiro: Patricio Vega
Com: Natalia Oreiro, Daniel Hendler e Imanol Arias
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Meu Primeiro Casamento
2012-04-05T08:17:00-03:00
Amanda Aouad
Ariel Winograd|cinema latino|comedia|critica|Daniel Hendler|
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