Paraísos Artificiais :: Filme | Cinema | Crítica :: CinePipocaCult

Paraísos Artificiais :: Filme | Cinema | Crítica :: CinePipocaCult :: bom cinema independente de estilo

CinePipocaCult : blog de cinema

recentes

Paraísos Artificiais

Paraísos ArtificiaisApós produzir filmes como Tropa de Elite e Ônibus 174, e dirigir o documentário Estamira, Marcos Prado dirige seu primeiro logametragem de ficção. Paraísos Artificiais é uma viagem pelas raves, drogas sintéticas e universo jovem atual de uma maneira bastante estética, o fraco é mesmo a história que liga tudo isso.

A história em três momentos distintos, é centrada em Nando e Érika. Ela, uma DJ de sucesso, ele, uma pessoa em busca de seu caminho. Suas vidas se cruzam por duas vezes, em uma rave no Recife e na cidade de Amsterdã. Porém, a vida de ambos é marcada por experiências traumáticas, drogas e escolhas que os afasta e aproxima, envolvendo outras pessoas como Lara, a "alma gêmea" de Érika, Patrick, um grande amigo de Nando, e Lipe, o irmão mais novo dele.

Paraísos ArtificiaisNão deixa de ser instigante a forma como um roteiro sobre quase nada, é desenvolvido de uma forma que aguça a curiosidade a todo momento por sua construção não-linear. A chave da história está no passado, não no presente e a maior parte é mesmo narrada em flashback. Cansa apenas essa introdução inicial, começando no "futuro" de Nando, retornando a Amsterdã, para retornar ao Recife e com isso ir amarrando as pontas soltas que explica tudo aquilo.

Curioso é, sem dúvidas, mas as justificativas são tolas. São momentos de perda de controle, de escolhas erradas e vazio existencial de uma geração realmente artificial. Nesse ponto, o título do filme é a escolha mais feliz de todas. Nos envolvemos com esses jovens, acreditamos nas viagens deles, seja através de drogas, curiosidades ou sentimentos. Mas, não sentimos consistência em nenhum deles. Nos parecem um estereótipo de tolos que não nos convencem de suas reais motivações. Mas isso, seja talvez o próprio retrato da geração perdida, sem uma ideologia para viver.

Paraísos ArtificiaisPorque, apesar do roteiro frágil, muito bem disfarçado pela escolha da não-linearidade, Paraísos Artificiais funciona bem por sua construção estética. E nisso, não estou falando dos "polêmicos" de Nathalia Dill que foram tolamente propagados ao quatro ventos como se fosse o único chamariz do filme. A fotografia trabalhado pelo próprio Prado com o fotógrafo Lula Carvalho, tem momentos muito inspirados. São sequências inteiras de muita música eletrônica, com jovens em sensações de êxtase, com um visual incrivelmente envolvente.

A direção de arte da rave e das boates, a cena-chave da tinta de luz negra, as passagens que retratam as alucinações seja na praia, entre búfalos, ou nas própria tendas. Os detalhes do som abafado e câmera lenta, tudo é muito bem pensado e construído para retratar esse universo com fidelidade, sem julgamentos, sem condenações, nem apologias. Afinal, há também as consequências de cada ato, sejam eles bons ou ruins. A concepção das situações, então, é muito bem feita, apesar da pouca consistência do que tem a ser dito.

Paraísos ArtificiaisHá também encontro e embate de gerações. Seja na postura liberal compreensiva do pai de Nando, ou na forma perdida como age sua mãe. Mas, principalmente na figura do personagem de Roney Villela, um hippie saído de Woodstock, que serve como uma espécie de conselheiro filosófico tanto de Érika quanto de Nando em diversos momentos. São dele, frases de efeito como "só por querer ser, você já é", para Nando, ou "sabedoria demais enjoa", para Érika. É uma figura icônica que funciona bem naquele cenário.

Paraísos Artificiais é então, uma grande viagem, quase uma construção documental do mundo das músicas eletrônicas e drogas sintéticas. Mas, com personagens e história frágeis que pouco justificam as atitudes que vemos em tela. Um retrato de uma grande irresponsabilidade, talvez, ou de escolhas ruins. Mas, ainda assim, uma experiência interessante de se ver na tela dos cinemas por toda a sua construção estética.


Paraísos Artificiais (Paraísos Artificiais, 2012 / Brasil)
Direção: Marcos Prado
Roteiro: Pablo Padilla, Cristiano Gualda e Marcos Prado
Com: Nathalia Dill, Lívia de Bueno, Luca Bianchi, Bernardo Melo Barreto, Divana Brandão, Emílio Orciollo Neto
Duração: 96 min.

Comentários (6)

Carregando... Logando...
  • Logado como
Amanda , a frase mais marcante do velho hippie pra mim foi:" As drogas nao inventam nada, apenas potencializam aquilo que voce guarda dentro de voce, para o bem ou para o mal". Eu concordo contigo quando escreve que meio que se traduz uma geracao realmente artificial que é a nossa, sem ditadura e outras coisas para levantarmos bandeira, parabéns pelo texto.
1 resposta · ativo 670 semanas atrás
Sim, Diogo, essa frase também é marcante e bastante interessante. Obrigada.
Eu não vejo um roteiro tão vazio assim no filme. Como você memso colocou, a falta de perspectiva dos jovens refletem justamente a ausência de um propósto de vida que ele pudessem construir ou ter já determinado. Vejo o filme como uma forma de dar vazão às descobertas e experiências nas quais eles acabam por esbarrar nas suas vidas, sejam sexualmente ou em relação ao uso de drogas. Sobre essas últimas, acho que o filme é bastante feliz em nem denegrir, nem valorirar seu uso. Elas estão presentes na vida desses jovens e há quem encontre perdição nelas e outros não. Mas o que me incomoda mesmo no filme é um certo apego forçado a crenças de "destino" que fará cruzar a vida dos protagonista em dois momentos distintos, que trazem junto alguns furos de roteiro no meio.
1 resposta · ativo 670 semanas atrás
Concordo, Rafael, mas quando falo do roteiro vazio, é exatamente a construção falha dele, das histórias, do destino, dos furos que gera, não exatamente do argumento. A ideia de retratar esses jovens vazios, artificiais é interessante sim, mas acho que o filme se perde um pouco nesse propósito criando um triângulo amoroso irreal e focando nesses personagens de maneira esquisita. E realmente, o fato de não julgar as drogas, nem as escolhas é um ponto positivo.
Estou pra conferir, acho que o cinema nacional anda caminhando mais esses últimos 5 anos - observo uma criatividade e um senso de "sair da zona de conforto de explorar só a criminalidade/favela". Fora que admiro Dill e acho que sua atuação aqui deve surpreender. Beijo
1 resposta · ativo 669 semanas atrás
Sim, isso é o mais interessante, Cris, a saída da zona de conforto, os novos temas, as ousadias até do cinema nacional nos últimos tempos.

bjs

Postar um novo comentário

Comments by

CinePipocaCult :: bom cinema independente de estilo Designed by Templateism Copyright © 2014

Tecnologia do Blogger.