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Filme brasileiro tem estreia transmidia

Menos que nadaPode o amor levar à loucura? E o contrário? Pode nos salvar dela? Esquizofrenia. Psicose. Perturbação mental. Vidas que se dividem entre antes do surto e depois do surto. Tudo isso faz parte do universo do filme “Menos que nada” do diretor Carlos Gerbase (“3 Efes” e “Tolerância”) que estreia no dia 20 de julho. Porém, a grande novidade é a forma como o filme será lançado: em uma ação multimídia nos cinemas, em DVD e na internet via streaming. A proposta da produção é facilitar o acesso do público ao cinema nacional e ampliar a discussão sobre o sistema manicomial e a saúde pública no Brasil, abordados no longa-metragem.

Premiado no concurso para mídias digitais da Petrobrás em 2010, a trama do longa-metragem gira ao redor de “Dante” (Felipe Kannenberg), que está internado num hospital psiquiátrico com diagnóstico de esquizofrenia. Ele não fala com ninguém, nem recebe visitas. A Dra. Paula (Branca Messina), uma jovem psiquiatra, se interessa por Dante ao vê-lo surtar no pátio do hospital. Disposta a desvendar as relações sociais do seu paciente, a médica faz uma série de entrevistas com pessoas que conviviam com Dante antes do internamento e que contam sobre seu passado.

Esta temática, de alcance universal, proporcionará uma reflexão sobre a doença mental, que permanece como uma espécie de continente inexplorado e quase desconhecido, embora atinja parcela significativa da população brasileira. E isto chama a atenção para essa nova produção da Prana Filmes de Porto Alegre, pois fala do particular de uma maneira universal. E com um tema extremamente importante para a nossa sociedade que ainda hoje não consegue lidar com os doentes mentais.

Menos que nadaInspirado pelo conto “O Diário de Redegonda”, do médico e escritor austríaco Arhur Schnitzler (1862-1931), o diretor Carlos Gerbase quis aprofundar esse tema em um "drama psicológico, embora também tenha alguns traços de suspense e erotismo", define o diretor. Ainda segundo Gerbase, "Schnitzler era um arguto observador do comportamento humano - em suas glórias e em suas misérias - e a adaptação procurou manter esse caráter analítico da sociedade, que pode ser inferido a partir dos dramas individuais. Para isso, foi fundamental colocar a trama num contexto brasileiro e mais próximo ao espectador atual. Em vez de Viena, Porto Alegre. Em vez de final do século 19, início do 21".

Para movimentar essa discussão e fazer as pessoas refletirem sobre o filme e o assunto, “Menos que Nada” promoverá uma forte interação com o público na internet através do site oficial do filme e em suas redes sociais: Facebook e Twitter. Lá, o internauta poderá encontrar informações sobre produção, elenco, curiosidades, estudos sobre o tema, análises de psiquiatras e psicanalistas, com a proposta de gerar discussões sobre esses temas e trazer pessoas para socializar dentro desse universo. Também serão realizadas promoções e desafios sobre o filme com os usuários.


Por que fazer Menos que Nada? - por Carlos Gerbase:
O tema da imaginação está bem presente em meus últimos filmes. Em "Tolerância" (2000), um editor de fotografias usava tecnologias digitais para alterar as imagens, adequando-as ao gosto de público (em seu trabalho profissional) e às suas próprias fantasias (ao navegar na internet com o nick "Ivanhoé" e criar imagens falsas de uma garota por quem se apaixonou). A sua imaginação acaba trazendo problemas bem concretos ao seu casamento. Em "Sal de Prata" (2005), uma economista bem sucedida tentava descobrir, em roteiros de filmes encontrados no computador do namorado recentemente falecido, conexões entre a ficção e a realidade de suas vidas. Incapaz de desvelar esta relação, ela própria começa a imaginar um passado, baseado em seus maiores temores. Em "3 Efes", a imaginação, chamada agora de "fasma", é explicitamente citada como um dos aspectos fundamentais da existência humana, ao lado da fome e do sexo. Uma jovem estudante é obrigada a prostituir-se para sustentar o pai e o irmão, descobrindo que, antes de "ser" uma garota de programa ela precisa imaginar-se como tal. Ou seja, precisa descobrir uma linguagem que componha esse novo personagem.

Minha motivação principal em “Menos que nada” é dar mais um passo nesse conjunto de reflexões sobre a imaginação humana. Pretendo que esse passo ultrapasse os limites da imaginação dita normal e penetre no campo das imaginações ditas patológicas. Dante, o personagem principal de “Menos que nada”, perdeu a noção da realidade, e, em vez de usar a linguagem para construir um mundo mental capaz de dar significados à existência, é “usado” pela linguagem, transformando-se num ente de significados incompreensíveis. A psiquiatria e a psicanálise criaram um grande conjunto de denominações para as patologias mentais – sendo a esquizofrenia e a psicose as que mais se aproximam do estado de Dante – mas pretendo mostrar que essas classificações são inúteis se não houver, na base do tratamento, o reconhecimento do doente como um ser humano completo, em suas dimensões físicas e psíquicas.

Uma curiosidade:
A trilha incidental de "Menos que Nada" tem apenas uma música com letra: “Uma tarde de outono de 73″, de Julio Reny que é tocada nos créditos finais. Vejam o clipe feito especialmente para o filme, com direção do próprio Carlos Gerbase e do diretor de fotografia de Marcelo Nunes. Edição de Murilo Biff.



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