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Peter Cattaneo
Robert Carlyle
Tom Wilkinson
Ou Tudo ou Nada
Ou Tudo ou Nada
"The Full Monty" é uma expressão britânica que significa "a coisa toda". O título em português desse filme de 1997 não deixa de ser, então, uma boa sacada. Ou Tudo ou Nada é isso, uma aposta sem concessões de seis homens desempregados e desesperados que resolvem fazer um show de striptease tirando tudo. Uma forma de chamar a atenção do público local, já que seus dotes físicos não são dos mais admiráveis.
A grande graça de Ou Tudo ou Nada está exatamente aí, nesses homens comuns, ex-trabalhadores de fábricas de aço da cidade de Sheffield, que se vêem perdidos depois do declínio do setor. Entre eles está Gaz, vivido por Robert Carlyle, o líder e mentor da ideia que tem uma motivação a mais para tudo isso: a guarda de seu filho. Sem dinheiro para sustentá-lo, Gaz se vê pressionado pela situação da ex-mulher e seu novo marido, resolvendo partir para essa empreitada maluca.
O roteiro de Simon Beaufoy, como uma boa comédia inglesa, tem um humor refinado que não apela para situações pastelão, escrachadas ou apelativas. E o tema tinha tudo para cair em um desses erros, já que estamos lidando com um grupo de homens desengonçados, alguns velhos, outros gordos ou ainda magros demais. Mas, as próprias situações já são engraçadas, por vezes por serem ridículas, como a primeira tentativa de ensaio de Gaz ao som de "You Sexy Thing".
Parando para pensar, não tem mesmo muita coisa para dar risada. Mas, Peter Cattaneo nos leva em um ritmo leve e impessoal, nosso olhar é de fora, por isso, nos divertimos com aquelas atrapalhadas, com os ensaios que só funcionam quando se fala em linguagem de futebol, com a seleção que traz momentos tragi-cômicos como a "imitação" do pulo na parede de "Dançando na Chuva". E o mais interessante é a forma como Cattaneo constrói esse cômico a partir das caras incrédulas deles observando os candidatos, ou do filho de Gaz e as parentes de outro membro do grupo, Horse, assistindo aos ensaios.
Outro ponto a ser analisado é a construção dos personagens, temos suas personalidades pouco desenvolvidas e seus dramas pouco aprofundados. Apenas vislumbres do sofrimento de Gaz pela possível perda do filho, de Gerald, vivido por Tom Wilkinson, que não tem a coragem de contar sua situação a esposa e de Dave, o gordinho da turma interpretado pelo ator Mark Addy, que se sente mal com seu corpo e acha que sua esposa o está traindo. Esse distanciamento estratégico pode ser um reflexo da própria teoria do cômico. Afinal, só rimos daquilo que não nos afeta. Se Peter Cattaneo e Simon Beaufoy desenvolvessem demais o drama que aqueles personagens vivenciavam era capaz de chorarmos com eles em vez de rirmos.
Afinal, todo o filme é construído por esse viés de uma comédia a partir de uma situação trágica. É o desespero que une aqueles homens para um ato extremo. Tirar a roupa em público torna-se apenas um objeto de desejo, não é fácil. O próprio incômodo de ter que dançar e tirar a roupa constrói situações cômicas como quando estão na casa de Gerald e Gaz pede que tirem as roupas: "se não conseguirmos tirar a roupa entre nós, como conseguiremos para um público?"
Então, de forma sutil também, esse "fazer ou não fazer" é tratado no roteiro em algumas tentativas de desistência e retorno. E até aqui Peter Cattaneo usa o humor para resolver a situação como na já famosa cena da fila de desemprego quando o grupo não resiste aos acordes de "Hot Stuff", de Donna Summer.
Indicado a Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original no Oscar de 1998, e grande vencedor do Bafta daquele ano, Ou Tudo ou Nada é daquelas comédias que fica na lembrança e imaginário geral. Bem feita, divertida e sem apelações, que ainda traz em seu subtexto, um problema sério e bastante comum em nossa sociedade, o desemprego e crise social.
Ou Tudo ou Nada (The Full Monty, 1997 / Inglaterra)
Direção: Peter Cattaneo
Roteiro: Simon Beaufoy
Com: Robert Carlyle, Tom Wilkinson e Mark Addy
Duração: 91 min
A grande graça de Ou Tudo ou Nada está exatamente aí, nesses homens comuns, ex-trabalhadores de fábricas de aço da cidade de Sheffield, que se vêem perdidos depois do declínio do setor. Entre eles está Gaz, vivido por Robert Carlyle, o líder e mentor da ideia que tem uma motivação a mais para tudo isso: a guarda de seu filho. Sem dinheiro para sustentá-lo, Gaz se vê pressionado pela situação da ex-mulher e seu novo marido, resolvendo partir para essa empreitada maluca.
O roteiro de Simon Beaufoy, como uma boa comédia inglesa, tem um humor refinado que não apela para situações pastelão, escrachadas ou apelativas. E o tema tinha tudo para cair em um desses erros, já que estamos lidando com um grupo de homens desengonçados, alguns velhos, outros gordos ou ainda magros demais. Mas, as próprias situações já são engraçadas, por vezes por serem ridículas, como a primeira tentativa de ensaio de Gaz ao som de "You Sexy Thing".
Parando para pensar, não tem mesmo muita coisa para dar risada. Mas, Peter Cattaneo nos leva em um ritmo leve e impessoal, nosso olhar é de fora, por isso, nos divertimos com aquelas atrapalhadas, com os ensaios que só funcionam quando se fala em linguagem de futebol, com a seleção que traz momentos tragi-cômicos como a "imitação" do pulo na parede de "Dançando na Chuva". E o mais interessante é a forma como Cattaneo constrói esse cômico a partir das caras incrédulas deles observando os candidatos, ou do filho de Gaz e as parentes de outro membro do grupo, Horse, assistindo aos ensaios.
Outro ponto a ser analisado é a construção dos personagens, temos suas personalidades pouco desenvolvidas e seus dramas pouco aprofundados. Apenas vislumbres do sofrimento de Gaz pela possível perda do filho, de Gerald, vivido por Tom Wilkinson, que não tem a coragem de contar sua situação a esposa e de Dave, o gordinho da turma interpretado pelo ator Mark Addy, que se sente mal com seu corpo e acha que sua esposa o está traindo. Esse distanciamento estratégico pode ser um reflexo da própria teoria do cômico. Afinal, só rimos daquilo que não nos afeta. Se Peter Cattaneo e Simon Beaufoy desenvolvessem demais o drama que aqueles personagens vivenciavam era capaz de chorarmos com eles em vez de rirmos.
Afinal, todo o filme é construído por esse viés de uma comédia a partir de uma situação trágica. É o desespero que une aqueles homens para um ato extremo. Tirar a roupa em público torna-se apenas um objeto de desejo, não é fácil. O próprio incômodo de ter que dançar e tirar a roupa constrói situações cômicas como quando estão na casa de Gerald e Gaz pede que tirem as roupas: "se não conseguirmos tirar a roupa entre nós, como conseguiremos para um público?"
Então, de forma sutil também, esse "fazer ou não fazer" é tratado no roteiro em algumas tentativas de desistência e retorno. E até aqui Peter Cattaneo usa o humor para resolver a situação como na já famosa cena da fila de desemprego quando o grupo não resiste aos acordes de "Hot Stuff", de Donna Summer.
Indicado a Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original no Oscar de 1998, e grande vencedor do Bafta daquele ano, Ou Tudo ou Nada é daquelas comédias que fica na lembrança e imaginário geral. Bem feita, divertida e sem apelações, que ainda traz em seu subtexto, um problema sério e bastante comum em nossa sociedade, o desemprego e crise social.
Ou Tudo ou Nada (The Full Monty, 1997 / Inglaterra)
Direção: Peter Cattaneo
Roteiro: Simon Beaufoy
Com: Robert Carlyle, Tom Wilkinson e Mark Addy
Duração: 91 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Ou Tudo ou Nada
2012-07-29T08:45:00-03:00
Amanda Aouad
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