Tapete Vermelho
Há filmes brasileiros que surgem e se perdem sem muita atenção do grande público. Tapete Vermelho é um caso interessante. Uma ode ao cinema, principalmente ao artista popular Amácio Mazzaropi que fez mais de trinta filmes entre as décadas de 50 e 70, mas que mostra exatamente o descaso a ele no interior do nosso país.
Quinzinho é o típico caipira, dono de uma pequena terra no interior distante do estado de São Paulo. Ele nunca esquece o tempo em que era criança e seu pai o levava para ver os filmes de Mazzaropi no cinema e fez uma promessa de que quando seu filho crescesse um pouco o levaria também. Como o garoto Neco tem nove anos, Quinzinho coloca as coisas em cima de seu burro Policarpo e parte com mulher e filho em busca de um cinema que ainda esteja funcionando, e mais difícil que isso, que passe um filme de Mazzaropi.
A homenagem ao artista brasileiro é clara. Não é qualquer filme, não simplesmente a magia do cinema. Quinzinho quer recordar aquele homem na tela que é um retrato dele mesmo, um caipira, um jeca, mas esperto que consegue sempre o que quer. Em suas histórias contadas ao filho e em sua jornada pelas estradas do Brasil, ídolo e personagem se fundem de uma forma bastante interessante.
Em determinado momento, a busca por um cinema é interrompida por envolvimento com o MST (Movimento dos Sem Terra), polícia, sumiço de filho, violeiros e até o encontro com o demo em pessoa. Mas, o que parece ser um desvio de assunto é, na verdade, uma auto-afirmação da sertanejo, seu mundo, sua linguagem, seus "causos", tudo isso que Mazzaropi de certa forma representava em tela. Nesse jogo fílmico de mistura é que a jornada de Quinzinho se torna ainda mais interessante.
É sutil também a crítica à própria transformação da projeção cinematográfica em nosso país. A forma como a cada cidade Quinzinho vai descobrindo que o cinema virou uma loja que tenta lhe vender uma televisão, um mercado ou uma igreja. E quando finalmente encontra um cinema depois de muitas cidades e andanças, claro que não tem Mazzaropi, mas os cartazes denunciam que só passa ali filmes blockbusters americanos.
"Pra que caipira quer cinema?" Pergunta umas das pessoas por onde Quinzinho passa. Essa é uma das visões que instiga em Tapete Vermelho, na própria transformação no cenário de nossa época. As vezes é difícil assimilar que nas décadas de 40, 50 e 60 o cinema era algo tão popular em nosso país, lotando salas para ver filmes locais, com temas bens próximos das pessoas mais simples. Um cinema de qualidade das chanchadas da Atlântida, dos dramas de Anselmo Duarte e da simplicidade de Mazzaropi. Cinema de rua, próximo ao seu público e sem tanta cultura fast food dos grandes shoppings.
Outro ponto que chama a atenção em Tapete Vermelho é a quantidade de participações especiais. Matheus Nachtergaele, Gorete Milagres e o garoto Vinícius Miranda fazem a família protagonista, bem caracterizados, por sinal, sem trejeitos exagerados, apesar da caricatura fiel das pessoas do campo. Mas, em seu caminho, eles encontram diversas pessoas diferentes que o ajudam ou atrapalham abrindo portas para diversos nomes como Jackson Antunes, Paulo Betti, Rosi Campos, Cássia Kiss, Ailton Graça e Debora Duboc.
Na simplicidade do homem do campo, no retrato de sua vida humilde, em suas crenças, rituais e sonhos, Tapete Vermelho se utiliza do cinema. O verdadeiro homenageado através da figura de Amácio Mazzaropi é o próprio sertanejo, já quase esquecido no cinema nacional. Uma caricatura atual de algo ultrapassado e ridículo, mas que está na base de nossa cultura. Afinal, "a dor da saudade, quem é que não tem?"
Tapete Vermelho (Tapete Vermelho, 2005 / Brasil)
Direção: Luís Alberto Pereira
Roteiro: Luís Alberto Pereira e Rosa Nepomuceno
Com: Matheus Nachtergaele, Gorete Milagres, Vinícius Miranda, Jackson Antunes, Paulo Betti, Rosi Campos, Cássia Kiss, Ailton Graça e Debora Duboc.
Duração: 100 min.
Quinzinho é o típico caipira, dono de uma pequena terra no interior distante do estado de São Paulo. Ele nunca esquece o tempo em que era criança e seu pai o levava para ver os filmes de Mazzaropi no cinema e fez uma promessa de que quando seu filho crescesse um pouco o levaria também. Como o garoto Neco tem nove anos, Quinzinho coloca as coisas em cima de seu burro Policarpo e parte com mulher e filho em busca de um cinema que ainda esteja funcionando, e mais difícil que isso, que passe um filme de Mazzaropi.
A homenagem ao artista brasileiro é clara. Não é qualquer filme, não simplesmente a magia do cinema. Quinzinho quer recordar aquele homem na tela que é um retrato dele mesmo, um caipira, um jeca, mas esperto que consegue sempre o que quer. Em suas histórias contadas ao filho e em sua jornada pelas estradas do Brasil, ídolo e personagem se fundem de uma forma bastante interessante.
Em determinado momento, a busca por um cinema é interrompida por envolvimento com o MST (Movimento dos Sem Terra), polícia, sumiço de filho, violeiros e até o encontro com o demo em pessoa. Mas, o que parece ser um desvio de assunto é, na verdade, uma auto-afirmação da sertanejo, seu mundo, sua linguagem, seus "causos", tudo isso que Mazzaropi de certa forma representava em tela. Nesse jogo fílmico de mistura é que a jornada de Quinzinho se torna ainda mais interessante.
É sutil também a crítica à própria transformação da projeção cinematográfica em nosso país. A forma como a cada cidade Quinzinho vai descobrindo que o cinema virou uma loja que tenta lhe vender uma televisão, um mercado ou uma igreja. E quando finalmente encontra um cinema depois de muitas cidades e andanças, claro que não tem Mazzaropi, mas os cartazes denunciam que só passa ali filmes blockbusters americanos.
"Pra que caipira quer cinema?" Pergunta umas das pessoas por onde Quinzinho passa. Essa é uma das visões que instiga em Tapete Vermelho, na própria transformação no cenário de nossa época. As vezes é difícil assimilar que nas décadas de 40, 50 e 60 o cinema era algo tão popular em nosso país, lotando salas para ver filmes locais, com temas bens próximos das pessoas mais simples. Um cinema de qualidade das chanchadas da Atlântida, dos dramas de Anselmo Duarte e da simplicidade de Mazzaropi. Cinema de rua, próximo ao seu público e sem tanta cultura fast food dos grandes shoppings.
Outro ponto que chama a atenção em Tapete Vermelho é a quantidade de participações especiais. Matheus Nachtergaele, Gorete Milagres e o garoto Vinícius Miranda fazem a família protagonista, bem caracterizados, por sinal, sem trejeitos exagerados, apesar da caricatura fiel das pessoas do campo. Mas, em seu caminho, eles encontram diversas pessoas diferentes que o ajudam ou atrapalham abrindo portas para diversos nomes como Jackson Antunes, Paulo Betti, Rosi Campos, Cássia Kiss, Ailton Graça e Debora Duboc.
Na simplicidade do homem do campo, no retrato de sua vida humilde, em suas crenças, rituais e sonhos, Tapete Vermelho se utiliza do cinema. O verdadeiro homenageado através da figura de Amácio Mazzaropi é o próprio sertanejo, já quase esquecido no cinema nacional. Uma caricatura atual de algo ultrapassado e ridículo, mas que está na base de nossa cultura. Afinal, "a dor da saudade, quem é que não tem?"
Tapete Vermelho (Tapete Vermelho, 2005 / Brasil)
Direção: Luís Alberto Pereira
Roteiro: Luís Alberto Pereira e Rosa Nepomuceno
Com: Matheus Nachtergaele, Gorete Milagres, Vinícius Miranda, Jackson Antunes, Paulo Betti, Rosi Campos, Cássia Kiss, Ailton Graça e Debora Duboc.
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Tapete Vermelho
2012-07-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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