Grandes Cenas: O Pianista
Mais uma vez a música demonstra a sua força em uma cena. E aqui, acredito ser uma das suas utilizações mais emocionantes. Em meio à dor da Segunda Guerra, do desespero de um judeu fugitivo, de um momento em que um soldado alemão demonstra que também tem sentimentos.
Falo do filme O Pianista de Roman Polanski, em que o ator Adrien Brody interpreta o pianista polonês Wladyslaw Szpilman. Durante a invasão do exército alemão a Varsóvia, Szpilman consegue fugir ao cerco e se refugiar em prédios abandonados, sobrevivendo com o que encontra na esperança do fim da guerra. Todo o filme é construído com uma sensibilidade ímpar. Mas, a cena escolhida em específico, consegue traduzir um sentimento maior, que mesmo em meio ao caos, é possível extrair um pouco de humanidade.
A cena começa com Szpilman tentando abrir uma lata de comida. É possível ver todo o seu estado deplorável. Magro, sofrido, com problemas nas articulações. A expressão do ator Adrien Brody nos comove em cada gesto. É possível crer em seu desespero, apesar de uma rotina já quase conformada de sofrimento diário. A lata cai de suas mãos, já não tão ágeis, e rola pelo chão, encontrando os pés de um soldado. A câmera sobe e revela o rosto do alemão o observando.
É o primeiro ponto de virada da cena. O perigo real em nossa frente. O medo pelo protagonista que, descoberto, pode ir para o campo de concentração, ou ser fuzilado ali mesmo. O alemão o interroga, ele tenta responder, apesar do susto. Polanski enquadra sempre o alemão de baixo para cima e o pianista de cima para baixo, deixando claro em imagem quem domina quem ali. Mas, mais do que isso, o diretor tem o cuidado de, ao enquadrar o pianista, deixar a arma do alemão em primeiro plano, expondo para nós, o perigo real que aquilo representa.
A situação começa a mudar quando Szpilman responde que sua profissão era pianista. O alemão, provavelmente não esperava aquilo, e mesmo não acreditando, desce de seu ponto de conforto para testar aquele estranho homem. Ambos agora, parecem estar no mesmo nível, apesar de o alemão ainda representar alguma ameaça. O pianista se senta ao piano empoeirado que está ali. Detalhe que a sala é escura, com poucos fachos de luz vindos da janela, mas ilumina exatamente sua cabeça e suas mãos ao piano.
Enquanto ele se prepara, o alemão está em pé, ao lado do piano, e sua arma continua sendo enquadrada em primeiro plano, enquanto vemos o pianista. Apenas quando Szpilman começa a dedilhar os primeiros acordes da Balada nº 1, em Sol menor, Opus 23 de Chopin, a arma some. O alemão é enquadrado em seu desconforto e emoção, sentando-se em uma cadeira próxima para ouvir a música.
A câmera começa, então, a observar a transformação gradual de ambos. Szpilman vai se envolvendo com a música, soltando os dedos, se tornando um só com o instrumento musical. Os Planos variam de close de seu rosto para detalhes de suas mãos. Já o alemão tem as emoções à flor da pele, quase chora, sempre em um único plano. O pianista se torna agora o senhor da situação. Ele é enquadrado de baixo para cima, imponente em seu talento. Mas, interessante que o alemão nunca é visto de cima para baixo, mesmo que sentado na cadeira ouvindo emocionado a música.
Ele só aparece completamente entregue após a exibição completa, quando pergunta se o pianista é judeu e se está escondido ali. No momento em que Szpilman lhe mostra seu esconderijo no sotão a situação se inverte de uma maneira sutil. O pianista apesar da expressão frágil está ali em cima, olhando para o alemão que está embaixo, exposto. Ele tinha que tomar a atitude diante do judeu fugido, mas é incapaz depois da emoção que vivenciou. Só aí, ele demonstra que está vencido e vai embora.
É, ou não é uma bela cena? Vejam a cena completa para conferir os detalhes.
Falo do filme O Pianista de Roman Polanski, em que o ator Adrien Brody interpreta o pianista polonês Wladyslaw Szpilman. Durante a invasão do exército alemão a Varsóvia, Szpilman consegue fugir ao cerco e se refugiar em prédios abandonados, sobrevivendo com o que encontra na esperança do fim da guerra. Todo o filme é construído com uma sensibilidade ímpar. Mas, a cena escolhida em específico, consegue traduzir um sentimento maior, que mesmo em meio ao caos, é possível extrair um pouco de humanidade.
A cena começa com Szpilman tentando abrir uma lata de comida. É possível ver todo o seu estado deplorável. Magro, sofrido, com problemas nas articulações. A expressão do ator Adrien Brody nos comove em cada gesto. É possível crer em seu desespero, apesar de uma rotina já quase conformada de sofrimento diário. A lata cai de suas mãos, já não tão ágeis, e rola pelo chão, encontrando os pés de um soldado. A câmera sobe e revela o rosto do alemão o observando.
É o primeiro ponto de virada da cena. O perigo real em nossa frente. O medo pelo protagonista que, descoberto, pode ir para o campo de concentração, ou ser fuzilado ali mesmo. O alemão o interroga, ele tenta responder, apesar do susto. Polanski enquadra sempre o alemão de baixo para cima e o pianista de cima para baixo, deixando claro em imagem quem domina quem ali. Mas, mais do que isso, o diretor tem o cuidado de, ao enquadrar o pianista, deixar a arma do alemão em primeiro plano, expondo para nós, o perigo real que aquilo representa.
A situação começa a mudar quando Szpilman responde que sua profissão era pianista. O alemão, provavelmente não esperava aquilo, e mesmo não acreditando, desce de seu ponto de conforto para testar aquele estranho homem. Ambos agora, parecem estar no mesmo nível, apesar de o alemão ainda representar alguma ameaça. O pianista se senta ao piano empoeirado que está ali. Detalhe que a sala é escura, com poucos fachos de luz vindos da janela, mas ilumina exatamente sua cabeça e suas mãos ao piano.
Enquanto ele se prepara, o alemão está em pé, ao lado do piano, e sua arma continua sendo enquadrada em primeiro plano, enquanto vemos o pianista. Apenas quando Szpilman começa a dedilhar os primeiros acordes da Balada nº 1, em Sol menor, Opus 23 de Chopin, a arma some. O alemão é enquadrado em seu desconforto e emoção, sentando-se em uma cadeira próxima para ouvir a música.
A câmera começa, então, a observar a transformação gradual de ambos. Szpilman vai se envolvendo com a música, soltando os dedos, se tornando um só com o instrumento musical. Os Planos variam de close de seu rosto para detalhes de suas mãos. Já o alemão tem as emoções à flor da pele, quase chora, sempre em um único plano. O pianista se torna agora o senhor da situação. Ele é enquadrado de baixo para cima, imponente em seu talento. Mas, interessante que o alemão nunca é visto de cima para baixo, mesmo que sentado na cadeira ouvindo emocionado a música.
Ele só aparece completamente entregue após a exibição completa, quando pergunta se o pianista é judeu e se está escondido ali. No momento em que Szpilman lhe mostra seu esconderijo no sotão a situação se inverte de uma maneira sutil. O pianista apesar da expressão frágil está ali em cima, olhando para o alemão que está embaixo, exposto. Ele tinha que tomar a atitude diante do judeu fugido, mas é incapaz depois da emoção que vivenciou. Só aí, ele demonstra que está vencido e vai embora.
É, ou não é uma bela cena? Vejam a cena completa para conferir os detalhes.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: O Pianista
2012-08-28T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
Adrien Brody|drama|grandes cenas|Roman Polanski|
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