Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas-Metragens
O Formato de curtas-metragens sempre foi um campo fértil para a experimentação. Não por acaso é o formato escolhido por iniciantes e é também o que mais tem festivais e prêmios espalhados pelo país. Fora a internet que está povoada de boas tramas. Um site que sempre gosto de conferir é o Porta Curtas, patrocinado pela Petrobrás que tem tramas das mais variadas, de épocas, estados e gêneros diferentes.
Pensando nisso, o Canal Brasil criou um prêmio bastante interessante. Durante todo o ano de 2011, em diversos festivais espalhados pelo país, um grupo formado por jornalistas de diversos veículos de comunicação, escolheu e premiou dez curtas-metragens distintos, que levaram R$ 15.000,00 cada. Reunidos os finalistas, os apresentadores do canal irão decidir qual o melhor de todos que irá levar um prêmio de R$ 50.000,00. Mas, para o público não ficar de fora, desde 13 de agosto, estão à disposição os finalistas. E qualquer um pode votar em seu preferido até o dia 10 de setembro. O vencedor da categoria popular leva um iMac.
São dez filmes bastante diferentes, alguns de ficção, outros documentários, alguns tradicionais, outros experimentais. Como é normal alguns se destacam, entre eles, A Casa da Vó Neyde de Caio Cavechini que traz um corajoso depoimento sobre o problema do crack em família, Mens Sana In Corpore Sano de Juliano Dornelles pela linguagem experimental em uma história de excessos no cuidado com o corpo, São Silvestre de Lina Chamie pela emoção que consegue passar da pessoa comum na mais famosa prova de atletismo do país, Um Outro Ensaio de Natara Ney pela delicadeza da história e Ser Tão Cinzento de Henrique Dantas pelo resgate do filme ícone Manhã Cinzenta e pelas experimentações da linguagem.
Foram os que mais me chamaram a atenção, o que não significa que os outros cinco não sejam interessantes e dignos de sua apreciação ou voto. Um resumo abaixo dos dez finalistas e um convite para assisti-los na página do Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas-Metragens.
A Casa da Vó Neyde
Premiado na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Diretor: Caio Cavechini
O lema do DocTv diz: "quando a realidade parece ficção melhor fazer um documentário". Pois é, isso deve ter passado pela cabeça de Caio Cavechini quando abriu as portas da cada de sua avó, tão importante para sua família, para expor um problema cruel que seu tio estava vivendo. Dependente de crack e encostado na casa da mãe, Mauro parece alheio ao perigo e Caio consegue captar imagens incríveis de discussão entre ele e sua mãe, além de expor todo o sofrimento da senhora com aquela situação. Mesmo sem inovações na linguagem, o filme nos ganha pela força do tema.
Furico & Fiofó
Premiado no Anima Mundi – Festival Internacional de Animação do Brasil.
Diretor: Fernando Miller
Com uma linguagem simples e divertida, Fernando Miller nos apresenta a dupla Furico & Fiofó, dois meninos de rua que aprontam pela cidade. Mesmo de forma arteira, Miller faz de seus personagens porta-vozes também de crítica social a cada esmola negada, maus tratos sofridos ou perseguições do guarda.
Jiboia
Premiado no Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade Sexual.
Diretor: Rafael Lessa
Uma cabeleireira da Rua Augusta e uma adolescente filha de sua patroa. Jiboia traz uma trama de amor, sedução, perigo, ciúmes e crimes. Aurora é claramente uma mulher doente, sofrida, que cai no jogo da jovem Greicekelly. Não satisfeita com seu corpo, ela usa a amante que se finge de sua mãe para ir a um médico. Uma trama bem construída com a estética forte, condizente com o submundo que representa.
Mens Sana in Corpore Sano
Premiado no Cine PE – Festival do Audiovisual.
Diretor: Juliano Dornelles
Saúde e malhação parecem mesmo sinônimos, certo? O que o diretor Juliano Dornelles nos mostra é que mesmo o que parece bom, em excesso é um perigo. A trama com nuanças surreais chama a atenção pela linguagem experimental, com uma montagem ágil e efeitos interessantes para nos expor um alerta do exagero.
O Plantador de Quiabos
Premiado no Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema.
Diretor: Coletivo Santa Madeira
Definido como uma tragicomédia, o filme do Coletivo Santa Madeira tem mesmo uma nuança entre o cômico e o trágico. Sua linguagem simples, demonstrando as dificuldades de um agricultor em transportar sua colheita traz boas reviravoltas e um aprendizado interessante. Destaque para as atuações.
Praça Walt Disney
Premiado no Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo.
Diretores: Renata Pinheiro e Sergio Oliveira
O mais fraco do dez finalistas, nos mostra imagens que retratam problemas urbanos do bairro de Boa Viagem, no Recife. Em seu olhar cotidiano o filme traz problemas, alguns até de continuísmo como quando dois garotos enchem uma piscina com baldes de água tirados do mar, para que as crianças possam tomar banho em segurança, sem a ameaça de tubarões. Nos planos abertos, a piscina está vazia, enquanto cada plano detalhe a mostra quase transbordando dando até a dúvida se não são repetições dos planos. A comparação de fotos antigas com o cenário atual é o ponto alto da obra que ainda nos traz praças em imagens repetitivas que perdem a força da denúncia. Ainda assim, tem momentos interessantes.
São Silvestre
Premiado no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários.
Diretor: Lina Chamie
Lina Chamie conseguiu pegar a emoção da pessoa comum em seu filme. Uma espécie de dossiê dos bastidores da São Silvestre, mostra diversos tipos de pessoas e seu prazer de estar ali correndo. A emoção da paulistana que fala do orgulho da cidade parar para ela por alguns minutos, o pai que está ensinando ao filho, os deficientes físicos que marcam presença, a superação. Com uma linguagem simples e honesta, o filme emociona e traz identificação aos que gostam de correr nas ruas.
Ser Tão Cinzento
Premiado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Diretor: Henrique Dantas
Manhã Cinzenta é um filme ícone na história do cinema brasileiro. Trazendo uma trama fictícia de um país fictício para retratar a ditadura militar no Brasil e na América Latina, o filme foi proibido e levou seu diretor aos porões da ditadura. Henrique Dantas resgata imagens do filme para reconstruir uma espécie de memória da obra, com depoimentos diversos. Mas, o que chama a atenção é a linguagem experimental que Dantas imprime com imagens projetadas em uma espécie de sala de tortura, entre outros efeitos.
Traz Outro Amigo Também
Premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes.
Diretor: Frederico Cabral
Um melodrama muito bem feito sobre amigos imaginários. Um detetive tem a difícil missão de encontrar um amigo imaginário da infância de seu cliente. Mas, como encontrar alguém que não existe? A forma divertida com que o roteiro vai nos conduzindo e as soluções são bastante envolventes, tornando a história leve e emocionante.
Um Outro Ensaio
Premiado no Festival de Cinema de Gramado.
Diretor: Natara Ney
Outra história forte sobre um casal que busca se adaptar a uma nova situação: a perda da visão da esposa. A forma como Natara Ney nos conduz traz uma ótima sadaca na virada da trama que emociona e envolve. Destaque também para a boa interpretação do marido, vivido por Osvaldinho Mil.
Pensando nisso, o Canal Brasil criou um prêmio bastante interessante. Durante todo o ano de 2011, em diversos festivais espalhados pelo país, um grupo formado por jornalistas de diversos veículos de comunicação, escolheu e premiou dez curtas-metragens distintos, que levaram R$ 15.000,00 cada. Reunidos os finalistas, os apresentadores do canal irão decidir qual o melhor de todos que irá levar um prêmio de R$ 50.000,00. Mas, para o público não ficar de fora, desde 13 de agosto, estão à disposição os finalistas. E qualquer um pode votar em seu preferido até o dia 10 de setembro. O vencedor da categoria popular leva um iMac.
São dez filmes bastante diferentes, alguns de ficção, outros documentários, alguns tradicionais, outros experimentais. Como é normal alguns se destacam, entre eles, A Casa da Vó Neyde de Caio Cavechini que traz um corajoso depoimento sobre o problema do crack em família, Mens Sana In Corpore Sano de Juliano Dornelles pela linguagem experimental em uma história de excessos no cuidado com o corpo, São Silvestre de Lina Chamie pela emoção que consegue passar da pessoa comum na mais famosa prova de atletismo do país, Um Outro Ensaio de Natara Ney pela delicadeza da história e Ser Tão Cinzento de Henrique Dantas pelo resgate do filme ícone Manhã Cinzenta e pelas experimentações da linguagem.
Foram os que mais me chamaram a atenção, o que não significa que os outros cinco não sejam interessantes e dignos de sua apreciação ou voto. Um resumo abaixo dos dez finalistas e um convite para assisti-los na página do Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas-Metragens.
A Casa da Vó Neyde
Premiado na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Diretor: Caio Cavechini
O lema do DocTv diz: "quando a realidade parece ficção melhor fazer um documentário". Pois é, isso deve ter passado pela cabeça de Caio Cavechini quando abriu as portas da cada de sua avó, tão importante para sua família, para expor um problema cruel que seu tio estava vivendo. Dependente de crack e encostado na casa da mãe, Mauro parece alheio ao perigo e Caio consegue captar imagens incríveis de discussão entre ele e sua mãe, além de expor todo o sofrimento da senhora com aquela situação. Mesmo sem inovações na linguagem, o filme nos ganha pela força do tema.
Furico & Fiofó
Premiado no Anima Mundi – Festival Internacional de Animação do Brasil.
Diretor: Fernando Miller
Com uma linguagem simples e divertida, Fernando Miller nos apresenta a dupla Furico & Fiofó, dois meninos de rua que aprontam pela cidade. Mesmo de forma arteira, Miller faz de seus personagens porta-vozes também de crítica social a cada esmola negada, maus tratos sofridos ou perseguições do guarda.
Jiboia
Premiado no Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade Sexual.
Diretor: Rafael Lessa
Uma cabeleireira da Rua Augusta e uma adolescente filha de sua patroa. Jiboia traz uma trama de amor, sedução, perigo, ciúmes e crimes. Aurora é claramente uma mulher doente, sofrida, que cai no jogo da jovem Greicekelly. Não satisfeita com seu corpo, ela usa a amante que se finge de sua mãe para ir a um médico. Uma trama bem construída com a estética forte, condizente com o submundo que representa.
Mens Sana in Corpore Sano
Premiado no Cine PE – Festival do Audiovisual.
Diretor: Juliano Dornelles
Saúde e malhação parecem mesmo sinônimos, certo? O que o diretor Juliano Dornelles nos mostra é que mesmo o que parece bom, em excesso é um perigo. A trama com nuanças surreais chama a atenção pela linguagem experimental, com uma montagem ágil e efeitos interessantes para nos expor um alerta do exagero.
O Plantador de Quiabos
Premiado no Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema.
Diretor: Coletivo Santa Madeira
Definido como uma tragicomédia, o filme do Coletivo Santa Madeira tem mesmo uma nuança entre o cômico e o trágico. Sua linguagem simples, demonstrando as dificuldades de um agricultor em transportar sua colheita traz boas reviravoltas e um aprendizado interessante. Destaque para as atuações.
Praça Walt Disney
Premiado no Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo.
Diretores: Renata Pinheiro e Sergio Oliveira
O mais fraco do dez finalistas, nos mostra imagens que retratam problemas urbanos do bairro de Boa Viagem, no Recife. Em seu olhar cotidiano o filme traz problemas, alguns até de continuísmo como quando dois garotos enchem uma piscina com baldes de água tirados do mar, para que as crianças possam tomar banho em segurança, sem a ameaça de tubarões. Nos planos abertos, a piscina está vazia, enquanto cada plano detalhe a mostra quase transbordando dando até a dúvida se não são repetições dos planos. A comparação de fotos antigas com o cenário atual é o ponto alto da obra que ainda nos traz praças em imagens repetitivas que perdem a força da denúncia. Ainda assim, tem momentos interessantes.
São Silvestre
Premiado no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários.
Diretor: Lina Chamie
Lina Chamie conseguiu pegar a emoção da pessoa comum em seu filme. Uma espécie de dossiê dos bastidores da São Silvestre, mostra diversos tipos de pessoas e seu prazer de estar ali correndo. A emoção da paulistana que fala do orgulho da cidade parar para ela por alguns minutos, o pai que está ensinando ao filho, os deficientes físicos que marcam presença, a superação. Com uma linguagem simples e honesta, o filme emociona e traz identificação aos que gostam de correr nas ruas.
Ser Tão Cinzento
Premiado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Diretor: Henrique Dantas
Manhã Cinzenta é um filme ícone na história do cinema brasileiro. Trazendo uma trama fictícia de um país fictício para retratar a ditadura militar no Brasil e na América Latina, o filme foi proibido e levou seu diretor aos porões da ditadura. Henrique Dantas resgata imagens do filme para reconstruir uma espécie de memória da obra, com depoimentos diversos. Mas, o que chama a atenção é a linguagem experimental que Dantas imprime com imagens projetadas em uma espécie de sala de tortura, entre outros efeitos.
Traz Outro Amigo Também
Premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes.
Diretor: Frederico Cabral
Um melodrama muito bem feito sobre amigos imaginários. Um detetive tem a difícil missão de encontrar um amigo imaginário da infância de seu cliente. Mas, como encontrar alguém que não existe? A forma divertida com que o roteiro vai nos conduzindo e as soluções são bastante envolventes, tornando a história leve e emocionante.
Um Outro Ensaio
Premiado no Festival de Cinema de Gramado.
Diretor: Natara Ney
Outra história forte sobre um casal que busca se adaptar a uma nova situação: a perda da visão da esposa. A forma como Natara Ney nos conduz traz uma ótima sadaca na virada da trama que emociona e envolve. Destaque também para a boa interpretação do marido, vivido por Osvaldinho Mil.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas-Metragens
2012-09-03T09:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|curtas|Festival|materias|
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