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Procura-se um amigo para o fim do mundo
Procura-se um amigo para o fim do mundo
O que você faria se o mundo fosse acabar? Ao se colocar essa questão, conseguimos perceber o que realmente importa em nossa vida. E chegamos à conclusão que gastamos muito tempo do nosso dia a dia em coisas que não fazem muito sentido. A loucura, no entanto, de ver a morte tão de perto, leva muitas pessoas a excessos que também não fazem sentido, como um entorpecente para não pensar no fim. Por que, de fato, quando o fim chega, a sensação de dever cumprido, de ter feito valer a pena é que nos impulsiona a não ter medo do depois, independente da crença de se há ou não um depois.
Assim, o personagem de Steve Carell se vê como um observador desse momento inusitado quando um asteróide apelidado de Matilda está prestes a se chocar com a Terra. As pessoas que o cercam se vêem desesperadas, umas choram, umas se suicidam, outras embarcam em sexo, drogas e bebidas, há ainda aquelas que mantêm sua rotina improvável como a simpática faxineira. E tudo o que Dodge queria era não terminar o mundo sozinho. Mais do que isso, terminar com alguém que realmente importasse. Sua esposa o larga logo no primeiro anúncio e ele não sabe o que fazer. Aliás, o início do filme é bastante feliz, com a notícia sendo dada pelo rádio, o que não deixa de nos dar uma sensação de déjà vu com a famosa transmissão de Orson Welles de Guerra dos Mundos. É quando ele conhece a vizinha Penny (Keira Knightley) que se propõe a ajudá-lo a reencontrar um amor de adolescência.
Lorene Scafaria é sensível ao compor esse mundo pré-apocalíptico, utilizando muito bem os elementos que tem em mãos em uma estética indie gostosa de acompanhar. Não há uma busca por aprofundamento de temas, mas cada situação nos faz pensar sobre a natureza humana e suas reações diversas. Tudo pode ser muito simples, como a vontade genuína de Dodge de não se sentir só. Porém, conseguimos entender também pessoas como sua faxineira que não quer pensar no fim, apenas continuar suas faxinas, vendo os patrões que considera amigos, porque morrer ela já iria um dia mesmo. Talvez nesse pensamento siga o guarda rodoviário que eles encontram no caminho, que também se recusa a embarcar no caos.
O caos, aliás, não é tão grande, até porque um mês não é mesmo muito tempo, as pessoas ainda lutam entre loucura e lucidez e vemos boas construções de cenas como a reunião do trabalho de Dodge com ofertas de cargos na empresa, ou o jantar entre amigos que começa com uma inocente conversa de o que você faria, até se tornar uma orgia regada a muita bebida e droga. O retrato do personagem sozinho em um canto observando aquilo é forte e nos faz estar no lugar dele vendo como o ser humano é reprimido, precisando de algo assim para ir ao extremo oposto de sua vida.
As construções diversas que vão compondo o filme procuram esgotar as possibilidades de reações. Como o motim no auge do desespero, com arrombamentos e incêndios. Ou o simpático restaurante na beira da estrada que simplesmente resolve curtir os últimos momentos que existem juntos, sem problemas, sem stress, sem regras. Essa diversidade vista pelo protagonista nos conduz às nossas próprias identificações e reflexões. Porque, no final, ninguém sabe mesmo qual seria a sua reação com a proximidade do fim do mundo.
E em meio a todo esse caos e opções, ou melhor, possibilidades, temos o protagonista e sua construção interna. Dodge é um homem fácil de gostar, pois é simples. Solitário, órfão de mãe, com problemas com o pai, abandonado pela esposa que o traía e nunca o amou, e que só quer amar e ser amado. Claro, que surgem aí os clichês emocionais como o cachorrinho Sorry que passa a acompanhá-lo na jornada e a bela vizinha problemática que pode ser a solução para os seus problemas. Tudo isso, em uma busca insana por um amor do passado. Olívia, aquela que o largou, mas escreveu dizendo que ele era o grande amor de sua vida.
Procura-se um amigo para o fim do mundo é exatamente isso. Uma procura interna e externa de um homem, que só quer morrer tendo a certeza de que foi capaz de um amor verdadeiro. E no final das contas, é isso mesmo que nos dá a certeza de que a vida valeu ou não a pena. De que interessam orgias, dinheiro, fama, viagens, conhecimentos, se no final, nos sentimos vazios, sem ter alguém que verdadeiramente importe e com quem queiramos compartilhar todos os momentos? Pensar em nossos valores, ajuda a pensar em o que estamos fazendo com nossas vidas. Independente de Matildas que surjam para nos pegar de surpresa. Porque a vida é assim mesmo, inconstante e surpreendente. Então, Carpe Diem.
Procura-se um amigo para o fim do mundo (Seeking a Friend for the End of the World, 2012 / EUA)
Direção: Lorene Scafaria
Roteiro: Lorene Scafaria
Com: Steve Carell, Keira Knightley e Melanie Lynskey
Duração: 101 min
Assim, o personagem de Steve Carell se vê como um observador desse momento inusitado quando um asteróide apelidado de Matilda está prestes a se chocar com a Terra. As pessoas que o cercam se vêem desesperadas, umas choram, umas se suicidam, outras embarcam em sexo, drogas e bebidas, há ainda aquelas que mantêm sua rotina improvável como a simpática faxineira. E tudo o que Dodge queria era não terminar o mundo sozinho. Mais do que isso, terminar com alguém que realmente importasse. Sua esposa o larga logo no primeiro anúncio e ele não sabe o que fazer. Aliás, o início do filme é bastante feliz, com a notícia sendo dada pelo rádio, o que não deixa de nos dar uma sensação de déjà vu com a famosa transmissão de Orson Welles de Guerra dos Mundos. É quando ele conhece a vizinha Penny (Keira Knightley) que se propõe a ajudá-lo a reencontrar um amor de adolescência.
Lorene Scafaria é sensível ao compor esse mundo pré-apocalíptico, utilizando muito bem os elementos que tem em mãos em uma estética indie gostosa de acompanhar. Não há uma busca por aprofundamento de temas, mas cada situação nos faz pensar sobre a natureza humana e suas reações diversas. Tudo pode ser muito simples, como a vontade genuína de Dodge de não se sentir só. Porém, conseguimos entender também pessoas como sua faxineira que não quer pensar no fim, apenas continuar suas faxinas, vendo os patrões que considera amigos, porque morrer ela já iria um dia mesmo. Talvez nesse pensamento siga o guarda rodoviário que eles encontram no caminho, que também se recusa a embarcar no caos.
O caos, aliás, não é tão grande, até porque um mês não é mesmo muito tempo, as pessoas ainda lutam entre loucura e lucidez e vemos boas construções de cenas como a reunião do trabalho de Dodge com ofertas de cargos na empresa, ou o jantar entre amigos que começa com uma inocente conversa de o que você faria, até se tornar uma orgia regada a muita bebida e droga. O retrato do personagem sozinho em um canto observando aquilo é forte e nos faz estar no lugar dele vendo como o ser humano é reprimido, precisando de algo assim para ir ao extremo oposto de sua vida.
As construções diversas que vão compondo o filme procuram esgotar as possibilidades de reações. Como o motim no auge do desespero, com arrombamentos e incêndios. Ou o simpático restaurante na beira da estrada que simplesmente resolve curtir os últimos momentos que existem juntos, sem problemas, sem stress, sem regras. Essa diversidade vista pelo protagonista nos conduz às nossas próprias identificações e reflexões. Porque, no final, ninguém sabe mesmo qual seria a sua reação com a proximidade do fim do mundo.
E em meio a todo esse caos e opções, ou melhor, possibilidades, temos o protagonista e sua construção interna. Dodge é um homem fácil de gostar, pois é simples. Solitário, órfão de mãe, com problemas com o pai, abandonado pela esposa que o traía e nunca o amou, e que só quer amar e ser amado. Claro, que surgem aí os clichês emocionais como o cachorrinho Sorry que passa a acompanhá-lo na jornada e a bela vizinha problemática que pode ser a solução para os seus problemas. Tudo isso, em uma busca insana por um amor do passado. Olívia, aquela que o largou, mas escreveu dizendo que ele era o grande amor de sua vida.
Procura-se um amigo para o fim do mundo é exatamente isso. Uma procura interna e externa de um homem, que só quer morrer tendo a certeza de que foi capaz de um amor verdadeiro. E no final das contas, é isso mesmo que nos dá a certeza de que a vida valeu ou não a pena. De que interessam orgias, dinheiro, fama, viagens, conhecimentos, se no final, nos sentimos vazios, sem ter alguém que verdadeiramente importe e com quem queiramos compartilhar todos os momentos? Pensar em nossos valores, ajuda a pensar em o que estamos fazendo com nossas vidas. Independente de Matildas que surjam para nos pegar de surpresa. Porque a vida é assim mesmo, inconstante e surpreendente. Então, Carpe Diem.
Procura-se um amigo para o fim do mundo (Seeking a Friend for the End of the World, 2012 / EUA)
Direção: Lorene Scafaria
Roteiro: Lorene Scafaria
Com: Steve Carell, Keira Knightley e Melanie Lynskey
Duração: 101 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Procura-se um amigo para o fim do mundo
2012-09-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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