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Totalmente Inocentes
Totalmente Inocentes
Paródias e sátiras são sempre temas controversos. É preciso muito talento para ridicularizar algo com gosto. E bom gosto parece estar faltando nos roteiristas em geral quando se trata desse gênero de filme, vide investidas recentes como Saga Molusco entre outras. Parece que o grotesco se tornou sinônimo de engraçado e me faz sentir saudades da época em que me divertia com filmes como Top Secret.
Rodrigo Bittencourt resolveu encarar o desafio em seu primeiro longa-metragem, em uma iniciativa de tentar emplacar o gênero no Brasil. Isso por si só já é um bom sinal, significa que já temos filmes de sucesso em nosso país a serem satirizados. Já temos uma cultura pop relacionada à sétima arte, que nos dá um vislumbre, quem sabe, de uma industrialização. E trazer fenômenos recentes da internet como Fábio Porchat também foi bastante inteligente, já que ele já faz isso com sucesso em quadros do grupo Porta dos Fundos. Apesar disso, tenho visto críticas diversas destruindo o filme e me senti quase na obrigação de ser uma voz contrária. Afinal, dentro de sua proposta, Totalmente Inocentes não é a tragédia que estão pintando. E explico o porquê.
A principal questão que causa estranhamento é o roteiro. Sim, assim como o título do filme e o seu protagonista, o garotinho Da Fé, Totalmente inocentes possui uma história ingênua. São dois garotos que resolvem se tornar bandidos, sem ter absolutamente nenhum "talento" para isso. E essa ideia "brilhante" surge da paixão de Da Fé pela jovem Gildinha, vivida por Mariana Rios, que ele acha que está de caso com o novo chefe do pedaço, o bandido "Do Morro", vivido por Porchat, que traiu a antiga manda-chuva Diaba Loura, homossexual interpretado muito bem por Kiko Mascarenhas, que traz um certo eco da famosa bandida retratada tão bem em Rainha Diaba de 1974, por Milton Gonçalves.
O filme traz ainda a trama do atrapalhado e covarde repórter vivido por Fábio Assunção, que será uma espécie de plot da trama ao tentar entrevistar Do Morro e acabar colocando os meninos na capa da revista. Através dele, também, teremos o núcleo da redação dirigido por Ingrid Guimarães em uma personagem nonsense exageradamente homossexual tarada, e o núcleo da polícia, com a delegada interpretada por Viviane Pasmanter e os atrapalhados guardas Nervoso e Tranquilo. Isso sem falar no "narrador" Felipe Neto, de cabelo pink, que aparece durante toda a projeção com comentários diversos, construindo também o eco com uma linguagem muito utilizada no programa televisivo Armação Ilimitada, só que agora com a internet, já que na época era com o rádio.
O filme segue esse ritmo inocente de esquetes que podem não soar engraçadas para quem está acostumado a exageros, digamos, mais pesados. Mas, toda a direção possui uma boa intenção de uma sátira saudável. Boba, sim, mas inocente e divertida, com referências como o "não vai subir ninguém", a galinha no vídeo game, o "trio rapadura" e até o irmão menor de Da Fé, bem parecido com o Bené de Cidade de Deus, cabelo encaracolado, óculos. E tudo isso com uma utilização de músicas sempre de maneira irônica, como uma reunião do grupo ao som de Uni Duni Tê em sua versão original dos anos 80.
O tom descompromissado da trama parece deixar os personagens à vontade em cena, o que ajuda na fluência do filme. As atuações possuem destaques como Kiko Mascarenhas na pele da Diaba Loura, Fábio Assunção como o atrapalhado repórter e os garotos, Lucas de Jesus, Gleison Silva e principalmente Carlos Evandro como Torrado, por conseguirem uma naturalidade boa para seus personagens. Já Fábio Porchat, acaba exagerando no tom, se tornando chato em muitos momentos, assim como Ingrid Guimarães que apesar de ótima atriz está caricata ao extremo. Já Viviane Pasmanter dá a impressão de estar apenas de divertindo em cena. A direção de arte é outro destaque, com uma abertura divertida e bem realizada, as interferências gráficas durante a projeção ajudam no ritmo.
Totalmente Inocentes não é mesmo para se levar a sério. Aliás, como toda e qualquer paródia. Sua linguagem ingênua, quase uma brincadeira de criança lembra muito outra tentativa brasileira no gênero, Ed Mort, e traz momentos engraçados. Acaba sendo melhor sucedido que outra paródia recente: o desastroso Billi Pig. Mas, mais do que isso, traz uma sensação de rir de si mesmo, sem compromisso, sem cobrança. Se os americanos podem fazer isso, por que não nós?
Totalmente Inocentes (Totalmente Inocentes, 2012 / Brasil)
Direção: Rodrigo Bittencourt
Roteiro: Rafael Dragaud, Carolina Castro e Rodrigo Bittencourt
Com: Fábio Assunção, Fábio Porchat, Kiko Mascarenhas, Ingrid Guimarães, Carlos Evandro, Mariana Rios, Viviane Pasmanter
Duração: 90 min
Rodrigo Bittencourt resolveu encarar o desafio em seu primeiro longa-metragem, em uma iniciativa de tentar emplacar o gênero no Brasil. Isso por si só já é um bom sinal, significa que já temos filmes de sucesso em nosso país a serem satirizados. Já temos uma cultura pop relacionada à sétima arte, que nos dá um vislumbre, quem sabe, de uma industrialização. E trazer fenômenos recentes da internet como Fábio Porchat também foi bastante inteligente, já que ele já faz isso com sucesso em quadros do grupo Porta dos Fundos. Apesar disso, tenho visto críticas diversas destruindo o filme e me senti quase na obrigação de ser uma voz contrária. Afinal, dentro de sua proposta, Totalmente Inocentes não é a tragédia que estão pintando. E explico o porquê.
A principal questão que causa estranhamento é o roteiro. Sim, assim como o título do filme e o seu protagonista, o garotinho Da Fé, Totalmente inocentes possui uma história ingênua. São dois garotos que resolvem se tornar bandidos, sem ter absolutamente nenhum "talento" para isso. E essa ideia "brilhante" surge da paixão de Da Fé pela jovem Gildinha, vivida por Mariana Rios, que ele acha que está de caso com o novo chefe do pedaço, o bandido "Do Morro", vivido por Porchat, que traiu a antiga manda-chuva Diaba Loura, homossexual interpretado muito bem por Kiko Mascarenhas, que traz um certo eco da famosa bandida retratada tão bem em Rainha Diaba de 1974, por Milton Gonçalves.
O filme traz ainda a trama do atrapalhado e covarde repórter vivido por Fábio Assunção, que será uma espécie de plot da trama ao tentar entrevistar Do Morro e acabar colocando os meninos na capa da revista. Através dele, também, teremos o núcleo da redação dirigido por Ingrid Guimarães em uma personagem nonsense exageradamente homossexual tarada, e o núcleo da polícia, com a delegada interpretada por Viviane Pasmanter e os atrapalhados guardas Nervoso e Tranquilo. Isso sem falar no "narrador" Felipe Neto, de cabelo pink, que aparece durante toda a projeção com comentários diversos, construindo também o eco com uma linguagem muito utilizada no programa televisivo Armação Ilimitada, só que agora com a internet, já que na época era com o rádio.
O filme segue esse ritmo inocente de esquetes que podem não soar engraçadas para quem está acostumado a exageros, digamos, mais pesados. Mas, toda a direção possui uma boa intenção de uma sátira saudável. Boba, sim, mas inocente e divertida, com referências como o "não vai subir ninguém", a galinha no vídeo game, o "trio rapadura" e até o irmão menor de Da Fé, bem parecido com o Bené de Cidade de Deus, cabelo encaracolado, óculos. E tudo isso com uma utilização de músicas sempre de maneira irônica, como uma reunião do grupo ao som de Uni Duni Tê em sua versão original dos anos 80.
O tom descompromissado da trama parece deixar os personagens à vontade em cena, o que ajuda na fluência do filme. As atuações possuem destaques como Kiko Mascarenhas na pele da Diaba Loura, Fábio Assunção como o atrapalhado repórter e os garotos, Lucas de Jesus, Gleison Silva e principalmente Carlos Evandro como Torrado, por conseguirem uma naturalidade boa para seus personagens. Já Fábio Porchat, acaba exagerando no tom, se tornando chato em muitos momentos, assim como Ingrid Guimarães que apesar de ótima atriz está caricata ao extremo. Já Viviane Pasmanter dá a impressão de estar apenas de divertindo em cena. A direção de arte é outro destaque, com uma abertura divertida e bem realizada, as interferências gráficas durante a projeção ajudam no ritmo.
Totalmente Inocentes não é mesmo para se levar a sério. Aliás, como toda e qualquer paródia. Sua linguagem ingênua, quase uma brincadeira de criança lembra muito outra tentativa brasileira no gênero, Ed Mort, e traz momentos engraçados. Acaba sendo melhor sucedido que outra paródia recente: o desastroso Billi Pig. Mas, mais do que isso, traz uma sensação de rir de si mesmo, sem compromisso, sem cobrança. Se os americanos podem fazer isso, por que não nós?
Totalmente Inocentes (Totalmente Inocentes, 2012 / Brasil)
Direção: Rodrigo Bittencourt
Roteiro: Rafael Dragaud, Carolina Castro e Rodrigo Bittencourt
Com: Fábio Assunção, Fábio Porchat, Kiko Mascarenhas, Ingrid Guimarães, Carlos Evandro, Mariana Rios, Viviane Pasmanter
Duração: 90 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Totalmente Inocentes
2012-09-08T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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