
Baseado no livro de John Steinbeck,
Vidas Amargas foi o primeiro
filme de
James Dean no cinema. Um começo já intenso, como protagonista de um drama familiar bem desenvolvido. Apesar de iniciante,
Dean demonstra aqui que não é por acaso que se tornou mito com apenas três
filmes.
A trama gira em torno da
família Trask. O patriarca, Adam Trask é um fazendeiro honrado e temente a Deus que criou seus dois filhos com toda a dignidade possível, após a morte de sua esposa Kate. No entanto, não esconde a predileção pelo filho Aron, que considera "o menino de ouro". Um jovem trabalhador, bonito, com um bom caráter e noivo da bela Abra, vivida por
Julie Harris. O outro filho, Carl, interpretado por
James Dean, é a ovelha negra da família. Sentindo-se rejeitado, após tentativas frustradas de conquistar o amor do pai, ele acaba descobrindo que sua mãe, na verdade, não morreu.

O que chama a atenção em
Vidas Amargas é mesmo a construção do personagem Carl por
James Dean. Não que a história não seja boa. É ótima, apesar de datada. Há, no
filme, muitas características das obras da época. A forma técnica de atuar, o excesso de diálogos. O ritmo pausado, sem pressa para construir as cenas. Os temas campo, colheita, guerra e formação das cidades. A questão da honra acima de tudo.
O personagem Adam é o protótipo do homem de bem. Justo, trabalhador, sempre com a Bíblia nas mãos, incapaz de tirar proveito de qualquer situação limite. Mas, ao mesmo tempo capaz de esquecer um
filho, porque este lhe lembra muito a personalidade da esposa que o abandonou. Carl não é um menino ruim, é apenas alguém buscando seu lugar no mundo. E para isso, não teve um
pai que o guiasse, observando quem ele era. Ele está sempre ali fazendo de tudo para chamar a atenção.

E essa carência e necessidade de ser amado, acaba dando ao personagem uma cara de menino carente que conquista as mulheres. De uma forma excessivamente expositiva, toda a hora sua futura cunhada Abra diz: as mulheres sempre te seguem. O que dá também uma pista de um possível envolvimento entre os dois. Abra, apesar de noiva apaixonada de Aron, parece ser a única que enxerga Carl. Está sempre tentando chamar sua atenção, colocá-lo nas conversas, brinca com ele, cuida dele. E a sua atitude ajuda a chamar a platéia para um lugar de compaixão para com o personagem.
Carl é, então, a
vítima de tudo aquilo. Mesmo quando ele faz coisas erradas. E o interessante é que por mais que ele diga o tempo todo que é mau, não há de fato atitudes maléficas de sua parte. Pegar uma vala que não é sua para ajudar na colheita do repolho, ou pedir dinheiro emprestado a sua mãe para iniciar um negócio que acredita salvará seu pai. Mas, aos olhos do sempre correto Adam, tudo isso só faz ele perceber que o
filho não aprendeu nada do que ele ensinou.

O roteiro de
Paul Osborn, apesar das longas cenas de diálogos, nos leva de maneira fluida nessa trama. O início com Carl seguindo Kate, suas viagens de trem, as conversas do irmão Aron com a noiva Abra, com ele espiando. Ele observando o pai com um negociante. Tudo nos ajuda a construir os personagens e o que está acontecendo ali.
Elia Kazan, que chegou a dirigir pérolas como
Sindicato de Ladrões, faz aqui boas escolhas. Toda as cenas que envolvem a questão do repolho, por exemplo, são bem trabalhadas. Carl observando o medo do
pai do plano não dar certo, a arrumação das caixas, a saída do trem, o desfecho com a água derretida. Todas são imagens que falam mais do que palavras, em um bom ritmo que ajuda no andamento da história.
Vidas Amargas pode não ser o melhor filme de
James Dean, nem mesmo o melhor de seu diretor
Elia Kazan. Mas é um ótimo drama, conduzido na medida certa para a linguagem da época e que já nos dava pistas do ótimo ator que estava surgindo para o mundo.
Vidas Amargas (East of Eden, 1955 / EUA)
Direção: Elia Kazan
Roteiro: Paul Osborn
Com: James Dean, Raymond Massey e Julie Harris
Duração: 115 min