A Entidade
Em 2005, Scott Derrickson já tinha brincado com o sobrenatural em O Exorcismo de Emily Rose. Sete anos depois ele nos entrega A Entidade, um filme realmente assustador, apesar de um tanto quanto vazio e com vários furos de roteiro.
Ethan Hawke é Ellison Oswalt um escritor famoso por um livro que escreveu há dez anos, onde desvendava um crime misterioso. Desde então, ele busca encontrar o seu novo caso perfeito, sem êxito. É quanto ele resolve se mudar para uma casa onde houve um estranho assassinato familiar e uma garotinha permanece desaparecida. O problema é que estranhos filmes em super oito vão demonstrar que o mistério é maior do que ele pensava.
Mais do que uma história, Scott Derrickson tem em mãos uma sensação. O desconhecido nos assusta, nos sentimos vulneráveis diante do que não dominamos. E por isso, o sobrenatural é sempre algo ameaçador. Não há muitas explicações, ou provas sobre o que realmente acontece. E aquilo que vai além da razão nos deixa inseguros. E é assim que nos sentimos durante toda a projeção de A Entidade, fora de nossa zona de conforto.
Acompanhamos a pesquisa do personagem de Hawke com uma sensação de alerta constante. Não temos o direito de nos acomodar já que, desde o princípio, o filme nos convida a temer o pior. A primeira cena em super oito de quatro pessoas sendo enforcadas em uma árvore é o primeiro alerta. Depois temos os policiais medrosos na frente da casa e o alerta do xerife. Se não bastasse tudo isso, o filme ainda se concentra bastante dentro da casa, de preferência à noite e nos filmes super oito que trazem histórias cada vez mais sinistras.
O clima é de tensão. A casa não é segura e os filhos de Ellison também não parecem normais. A primeira cena da filha caçula é de assustar, por mais que ela esteja inocentemente pintando a parede do quarto. Ficamos vendo apenas parte de seu perfil, os cabelos longos que nos dão um aspecto assustador. Mas, o que parece mesmo ser o problema da casa é o filho mais velho, que tem pesadelos horríveis à noite.
Tudo isso ajuda a compor o suspense, que chega a ser incômodo em muitos momentos. Scott Derrickson constrói bem as penumbras, a câmera do "olhar do monstro", as quebras de expectativas que nos surpreendem. E ainda tem uma boa montagem saindo do susto para um café sendo feito, por exemplo, que se torna até mais assustador que os zunidos à noite.
O problema é que apesar de toda a tensão e imersão na pesquisa e medo constante do personagem, não dá para não notar algumas questões ilógicas que acabam nos tirando da trama em vários momentos. Primeiro, a própria atitude insana de se mudar com a família inteira para uma casa onde aconteceu um assassinato misterioso. Depois, achar o que ele acha e continuar lá, expondo sua família a perigos constantes, principalmente depois de alguns acontecimentos envolvendo seu filho. Há uma certa apatia e descuido que não se mantêm verossímeis naquilo tudo.
Outra questão que é um problema e acerto ao mesmo tempo é a trilha sonora de Christopher Young. É verdade que ela é assustadoramente construída. Ajuda na tensão, nos envolve completamente no clima com vários efeitos sonoros. Mas, isso tudo acaba nos tirando completamente o som ambiente. Em vários momentos, ficamos sem saber o que o personagem ouviu e o que é trilha. Seria interessante deixar o som mais limpo em alguns momentos.
Por fim, A Entidade é um filme vazio porque não nos diz muito a que veio. Sua função parece ser exclusivamente nos deixar tensos e dar alguns sustos durante toda a sua projeção conhecendo mais uma lenda de terror. Há várias referências, inclusive, a outros filmes do gênero no "O Iluminado" de Stanley Kubrick. E a gente sempre espera algo mais quando acendem as luzes. Algo que pudéssemos levar conosco, discutir. Mas, a única certeza que fica é: se quiser se meter em alguma história sinistra, por favor, deixe sua família fora disso.
A Entidade (Sinister, 2012 / EUA)
Direção: Scott Derrickson
Roteiro: Scott Derrickson e C. Robert Cargill
Com: Ethan Hawke, Juliet Rylance e James Ransone
Duração: 110 min
Ethan Hawke é Ellison Oswalt um escritor famoso por um livro que escreveu há dez anos, onde desvendava um crime misterioso. Desde então, ele busca encontrar o seu novo caso perfeito, sem êxito. É quanto ele resolve se mudar para uma casa onde houve um estranho assassinato familiar e uma garotinha permanece desaparecida. O problema é que estranhos filmes em super oito vão demonstrar que o mistério é maior do que ele pensava.
Mais do que uma história, Scott Derrickson tem em mãos uma sensação. O desconhecido nos assusta, nos sentimos vulneráveis diante do que não dominamos. E por isso, o sobrenatural é sempre algo ameaçador. Não há muitas explicações, ou provas sobre o que realmente acontece. E aquilo que vai além da razão nos deixa inseguros. E é assim que nos sentimos durante toda a projeção de A Entidade, fora de nossa zona de conforto.
Acompanhamos a pesquisa do personagem de Hawke com uma sensação de alerta constante. Não temos o direito de nos acomodar já que, desde o princípio, o filme nos convida a temer o pior. A primeira cena em super oito de quatro pessoas sendo enforcadas em uma árvore é o primeiro alerta. Depois temos os policiais medrosos na frente da casa e o alerta do xerife. Se não bastasse tudo isso, o filme ainda se concentra bastante dentro da casa, de preferência à noite e nos filmes super oito que trazem histórias cada vez mais sinistras.
O clima é de tensão. A casa não é segura e os filhos de Ellison também não parecem normais. A primeira cena da filha caçula é de assustar, por mais que ela esteja inocentemente pintando a parede do quarto. Ficamos vendo apenas parte de seu perfil, os cabelos longos que nos dão um aspecto assustador. Mas, o que parece mesmo ser o problema da casa é o filho mais velho, que tem pesadelos horríveis à noite.
Tudo isso ajuda a compor o suspense, que chega a ser incômodo em muitos momentos. Scott Derrickson constrói bem as penumbras, a câmera do "olhar do monstro", as quebras de expectativas que nos surpreendem. E ainda tem uma boa montagem saindo do susto para um café sendo feito, por exemplo, que se torna até mais assustador que os zunidos à noite.
O problema é que apesar de toda a tensão e imersão na pesquisa e medo constante do personagem, não dá para não notar algumas questões ilógicas que acabam nos tirando da trama em vários momentos. Primeiro, a própria atitude insana de se mudar com a família inteira para uma casa onde aconteceu um assassinato misterioso. Depois, achar o que ele acha e continuar lá, expondo sua família a perigos constantes, principalmente depois de alguns acontecimentos envolvendo seu filho. Há uma certa apatia e descuido que não se mantêm verossímeis naquilo tudo.
Outra questão que é um problema e acerto ao mesmo tempo é a trilha sonora de Christopher Young. É verdade que ela é assustadoramente construída. Ajuda na tensão, nos envolve completamente no clima com vários efeitos sonoros. Mas, isso tudo acaba nos tirando completamente o som ambiente. Em vários momentos, ficamos sem saber o que o personagem ouviu e o que é trilha. Seria interessante deixar o som mais limpo em alguns momentos.
Por fim, A Entidade é um filme vazio porque não nos diz muito a que veio. Sua função parece ser exclusivamente nos deixar tensos e dar alguns sustos durante toda a sua projeção conhecendo mais uma lenda de terror. Há várias referências, inclusive, a outros filmes do gênero no "O Iluminado" de Stanley Kubrick. E a gente sempre espera algo mais quando acendem as luzes. Algo que pudéssemos levar conosco, discutir. Mas, a única certeza que fica é: se quiser se meter em alguma história sinistra, por favor, deixe sua família fora disso.
A Entidade (Sinister, 2012 / EUA)
Direção: Scott Derrickson
Roteiro: Scott Derrickson e C. Robert Cargill
Com: Ethan Hawke, Juliet Rylance e James Ransone
Duração: 110 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Entidade
2012-10-11T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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