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Conta Comigo
Conta Comigo
Baseado no livro de Stephen King, Conta Comigo é uma ode à amizade. Aos melhores amigos que são os da infância como diz o escritor no final do filme. Uma memória que ficamos na dúvida até se é real, mas que ficou marcada na vida de um garoto.
É interessante como Stephen King mistura o comum com o extraordinário de uma forma tão fluida. E o roteirista Raynold Gideon consegue desenvolver bem essa aventura nos apresentando os personagens e dosando seus entraves particulares, com a motivação maior daquela trama específica.
Gordie, Chris, Teddy e Vern são quatro amigos bem diferentes, cada um com seus problemas e particularidades. Conseguimos ver isso desde a cena na casa na árvore. Claro que a voz over do narrador ajuda, mas as reações e atitudes dos quatro também falam muito. Principalmente dos dois protagonistas, Gordie vivido por Wil Wheaton e Chris, vivido por River Phoenix. Cada um em sua própria rejeição familiar consegue sobreviver e desejar algo além. Apesar de Chris saber que não tem um futuro muito promissor, enquanto que seu amigo Gordie tem chances de ser alguém, basta não acreditar nas bobagens que o pai fala, sempre o comparando com o irmão morto.
Poderia ser um filme crônica, com bastante material para desenvolver as questões daqueles quatro e da gangue liderada por Kiefer Sutherland. Porém, a história não se trata disso, mas de uma aventura em busca de um corpo de um garoto que estava desaparecido. Os quatro resolvem andar quilômetros para encontrá-lo e não se sabe exatamente o que os impulsiona. Há a curiosidade pura e simples com a morte. Afinal era um garoto da idade deles. Ver seu corpo não deixa de ter impacto. Há ainda o sonho de sucesso, já que encontrar o garoto poderia torná-los famosos e até ganhar algum dinheiro com isso. Mas, acima de tudo há um espírito de aventura, de sair da mesmice da pequena cidade onde moram, de buscar o novo.
Toda a jornada dos quatro, primeiro seguindo a linha do trem, depois entrando na floresta é uma jornada de auto-descobrimento, além de um pacto de aliança maior. Ambos estão ali, dependentes um do outro. E Rob Reiner consegue construir bem esse cenário, essa cumplicidade, essa união que os garotos, mesmo sem perceber, vão adquirindo.
Há perigos na estrada. Alguns reais, outros imaginários. Há tensão no caminho, principalmente envolvendo trens. Há descobertas e momentos compartilhados. A forma como eles vão cuidando um dos outros e se auto-gerindo é por si só uma grande aventura. Não por acaso, Chris e Gordie acabam se aproximando mais, trocando confidências e desabafando em momentos-chave emocionantes.
E o interessante é que mesmo se tratando de quatro crianças, não há leveza. Mesmo em momentos de descontração como quando Gordie conta sua história. Ou quando brincam no rio. O próximo passo é sempre tenso. Há sempre uma lição. Porque no final, essa é a grande jornada dos quatro personagens, o amadurecimento. Eles literalmente atravessaram o limiar do mundo infantil para o adulto, tomando suas próprias decisões e arcando com consequências. Agora eles são capazes de enfrentar o mundo, por ter encarado os mistérios da vida.
Conta Comigo é uma grande fábula. Um filme símbolo de gerações que nos dá o tempo inteiro um tom reflexivo. Não por acaso é construído com um narrador que está no futuro rememorando acontecimentos marcantes de sua vida. Ele tem uma função importante na forma de contar aquela história, que não nos deixa perder o foco. E isso acaba nos deixando a dúvida se o escritor que ouvimos é de fato Gordie, ou ele e seus amigos são apenas frutos de sua imaginação. Mas, isso também não faz muita diferença.
Conta Comigo (Stand by Me, 1986, EUA)
Direção: Rob Reiner
Roteiro: Raynold Gideon
Com: Wil Wheaton, River Phoenix, Jerry O'Connell, Corey Feldman e Kiefer Sutherland
Duração: 89 min.
É interessante como Stephen King mistura o comum com o extraordinário de uma forma tão fluida. E o roteirista Raynold Gideon consegue desenvolver bem essa aventura nos apresentando os personagens e dosando seus entraves particulares, com a motivação maior daquela trama específica.
Gordie, Chris, Teddy e Vern são quatro amigos bem diferentes, cada um com seus problemas e particularidades. Conseguimos ver isso desde a cena na casa na árvore. Claro que a voz over do narrador ajuda, mas as reações e atitudes dos quatro também falam muito. Principalmente dos dois protagonistas, Gordie vivido por Wil Wheaton e Chris, vivido por River Phoenix. Cada um em sua própria rejeição familiar consegue sobreviver e desejar algo além. Apesar de Chris saber que não tem um futuro muito promissor, enquanto que seu amigo Gordie tem chances de ser alguém, basta não acreditar nas bobagens que o pai fala, sempre o comparando com o irmão morto.
Poderia ser um filme crônica, com bastante material para desenvolver as questões daqueles quatro e da gangue liderada por Kiefer Sutherland. Porém, a história não se trata disso, mas de uma aventura em busca de um corpo de um garoto que estava desaparecido. Os quatro resolvem andar quilômetros para encontrá-lo e não se sabe exatamente o que os impulsiona. Há a curiosidade pura e simples com a morte. Afinal era um garoto da idade deles. Ver seu corpo não deixa de ter impacto. Há ainda o sonho de sucesso, já que encontrar o garoto poderia torná-los famosos e até ganhar algum dinheiro com isso. Mas, acima de tudo há um espírito de aventura, de sair da mesmice da pequena cidade onde moram, de buscar o novo.
Toda a jornada dos quatro, primeiro seguindo a linha do trem, depois entrando na floresta é uma jornada de auto-descobrimento, além de um pacto de aliança maior. Ambos estão ali, dependentes um do outro. E Rob Reiner consegue construir bem esse cenário, essa cumplicidade, essa união que os garotos, mesmo sem perceber, vão adquirindo.
Há perigos na estrada. Alguns reais, outros imaginários. Há tensão no caminho, principalmente envolvendo trens. Há descobertas e momentos compartilhados. A forma como eles vão cuidando um dos outros e se auto-gerindo é por si só uma grande aventura. Não por acaso, Chris e Gordie acabam se aproximando mais, trocando confidências e desabafando em momentos-chave emocionantes.
E o interessante é que mesmo se tratando de quatro crianças, não há leveza. Mesmo em momentos de descontração como quando Gordie conta sua história. Ou quando brincam no rio. O próximo passo é sempre tenso. Há sempre uma lição. Porque no final, essa é a grande jornada dos quatro personagens, o amadurecimento. Eles literalmente atravessaram o limiar do mundo infantil para o adulto, tomando suas próprias decisões e arcando com consequências. Agora eles são capazes de enfrentar o mundo, por ter encarado os mistérios da vida.
Conta Comigo é uma grande fábula. Um filme símbolo de gerações que nos dá o tempo inteiro um tom reflexivo. Não por acaso é construído com um narrador que está no futuro rememorando acontecimentos marcantes de sua vida. Ele tem uma função importante na forma de contar aquela história, que não nos deixa perder o foco. E isso acaba nos deixando a dúvida se o escritor que ouvimos é de fato Gordie, ou ele e seus amigos são apenas frutos de sua imaginação. Mas, isso também não faz muita diferença.
Conta Comigo (Stand by Me, 1986, EUA)
Direção: Rob Reiner
Roteiro: Raynold Gideon
Com: Wil Wheaton, River Phoenix, Jerry O'Connell, Corey Feldman e Kiefer Sutherland
Duração: 89 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Conta Comigo
2012-10-13T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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