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Françoise Forton
Oswaldo Montenegro
Paloma Duarte
FICI: Léo e Bia
FICI: Léo e Bia
Peça teatral de sucesso nos anos 80, Léo e Bia foi transposta para o cinema em uma linguagem interessante. Não é um teatro filmado, é fato. Mas o seu único cenário é um galpão e os personagens nem trocam de roupa, apesar das diversas passagens de tempo. A peculiar linguagem acaba sendo interessante e condizente com o tema do filme.
Tudo acontece em torno de um grupo teatral em plena ditadura militar. Jovens idealistas, sem ser revolucionários. Em ebulição própria da idade, do amor pela arte, dos problemas da vida. Questionadores em seus próprios universos como o "Cabelo" que ama e defende a França, enquanto Marina sustenta a questão do ser brasileiro. Mas, dentro do grupo existe Bia, uma garota simpática, melhor atriz da trupe e namorada do diretor. Mas, apesar disso há um grande problema: sua mãe. Uma mulher autoritária que a sufoca de maneira doentia.
Primeiro filme do cantor e compositor, Oswaldo Montenegro, que também é autor da peça, há uma aura envolvente em Léo e Bia. Principalmente para aqueles que compreendem o momento vivido nos anos 60. Não apenas a ditadura, mas os próprios questionamentos culturais e existenciais. Montenegro consegue passear sua câmera criando organizações cênicas instigantes naquele galpão improvisado. A forma como a música entra, como os depoimentos são dispostos e as encenações são desenvolvidas é criativa e visualmente bem realizada.
Narrado por Marina, personagem de Paloma Duarte, que sempre se dirige à plateia para explicações diversas, a trama se desenvolve entre os ensaios do grupo. Exercícios teatrais, discussões íntimas, questões de poder, amor. E claro, a questão Bia, interpretada pela atriz Fernanda Nobre. Sua mãe, feita por Françoise Forton aparece pontualmente, em cenas fortes. Destaque para a cena em que Bia vai sendo presa por uma cama de gato, até a chegada da mãe. E o embate após o resultado das provas no colégio, onde esta utiliza uma tesoura para amedrontar a filha.
Claro que, em um filme que se passa nos anos da ditadura e encena uma peça teatral, não poderia faltar a questão da censura. O grupo quer apresentar o espetáculo "Jesus Cristo, o rei do cangaço", em uma analogia entre o Cristo e Lampião. Claro que algo assim jamais passaria pelo crivo da censura. A cena em que Françoise Forton personifica o funcionário da DCDP (Divisão de Censura de Diversões Públicas) com um figurino coberto por tesouras possui uma plasticidade dramática muito boa.
Pontuando as discussões diversas, o filme traz ainda um muro com dizeres rabiscados de tempos em tempos. Uma espécie de "moral da história". E é interessante como o papo vai desde questões políticas como a posição do povo brasileiro: burro ou crítico? Passando por problemas psicológicos: neurótico versus psicótico. Homossexualidade, gravidez na adolescência e, claro, amores não correspondidos. Isso, sem falar na relação mãe e filha que se desenvolve ao longo da trama buscando traçar os limites entre amor e posse.
Léo e Bia é um filme diferente. Uma experiência do acompanhar discursivo, mas que não se prende à fala. Naquele galpão, a metalinguagem teatral reina de uma forma visual interessante. É um jogo de encenação, palavras e planos que dão a dinâmica necessária para que o texto flua. Abre espaço para reflexões diversas. É o som, a forma, amor e dor. Sem medo de parecer brega, mesmo confessando amar Roberto Carlos. Uma pena que a plateia de adolescentes presentes no FICI não teve maturidade para compreender o que estava se passando em tela.
Léo e Bia (Léo e Bia. 2010 / Brasil)
Direção: Oswaldo Montenegro
Roteiro: Oswaldo Montenegro
Com: Paloma Duarte, Françoise Forton, Fernanda Nobre, Vitória Frate, Emilio Dantas, Pedro Cartano, Ivan Mendes, Pedro Nercessian
Duração: 95 min.
Tudo acontece em torno de um grupo teatral em plena ditadura militar. Jovens idealistas, sem ser revolucionários. Em ebulição própria da idade, do amor pela arte, dos problemas da vida. Questionadores em seus próprios universos como o "Cabelo" que ama e defende a França, enquanto Marina sustenta a questão do ser brasileiro. Mas, dentro do grupo existe Bia, uma garota simpática, melhor atriz da trupe e namorada do diretor. Mas, apesar disso há um grande problema: sua mãe. Uma mulher autoritária que a sufoca de maneira doentia.
Primeiro filme do cantor e compositor, Oswaldo Montenegro, que também é autor da peça, há uma aura envolvente em Léo e Bia. Principalmente para aqueles que compreendem o momento vivido nos anos 60. Não apenas a ditadura, mas os próprios questionamentos culturais e existenciais. Montenegro consegue passear sua câmera criando organizações cênicas instigantes naquele galpão improvisado. A forma como a música entra, como os depoimentos são dispostos e as encenações são desenvolvidas é criativa e visualmente bem realizada.
Narrado por Marina, personagem de Paloma Duarte, que sempre se dirige à plateia para explicações diversas, a trama se desenvolve entre os ensaios do grupo. Exercícios teatrais, discussões íntimas, questões de poder, amor. E claro, a questão Bia, interpretada pela atriz Fernanda Nobre. Sua mãe, feita por Françoise Forton aparece pontualmente, em cenas fortes. Destaque para a cena em que Bia vai sendo presa por uma cama de gato, até a chegada da mãe. E o embate após o resultado das provas no colégio, onde esta utiliza uma tesoura para amedrontar a filha.
Claro que, em um filme que se passa nos anos da ditadura e encena uma peça teatral, não poderia faltar a questão da censura. O grupo quer apresentar o espetáculo "Jesus Cristo, o rei do cangaço", em uma analogia entre o Cristo e Lampião. Claro que algo assim jamais passaria pelo crivo da censura. A cena em que Françoise Forton personifica o funcionário da DCDP (Divisão de Censura de Diversões Públicas) com um figurino coberto por tesouras possui uma plasticidade dramática muito boa.
Pontuando as discussões diversas, o filme traz ainda um muro com dizeres rabiscados de tempos em tempos. Uma espécie de "moral da história". E é interessante como o papo vai desde questões políticas como a posição do povo brasileiro: burro ou crítico? Passando por problemas psicológicos: neurótico versus psicótico. Homossexualidade, gravidez na adolescência e, claro, amores não correspondidos. Isso, sem falar na relação mãe e filha que se desenvolve ao longo da trama buscando traçar os limites entre amor e posse.
Léo e Bia é um filme diferente. Uma experiência do acompanhar discursivo, mas que não se prende à fala. Naquele galpão, a metalinguagem teatral reina de uma forma visual interessante. É um jogo de encenação, palavras e planos que dão a dinâmica necessária para que o texto flua. Abre espaço para reflexões diversas. É o som, a forma, amor e dor. Sem medo de parecer brega, mesmo confessando amar Roberto Carlos. Uma pena que a plateia de adolescentes presentes no FICI não teve maturidade para compreender o que estava se passando em tela.
Léo e Bia (Léo e Bia. 2010 / Brasil)
Direção: Oswaldo Montenegro
Roteiro: Oswaldo Montenegro
Com: Paloma Duarte, Françoise Forton, Fernanda Nobre, Vitória Frate, Emilio Dantas, Pedro Cartano, Ivan Mendes, Pedro Nercessian
Duração: 95 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
FICI: Léo e Bia
2012-10-28T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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