Argo
Ben Affleck já tinha demonstrado o seu talento na direção, mas é interessante como a cada filme ele amadurece. Se em Medo da Verdade tivemos um bom começo, Atração Perigosa foi o amadurecimento natural. Agora, temos Argo e sua consagração, tanto que muitos já apostam na indicação ao Oscar.
Argo retrata um curioso caso real que aconteceu no final da década de 70, início dos anos 80. Seis diplomatas norte-americanos, fugindo de uma revolta no Irã, ficam ilhados na embaixada do Canadá. É preciso tirá-los dali e o melhor plano que a CIA consegue traçar é criar uma falsa equipe de um filme de ficção científica no Oriente Médio. Liderando este plano está Tony Mendez, interpretado pelo próprio Ben Affleck, e o destinos dessas seis pessoas depende do sucesso dele.
Muito bem pensado e realizado, o filme começa com uma introdução direta sobre os conflitos no Oriente Médio. A questão do Xá, a deportação e exílio nos Estados Unidos, a revolta do povo. Tudo é muito didático, mas não chega a ser cansativo, era necessário para que pudéssemos compreender melhor a trama. E a fusão da introdução com a cena da multidão em frente à embaixada norte-americana no Irã é muito bem feita. As imagens impressionam. O terror dos americanos, tentando esconder as provas, a iminência da invasão, a tensão criada. É o melhor convite para entrar naquela história.
Apesar de um plano absurdo, o roteiro é hábil em construir a atmosfera verossímil. Independente de ser baseada em algo que de fato aconteceu, um filme precisa ser crível, ou não funciona. E a saída para que possamos embarcar naquela aventura é a própria descrença dos personagens de que ela possa dar certo. As discussões sobre as possibilidades e todos argumentos que o personagem de Ben Affleck vai dando para que aquilo não funcione vai nos convencendo de que o falso filme é a melhor escolha. A todo momento os personagens se perguntam como aquilo pode dar certo. E a dúvida deles é a da plateia, logo, não há uma quebra da empatia e seguimos na história.
Fica mais fácil acreditar no falso filme, também, por causa da solução da imprensa. A manipulação da mídia pode criar até guerras fictícias como vimos em Mera Coincidência, por que não um filme de mentira? Cartazes, storyboards, matérias e até um escritório em Hollywood, tudo foi pensado para tornar o falso, real. E Ben Affleck ainda consegue reconstruir em cima dessas possibilidades. A cena da leitura do roteiro, por exemplo, ganha muito mais força ao ser montada em paralelo com os acontecimentos no Irã, com a leitura da carta ao governo norte-americano. A junção dos assuntos, a ironia das falas do roteiro, tudo funciona de uma forma muito orgânica.
Essa é a melhor sensação que o cinema pode nos trazer, a ilusão de junção de mundos, temas, visões. Apesar de vinda de uma história real, Argo, acaba sendo uma metáfora da própria sétima arte. A solução encontrada para a guerra, para os conflitos e pela busca da paz. Como canadenses disfarçados, os norte-americanos acabam se tornando mais do que simples diplomatas extraviados, tornam-se símbolos. Exemplos da soberania de um povo diante de outro com seu imperialismo sempre sufocante. Não que haja aqui mocinhos e bandidos, mas interferências arbitrárias de todos os lados.
O filme de Ben Affleck, no entanto, não tem a pretensão de discutir essas questões, apenas de expor uma trama bem feita e, de certa forma, criar um sentimento de orgulho para o seu próprio povo. Tanto que traz alguns exageros na busca por emoção, como a sequência do avião. Ainda assim, é competente em nos envolver naquela história e torcer para que tudo dê certo. Não podemos negar, temos aqui um filme bem feito. Então, só nos resta repetir quase roboticamente, "Ar'Go fuck yourself!"
PS. Durante os créditos ainda dá pra conhecer um pouco mais da história depois da operação. Vale a pena!
Argo (Argo, 2012 / EUA)
Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio
Com: Ben Affleck, Bryan Cranston, John Goodman e Alan Arkin.
Duração: 120 min.
Argo retrata um curioso caso real que aconteceu no final da década de 70, início dos anos 80. Seis diplomatas norte-americanos, fugindo de uma revolta no Irã, ficam ilhados na embaixada do Canadá. É preciso tirá-los dali e o melhor plano que a CIA consegue traçar é criar uma falsa equipe de um filme de ficção científica no Oriente Médio. Liderando este plano está Tony Mendez, interpretado pelo próprio Ben Affleck, e o destinos dessas seis pessoas depende do sucesso dele.
Muito bem pensado e realizado, o filme começa com uma introdução direta sobre os conflitos no Oriente Médio. A questão do Xá, a deportação e exílio nos Estados Unidos, a revolta do povo. Tudo é muito didático, mas não chega a ser cansativo, era necessário para que pudéssemos compreender melhor a trama. E a fusão da introdução com a cena da multidão em frente à embaixada norte-americana no Irã é muito bem feita. As imagens impressionam. O terror dos americanos, tentando esconder as provas, a iminência da invasão, a tensão criada. É o melhor convite para entrar naquela história.
Apesar de um plano absurdo, o roteiro é hábil em construir a atmosfera verossímil. Independente de ser baseada em algo que de fato aconteceu, um filme precisa ser crível, ou não funciona. E a saída para que possamos embarcar naquela aventura é a própria descrença dos personagens de que ela possa dar certo. As discussões sobre as possibilidades e todos argumentos que o personagem de Ben Affleck vai dando para que aquilo não funcione vai nos convencendo de que o falso filme é a melhor escolha. A todo momento os personagens se perguntam como aquilo pode dar certo. E a dúvida deles é a da plateia, logo, não há uma quebra da empatia e seguimos na história.
Fica mais fácil acreditar no falso filme, também, por causa da solução da imprensa. A manipulação da mídia pode criar até guerras fictícias como vimos em Mera Coincidência, por que não um filme de mentira? Cartazes, storyboards, matérias e até um escritório em Hollywood, tudo foi pensado para tornar o falso, real. E Ben Affleck ainda consegue reconstruir em cima dessas possibilidades. A cena da leitura do roteiro, por exemplo, ganha muito mais força ao ser montada em paralelo com os acontecimentos no Irã, com a leitura da carta ao governo norte-americano. A junção dos assuntos, a ironia das falas do roteiro, tudo funciona de uma forma muito orgânica.
Essa é a melhor sensação que o cinema pode nos trazer, a ilusão de junção de mundos, temas, visões. Apesar de vinda de uma história real, Argo, acaba sendo uma metáfora da própria sétima arte. A solução encontrada para a guerra, para os conflitos e pela busca da paz. Como canadenses disfarçados, os norte-americanos acabam se tornando mais do que simples diplomatas extraviados, tornam-se símbolos. Exemplos da soberania de um povo diante de outro com seu imperialismo sempre sufocante. Não que haja aqui mocinhos e bandidos, mas interferências arbitrárias de todos os lados.
O filme de Ben Affleck, no entanto, não tem a pretensão de discutir essas questões, apenas de expor uma trama bem feita e, de certa forma, criar um sentimento de orgulho para o seu próprio povo. Tanto que traz alguns exageros na busca por emoção, como a sequência do avião. Ainda assim, é competente em nos envolver naquela história e torcer para que tudo dê certo. Não podemos negar, temos aqui um filme bem feito. Então, só nos resta repetir quase roboticamente, "Ar'Go fuck yourself!"
PS. Durante os créditos ainda dá pra conhecer um pouco mais da história depois da operação. Vale a pena!
Argo (Argo, 2012 / EUA)
Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio
Com: Ben Affleck, Bryan Cranston, John Goodman e Alan Arkin.
Duração: 120 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Argo
2012-11-20T07:30:00-03:00
Amanda Aouad
Alan Arkin|Ben Affleck|Bryan Cranston|critica|John Goodman|livro|oscar2013|suspense|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
A cena que vamos detalhar, do filme Tubarão (1975), é um dos momentos mais emblemáticos do filme dirigido por Steven Spielberg. Nessa se...
-
A Princesa Prometida , dirigido por Rob Reiner e lançado em 1987 , é um conto de fadas moderno que encanta o público com sua mistura perfei...
-
Oldboy , dirigido por Park Chan-wook , é um filme sul-coreano que se destaca como um dos grandes tesouros do cinema contemporâneo. Com uma ...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Beto Brant , um dos grandes nomes do cinema brasileiro contemporâneo, consolidou sua carreira ao abordar temas densos e provocativos. Em O ...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Hitch: Conselheiro Amoroso é um daqueles filmes que, à primeira vista, parecem abraçar o clichê sem qualquer vergonha, mas que, ao olhar m...
-
Venom: Tempo de Carnificina é um daqueles filmes que só faz sentido quando encarado como uma peça de entretenimento ultrajante e autossufi...