Os quarenta e cinco anos do movimento da Tropicália renderam boas homenagens este ano. E é interessante como os dois documentários criados: Tropicália de Marcelo Machado e Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now! de Ninho Moraes e Francisco Cesar Filho, dialogam de alguma maneira. Enquanto o primeiro é um resgate histórico com um valor imenso em suas imagens de arquivo e na maneira criativa como monta tudo isso. O segundo é uma repaginada no movimento, observando-o com o olhar de hoje, em pleno século 21.Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now! é uma experimentação de linguagem, que usa depoimentos clássicos do documentário, intercalados por esquetes de alguns atores e um show com André Abujamra, banda e participações especiais como Luis Caldas, Alexandre Nero e o próprio Gilberto Gil que serve como um dos depoimentos guias, por sua importância na participação do movimento. Mas, também, é o único que ali está, e lá esteve. A proposta do filme é de atualização, é de pensar o movimento hoje, as mudanças possíveis hoje. E nisso reside seu principal atrativo.
O contexto histórico é contado de forma criativa, começando com o ator Carlos Meceni falando com um passarinho. Sim, um passarinho dentro de uma gaiola que tem seus pios interpretados pelo ator em uma conversa estranha, mas divertida. A participação de Gero Camilo é mais poética, citando trechos de livros, dicionários e matérias de jornais, mas conversando e interagindo através de objetos do novo século como notebook, iPhone e tablet. Outras esquetes também intercalam a obra que tem até uma interação com um programa da MTV que interpreta um dos diretores e roteirista do filme, Ninho Moraes. 
Toda essa inventividade traz uma dinâmica e torna o documentário uma experimentação diferente, já que a direção e montagem são bastante clássicas. No caso dos depoimentos, não há mesmo muita inovação. Aquele modelo padrão de entrevistado olhando para a câmera e falando sobre os acontecimentos da época. As histórias vão sendo intercaladas, falando um pouco sobre ditadura militar, o movimento em si, música, teatro, literatura, artes em geral e sua necessidade de romper com o estabelecido. E o show coroa a essa mistura ao dar novas roupagens às antigas músicas, escolhidas de uma maneira muito peculiar, mesclando alguns clássicos populares como o próprio hino do movimento, Tropicália de Caetano Veloso, com outras músicas que permaneceram menos na lembrança popular como Marginália de Torquato Neto. Não ter músicas como Panis et Circensis e Divino Maravilhoso, por exemplo, enquanto ouvimos Superbacana não deixa de ser curioso.
E toda essa convergência de músicas, depoimentos e esquetes servem como ferramentas de defesa de uma tese de que o mundo mudou e hoje podemos ver os ideais tropicalistas, de certa forma, impressos em nosso cotidiano, nos novos ritmos, nas novas misturas e até mesmo nas curiosas reconfigurações do poder, como Gilberto Gil ter sido ministro da cultura do governo Lula, ou Dilma, uma militante política que já foi presa pela ditadura militar, hoje ser a representante máxima do país. Aliás, o discurso de posse de Médici ser seguido pelo discurso de posse dela, é um dos momentos emocionantes do filme. Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now! é um documentário que se constrói e desconstrói em um discurso atual para falar, não do passado, mas do presente. Tem algum problema de ritmo que o torna cansativo em alguns momentos, um certo excesso nas esquetes e até uma sequência de um coral de crianças cantando o Hino do Senhor do Bonfim que soa meio estranho. Mas, consegue desenvolver seu argumento de uma forma criativa e envolvente. Empolga. Pela brincadeira, pela mistura, pelo tema e pela sensação de que os ideais revolucionários da década de 60 ainda têm ecos nos dias de hoje, não sendo apenas uma lembrança saudosista.
Filme visto na 8ª Mostra de Cinema de Vitória da Conquista.
Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now! (Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now!, 2012 / Brasil)
Direção: Ninho Moraes e Francisco Cesar Filho
Roteiro: Ninho Moraes
Com: Alice Braga, Gero Camilo, Carlos Meceni, Helena Albergaria, Luis Caldas.
Duração: 76 min.
