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Kleber Mendonça Filho
Maeve Jinkings
O Som Ao Redor
O Som Ao Redor
O Som Ao Redor é, sem dúvidas, um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos. É incrível como o som é o guia e a liga dessa história de uma maneira tão particular e bem realizada. Ele sai do background e se torna uma das peças principais com uma competência que não o faz brigar com a história, nem se destacar em excesso. Mérito também do roteiro de Kleber Mendonça Filho que é muito bem amarrado e com diálogos muito naturais.
Tudo se passa em um bairro da zona sul de Recife. Diversos personagens transitam por nossa tela, a começar por João, sua garota, seu tio e seu avô Francisco, um senhor que é dono de boa parte dos imóveis locais. Nesse mesmo núcleo familiar, tem ainda o primo Dinho, que é um delinquente e os empregados de cada casa. Temos também outras famílias, como a de Bia, uma mulher que tenta a todo custo calar o barulhento cão da casa ao lado e sua hilária vizinha invejosa. E todos têm que lidar com a novidade de um grupo de segurança particular que surge na rua.
O mais impressionante do roteiro é que, apesar da quantidade de personagens e núcleos existentes, em nenhum momento a trama parece fragmentada. Tudo é conduzido de uma maneira muito orgânica, nem vemos o tempo passar. E há também uma construção realista nas cenas e, principalmente, nos diálogos travados. Todos com raciocínios rápidos, críveis e completamente naturais. A reunião de condomínio, por exemplo, é algo que mereceria um estudo próprio, pelas situações, pelos personagens, pelo subtexto da mesquinhez humana, pela condução da cena.
O roteiro é dividido em três capítulos que poderiam ser o mesmo. Cães de Guarda, Guardas Noturnos e Guarda Costas. Três denominações que possuem nuanças bem tênues de diferenciação e semelhança. E que escondem algo mais, que o roteiro nos traz aos poucos de uma maneira muito inteligente, nos surpreendendo positivamente no final. É gratificante perceber os detalhes que Kleber Mendonça Filho constrói em seu texto, não subestimando a inteligência de seu público e o brindando com críticas sutis e bem construídas através de um humor ácido.
Essa segurança e sutileza está no texto e está na direção do cineasta que já nos guia no início do filme em um bem realizado plano-sequência que nos faz passear por um parquinho infantil observando cada detalhe sonoro que nos cerca. Ali já temos o vislumbre da história, já que várias crianças se reúnem em grupos menores, mas todas estão ligadas por aquele plano longo sem cortes e pelo som ao redor do ambiente que é o mesmo para cada um deles. Em diversos momentos, o filme nos chama a atenção para os sons e para o ambiente, sem quebrar a narrativa.
As atuações também contribuem para o bom andamento da orquestra, dando o tom necessário para os diálogos e situações passadas. Irandhir Santos não precisa de apresentações. Impressionante como o ator consegue se reinventar a cada papel. Ele dá ao segurança Clodoaldo a imparcialidade necessária para os plots do roteiro. Mas, ele não está só em sua boa interpretação. Gustavo Jahn como João, Maeve Jinkings como Bia, Waldemar José Solha como Francisco, Irma Brown como Sofia são apenas alguns nomes pernambucanos que se destacam em um filme onde ninguém destoa.
Tendo o som como guia, fato que é possível de observar em toda a montagem do filme, O Som Ao Redor é mais do que isso. Chama a atenção essa mudança de foco, mas também o naturalismo das cenas cotidianas, o humor perspicaz do realizador em cada crítica, nos detalhes como os filhos de Maria tomando conta da casa de João, ou na maneira adulta que os filhos de Bia cuidam dela. Isso sem falar nos diálogos bem feitos. Mas, mais do que tudo, chama a atenção a unidade, o todo. Em seu primeiro filme de ficção, depois do documentário Crítico e quatro curtas, o crítico Kleber Mendonça Filho definitivamente se torna um cineasta a ser acompanhado.
Filme visto na 8ª Mostra de Cinema de Vitória da Conquista.
O Som ao Redor (O Som ao Redor, 2012 / Brasil)
Direção: Kleber Mendonça Filho
Roteiro: Kleber Mendonça Filho
Com: Irandhir Santos, Gustavo Jahn, Maeve Jinkings, WJ Solha, Irma Brown, Yuri de Holanda e Lula Terra.
Duração: 131 min.
Tudo se passa em um bairro da zona sul de Recife. Diversos personagens transitam por nossa tela, a começar por João, sua garota, seu tio e seu avô Francisco, um senhor que é dono de boa parte dos imóveis locais. Nesse mesmo núcleo familiar, tem ainda o primo Dinho, que é um delinquente e os empregados de cada casa. Temos também outras famílias, como a de Bia, uma mulher que tenta a todo custo calar o barulhento cão da casa ao lado e sua hilária vizinha invejosa. E todos têm que lidar com a novidade de um grupo de segurança particular que surge na rua.
O mais impressionante do roteiro é que, apesar da quantidade de personagens e núcleos existentes, em nenhum momento a trama parece fragmentada. Tudo é conduzido de uma maneira muito orgânica, nem vemos o tempo passar. E há também uma construção realista nas cenas e, principalmente, nos diálogos travados. Todos com raciocínios rápidos, críveis e completamente naturais. A reunião de condomínio, por exemplo, é algo que mereceria um estudo próprio, pelas situações, pelos personagens, pelo subtexto da mesquinhez humana, pela condução da cena.
O roteiro é dividido em três capítulos que poderiam ser o mesmo. Cães de Guarda, Guardas Noturnos e Guarda Costas. Três denominações que possuem nuanças bem tênues de diferenciação e semelhança. E que escondem algo mais, que o roteiro nos traz aos poucos de uma maneira muito inteligente, nos surpreendendo positivamente no final. É gratificante perceber os detalhes que Kleber Mendonça Filho constrói em seu texto, não subestimando a inteligência de seu público e o brindando com críticas sutis e bem construídas através de um humor ácido.
Essa segurança e sutileza está no texto e está na direção do cineasta que já nos guia no início do filme em um bem realizado plano-sequência que nos faz passear por um parquinho infantil observando cada detalhe sonoro que nos cerca. Ali já temos o vislumbre da história, já que várias crianças se reúnem em grupos menores, mas todas estão ligadas por aquele plano longo sem cortes e pelo som ao redor do ambiente que é o mesmo para cada um deles. Em diversos momentos, o filme nos chama a atenção para os sons e para o ambiente, sem quebrar a narrativa.
As atuações também contribuem para o bom andamento da orquestra, dando o tom necessário para os diálogos e situações passadas. Irandhir Santos não precisa de apresentações. Impressionante como o ator consegue se reinventar a cada papel. Ele dá ao segurança Clodoaldo a imparcialidade necessária para os plots do roteiro. Mas, ele não está só em sua boa interpretação. Gustavo Jahn como João, Maeve Jinkings como Bia, Waldemar José Solha como Francisco, Irma Brown como Sofia são apenas alguns nomes pernambucanos que se destacam em um filme onde ninguém destoa.
Tendo o som como guia, fato que é possível de observar em toda a montagem do filme, O Som Ao Redor é mais do que isso. Chama a atenção essa mudança de foco, mas também o naturalismo das cenas cotidianas, o humor perspicaz do realizador em cada crítica, nos detalhes como os filhos de Maria tomando conta da casa de João, ou na maneira adulta que os filhos de Bia cuidam dela. Isso sem falar nos diálogos bem feitos. Mas, mais do que tudo, chama a atenção a unidade, o todo. Em seu primeiro filme de ficção, depois do documentário Crítico e quatro curtas, o crítico Kleber Mendonça Filho definitivamente se torna um cineasta a ser acompanhado.
Filme visto na 8ª Mostra de Cinema de Vitória da Conquista.
O Som ao Redor (O Som ao Redor, 2012 / Brasil)
Direção: Kleber Mendonça Filho
Roteiro: Kleber Mendonça Filho
Com: Irandhir Santos, Gustavo Jahn, Maeve Jinkings, WJ Solha, Irma Brown, Yuri de Holanda e Lula Terra.
Duração: 131 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Som Ao Redor
2012-11-17T07:30:00-03:00
Amanda Aouad
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