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Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2
Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2
Fernando Pessoa, em seu heterônimo Álvaro de Campos, já dizia que todas as cartas de amor são ridículas. O amor parece mesmo piegas aos olhos intelectuais. Ainda mais um amor adolescente com ares do século retrasado. Esse talvez seja um dos pontos que torne A Saga Crepúsculo vítima de tantas críticas ferrenhas e preconceitos igualmente fervorosos. Outro ponto, no entanto, é a qualidade técnica de seus filmes, que começou sofrível e foi melhorando aos poucos.
Quatro filmes depois, a Saga chega ao quinto e derradeiro longametragem mais maduro. Amanhecer - Parte 2 é de longe o melhor da série, o que não significa muita coisa. Mas, ainda assim é um bom filme. Um filme construído em capítulos bem definidos, é verdade, o que ajuda na cadência da história. Começamos com Bella acordando e se descobrindo vampira. Passamos pela fase dos poderes. Depois vem o problema com os Volturi por causa de Renesmee. Vem então, a reunião de testemunhas. E por fim, o embate.
Os primeiros minutos do filme parecem ser os mais problemáticos. Há um excesso de zoom e alguns efeitos estranhos para simular a nós as sensações de Bella. Nessa fase, a atriz Kristen Stewart também está sofrível sem conseguir encontrar exatamente o tom de sua personagem, tudo parece exagerado, fake, incômodo. Mas, depois a moça melhora. A atuação do trio protagonista não compromete o filme que traz alguns bons momentos principalmente com Michael Sheen e Ashley Greene.
Passa a fase de adaptação, tudo melhora. Roteiro, trama, diálogos e até efeitos especiais. Com exceção daquilo que fizeram com o rosto de Renesmee que ficou mesmo uma coisa monstruosa. O Amanhecer ganha um brilho especial com um objetivo tão claro, proteger Renesmee dos Volturi, provando que ela não é uma criança imortal. E nesse ponto entra em cena Alice, peça-chave em toda a trama. Ela sempre foi um oráculo, uma narradora, um ponto de explicação e quase um Deus Ex-machina. Sua construção durante a série torna tudo mais possível, e por isso, a resolução não me parece covarde ou tola, mas bastante coerente com tudo que já foi apresentado.
A paixão de Jacob por Renesmee é um ponto delicado da história. Apesar de o roteiro de Melissa Rosenberg, ou mesmo o livro de Stephenie Meyer, trabalhar isso, levando inclusive a discussão para a própria história a partir da reação de Bella, não deixa de ser um perigoso flerte com a pedofilia. Já pensou se todo pedófilo começa agora a querer usar como defesa o fato de que encontrou sua alma gêmea? Por mais que acabemos comprando a ideia, acreditando que isso seja possível, ver Jacob daquele jeito por um bebê e depois uma criancinha é assustador. Jogá-lo para fora de casa foi uma das coisas mais sensatas que Bella fez no filme.
Porém, ao mesmo tempo em que é sensata com filha, lobo e marido, Bella acaba construindo uma sensação estranha com o pai. O pobre do Charlie dá pena. A cena em que ele vai à casa dos Cullen após a revelação de Jacob dói na alma. A recém vampira o trata de uma forma tão distante e a atuação de Billy Burke é tão sensível que nos dá vontade de consolar o homem. Por mais que entendamos que a filha está ali se controlando, não deixa de ser destoante a emoção em cena.
Dentre os pontos negativos, não posso deixar ainda de falar na alegoria com a qual continuam tratando o nosso país. As índias representantes da Amazônia são mesmo lamentáveis, assim como a visão da floresta que ela dá a Edward. O que nos leva a outro ponto lamentável que é a apresentação dos poderes de cada vampiro. Tudo muito didático e cansativo.
Mas, para balancear essas questões, Bill Condon nos traz boas escolhas. A forma como os Cullen saem pelo mundo buscando suas testemunhas é orgânica, não tão didática quanto a apresentação dos poderes. E claro, a iminência de uma guerra deixa o filme tenso e envolvente. As cenas no descampado são belas, ainda mais com a neve ajudando no visual. E o ritmo da cena emociona, principalmente pelo desenho de som apoteótico a cada jogada do peão.
Pois é, interessante que o xadrez, um dos símbolos da série, acabe sendo uma alegoria perfeita para aquilo que acontece durante o terceiro ato do filme. A forma como os dois grupos estão organizados e a forma como Alice e Aro estudam em detalhes os próximos passos a dar, não nos deixa dúvida de que tudo aquilo é um grande jogo de xadrez. Um jogo de xadrez que mais uma vez cai na questão amorosa, tanto que roteirista e escritora fazem questão de colocar na boca de seu protagonista que tudo aquilo está acontecendo porque ele se apaixonou por uma mortal.
Mas, independente de qualquer análise crítica e observação técnica, Amanhecer Parte 2 é um filme fadado ao sucesso. É a coroação para os fãs que acompanharam pacientemente cada capítulo dessa história de amor e ódio. Ouviram e brigaram com cada ponto negativo alardeado, cada preconceito nascido por qualquer que seja o motivo. Sempre também defendendo de forma irracional, como qualquer pessoa apaixonada, a Saga Crepúsculo. O último capítulo se demonstra um presente para esses fãs. Principalmente pela cena final de Bella e Edward naquele campo florido e os créditos que fizeram questão relembrar todos os personagens / atores que passaram por ali. Acaba sendo um fecho digno.
A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2, O Final (The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2, 2012 / EUA)
Direção: Bill Condon
Roteiro: Melissa Rosenberg
Com: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Billy Burke, Peter Facinelli, Ashley Greene, Michael Sheen e Dakota Fanning
Duração: 115 min.
Quatro filmes depois, a Saga chega ao quinto e derradeiro longametragem mais maduro. Amanhecer - Parte 2 é de longe o melhor da série, o que não significa muita coisa. Mas, ainda assim é um bom filme. Um filme construído em capítulos bem definidos, é verdade, o que ajuda na cadência da história. Começamos com Bella acordando e se descobrindo vampira. Passamos pela fase dos poderes. Depois vem o problema com os Volturi por causa de Renesmee. Vem então, a reunião de testemunhas. E por fim, o embate.
Os primeiros minutos do filme parecem ser os mais problemáticos. Há um excesso de zoom e alguns efeitos estranhos para simular a nós as sensações de Bella. Nessa fase, a atriz Kristen Stewart também está sofrível sem conseguir encontrar exatamente o tom de sua personagem, tudo parece exagerado, fake, incômodo. Mas, depois a moça melhora. A atuação do trio protagonista não compromete o filme que traz alguns bons momentos principalmente com Michael Sheen e Ashley Greene.
Passa a fase de adaptação, tudo melhora. Roteiro, trama, diálogos e até efeitos especiais. Com exceção daquilo que fizeram com o rosto de Renesmee que ficou mesmo uma coisa monstruosa. O Amanhecer ganha um brilho especial com um objetivo tão claro, proteger Renesmee dos Volturi, provando que ela não é uma criança imortal. E nesse ponto entra em cena Alice, peça-chave em toda a trama. Ela sempre foi um oráculo, uma narradora, um ponto de explicação e quase um Deus Ex-machina. Sua construção durante a série torna tudo mais possível, e por isso, a resolução não me parece covarde ou tola, mas bastante coerente com tudo que já foi apresentado.
A paixão de Jacob por Renesmee é um ponto delicado da história. Apesar de o roteiro de Melissa Rosenberg, ou mesmo o livro de Stephenie Meyer, trabalhar isso, levando inclusive a discussão para a própria história a partir da reação de Bella, não deixa de ser um perigoso flerte com a pedofilia. Já pensou se todo pedófilo começa agora a querer usar como defesa o fato de que encontrou sua alma gêmea? Por mais que acabemos comprando a ideia, acreditando que isso seja possível, ver Jacob daquele jeito por um bebê e depois uma criancinha é assustador. Jogá-lo para fora de casa foi uma das coisas mais sensatas que Bella fez no filme.
Porém, ao mesmo tempo em que é sensata com filha, lobo e marido, Bella acaba construindo uma sensação estranha com o pai. O pobre do Charlie dá pena. A cena em que ele vai à casa dos Cullen após a revelação de Jacob dói na alma. A recém vampira o trata de uma forma tão distante e a atuação de Billy Burke é tão sensível que nos dá vontade de consolar o homem. Por mais que entendamos que a filha está ali se controlando, não deixa de ser destoante a emoção em cena.
Dentre os pontos negativos, não posso deixar ainda de falar na alegoria com a qual continuam tratando o nosso país. As índias representantes da Amazônia são mesmo lamentáveis, assim como a visão da floresta que ela dá a Edward. O que nos leva a outro ponto lamentável que é a apresentação dos poderes de cada vampiro. Tudo muito didático e cansativo.
Mas, para balancear essas questões, Bill Condon nos traz boas escolhas. A forma como os Cullen saem pelo mundo buscando suas testemunhas é orgânica, não tão didática quanto a apresentação dos poderes. E claro, a iminência de uma guerra deixa o filme tenso e envolvente. As cenas no descampado são belas, ainda mais com a neve ajudando no visual. E o ritmo da cena emociona, principalmente pelo desenho de som apoteótico a cada jogada do peão.
Pois é, interessante que o xadrez, um dos símbolos da série, acabe sendo uma alegoria perfeita para aquilo que acontece durante o terceiro ato do filme. A forma como os dois grupos estão organizados e a forma como Alice e Aro estudam em detalhes os próximos passos a dar, não nos deixa dúvida de que tudo aquilo é um grande jogo de xadrez. Um jogo de xadrez que mais uma vez cai na questão amorosa, tanto que roteirista e escritora fazem questão de colocar na boca de seu protagonista que tudo aquilo está acontecendo porque ele se apaixonou por uma mortal.
Mas, independente de qualquer análise crítica e observação técnica, Amanhecer Parte 2 é um filme fadado ao sucesso. É a coroação para os fãs que acompanharam pacientemente cada capítulo dessa história de amor e ódio. Ouviram e brigaram com cada ponto negativo alardeado, cada preconceito nascido por qualquer que seja o motivo. Sempre também defendendo de forma irracional, como qualquer pessoa apaixonada, a Saga Crepúsculo. O último capítulo se demonstra um presente para esses fãs. Principalmente pela cena final de Bella e Edward naquele campo florido e os créditos que fizeram questão relembrar todos os personagens / atores que passaram por ali. Acaba sendo um fecho digno.
A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2, O Final (The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2, 2012 / EUA)
Direção: Bill Condon
Roteiro: Melissa Rosenberg
Com: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Billy Burke, Peter Facinelli, Ashley Greene, Michael Sheen e Dakota Fanning
Duração: 115 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2
2012-11-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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