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Eduardo Nunes
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Léa Garcia
Mariana Lima
Simone Spoladore
Sudoeste
Sudoeste
Sudoeste é um filme inquietante que quer criar impacto. E já começa pela escolha da técnica. Eduardo Nunes filma em uma janela incomum de proporção que deixa a tela ainda mais retangular que o widescreen comum. É também um filme em preto e branco, com granulações aparentes e contrastes fortes. Mas, de uma beleza indescritível. E tudo isso em função de uma história mágica.
Explicar do que se trata Sudoeste é explicar a surpresa da descoberta. O filme que começa com um mistério em uma casa. Uma moça grávida morrendo, uma mulher que toma conta e uma senhora misteriosa. A construção narrativa aparentemente linear que nos leva a uma cabana no meio do rio, logo começa a se revelar cíclica. E que traz muito mais mistérios que explicações, na própria busca por si mesmo. Uma personagem em transformação e auto-descobrimento, com a ajuda do místico.
Não por acaso, a personagem de Léa Garcia é chamada pela vila de bruxa. Talvez tudo aquilo que vemos seja obra dela, ou talvez estejamos em uma realidade subjetiva das lembranças, naqueles segundos pós-morte em que alguns creem podermos ter um vislumbre de toda a vida. Há diversas interpretações possíveis em uma história do impossível. Em uma vila distante de pessoas simples que parecem não ter mesmo outro objetivo senão acordar, trabalhar e dormir.
Chama a atenção essa fábula do tempo e da vida, nos faz pensar, refletir e ligar todos os pontos apenas no final, é verdade, mas quando a luz se dá, algo de inquietante se apazigua e renasce dentro de nós com a força que a própria vida e o seu sentido. Ou falta dele. Talvez, a vida seja simplesmente aquela brincadeira das crianças, de fechar os olhos, ouvir a chuva e imaginar como gostaria que tudo fosse. Não por acaso, Eduardo Nunes nos faz experimentar isso, literalmente, ao desligar a luz da tela e nos deixar apenas com o som das gotas caindo, em uma experiência sensorial ímpar.
Aliás, a experiência sensorial é parte essencial da apreciação de Sudoeste. Em sua tela estranha, em seus enquadramentos inventivos, em toda uma construção cênica especial. Na contemplação. O ritmo do filme é desacelerado, até demais em alguns momentos, é verdade, mas tudo segue um fluxo de observação. Demora no olhar, na imagem quase estática, na construção cíclica do tempo. O moinho é o seu maior símbolo e o plano em que vemos a casa do alto, com suas hélices passando em primeiro plano como se abrissem e fechassem aquela história.
Destaque também para as atuações, todas naturais e entregues aos seus personagens. Dira Paes longe dos estereótipos da Globo compõe a sua Conceição com elegância e força. Léa Garcia traz o mistério que sua personagem necessita. O casal composto por Mariana Lima e Julio Adrião trazem a carga necessária para o sofrimento pelo qual passam. Pelos segredos daquela família desfragmentada. E Simone Spoladore brilha nos detalhes de sua Clarice, ainda que fique boa parte fora de cena, mas presente até mesmo na composição da pequena Raquel Bonfante.
Sudoeste é uma experiência. Única, envolvente, desconcertante e que fica conosco em cada grão de sua película exposta. É um filme que funciona para nos tirar do conforto da trama linear, explicada. Não que seja um filme complexo ao extremo, é até didático se prestarmos atenção nas pistas que vão sendo colocadas. Mas, é acima de tudo uma poesia. Uma fábula do tempo, da vida e seus significados.
Filme visto na 8ª Mostra de Cinema de Vitória da Conquista.
Sudoeste (Sudoeste, 2011 / Brasil)
Direção: Eduardo Nunes
Roteiro: Eduardo Nunes, Guilherme Sarmiento
Com: Simone Spoladore, Julio Adrião, Raquel Bonfante, Mariana Lima, Dira Paes, Victor Navega Motta, Everaldo Pontes e Léa Garcia
Duração: 128 min.
Explicar do que se trata Sudoeste é explicar a surpresa da descoberta. O filme que começa com um mistério em uma casa. Uma moça grávida morrendo, uma mulher que toma conta e uma senhora misteriosa. A construção narrativa aparentemente linear que nos leva a uma cabana no meio do rio, logo começa a se revelar cíclica. E que traz muito mais mistérios que explicações, na própria busca por si mesmo. Uma personagem em transformação e auto-descobrimento, com a ajuda do místico.
Não por acaso, a personagem de Léa Garcia é chamada pela vila de bruxa. Talvez tudo aquilo que vemos seja obra dela, ou talvez estejamos em uma realidade subjetiva das lembranças, naqueles segundos pós-morte em que alguns creem podermos ter um vislumbre de toda a vida. Há diversas interpretações possíveis em uma história do impossível. Em uma vila distante de pessoas simples que parecem não ter mesmo outro objetivo senão acordar, trabalhar e dormir.
Chama a atenção essa fábula do tempo e da vida, nos faz pensar, refletir e ligar todos os pontos apenas no final, é verdade, mas quando a luz se dá, algo de inquietante se apazigua e renasce dentro de nós com a força que a própria vida e o seu sentido. Ou falta dele. Talvez, a vida seja simplesmente aquela brincadeira das crianças, de fechar os olhos, ouvir a chuva e imaginar como gostaria que tudo fosse. Não por acaso, Eduardo Nunes nos faz experimentar isso, literalmente, ao desligar a luz da tela e nos deixar apenas com o som das gotas caindo, em uma experiência sensorial ímpar.
Aliás, a experiência sensorial é parte essencial da apreciação de Sudoeste. Em sua tela estranha, em seus enquadramentos inventivos, em toda uma construção cênica especial. Na contemplação. O ritmo do filme é desacelerado, até demais em alguns momentos, é verdade, mas tudo segue um fluxo de observação. Demora no olhar, na imagem quase estática, na construção cíclica do tempo. O moinho é o seu maior símbolo e o plano em que vemos a casa do alto, com suas hélices passando em primeiro plano como se abrissem e fechassem aquela história.
Destaque também para as atuações, todas naturais e entregues aos seus personagens. Dira Paes longe dos estereótipos da Globo compõe a sua Conceição com elegância e força. Léa Garcia traz o mistério que sua personagem necessita. O casal composto por Mariana Lima e Julio Adrião trazem a carga necessária para o sofrimento pelo qual passam. Pelos segredos daquela família desfragmentada. E Simone Spoladore brilha nos detalhes de sua Clarice, ainda que fique boa parte fora de cena, mas presente até mesmo na composição da pequena Raquel Bonfante.
Sudoeste é uma experiência. Única, envolvente, desconcertante e que fica conosco em cada grão de sua película exposta. É um filme que funciona para nos tirar do conforto da trama linear, explicada. Não que seja um filme complexo ao extremo, é até didático se prestarmos atenção nas pistas que vão sendo colocadas. Mas, é acima de tudo uma poesia. Uma fábula do tempo, da vida e seus significados.
Filme visto na 8ª Mostra de Cinema de Vitória da Conquista.
Sudoeste (Sudoeste, 2011 / Brasil)
Direção: Eduardo Nunes
Roteiro: Eduardo Nunes, Guilherme Sarmiento
Com: Simone Spoladore, Julio Adrião, Raquel Bonfante, Mariana Lima, Dira Paes, Victor Navega Motta, Everaldo Pontes e Léa Garcia
Duração: 128 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Sudoeste
2012-11-13T07:30:00-03:00
Amanda Aouad
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