As Aventuras de Pi
Dizem que a fé remove montanhas. Então, não deve mesmo ser impossível imaginar um garoto em um bote salva-vidas, com um orangotango, uma hiena, uma zebra e um tigre de bengala conseguir sobreviver no mar por 227 dias. Afinal, Pi Pavel era um homem de fé. E não apenas uma fé. Indiano, ele ainda na infância conseguia seguir o hinduísmo, o catolicismo, islamismo e posteriormente o judaísmo. Eram apenas formas diferentes de compreender Deus.
Baseado no livro de Yann Martel, As Aventuras de Pi é mais do que um filme de aventura, é um filme de fé. De comunhão com as crenças, medos e capacidade de superação do ser humano. Nascido Piscine Patel, Pi teve que conviver com adversidades desde muito pequeno, a começar pelo próprio nome, que era de uma piscina pública em Paris e virou chacota dos colegas de sala que o chamavam de pipi. Passou por um trauma na infância que o deixou descrente de muitas coisas e quando voltou a ter um motivo para ter esperanças no futuro, seus pais resolveram deixar a Índia em direção ao Canadá. No caminho, uma tempestade o deixa sozinho no mar com os quatro companheiros inusitados. Sobreviver, será mesmo uma questão de fé.
A estrutura do roteiro de David Magee segue uma não-linearidade ao colocar como ponto de ligamento da trama Pi já mais velho, sendo entrevistado por um escritor que irá escrever a sua história. Dessa forma sabemos que Pi sobreviveu, é verdade. Mas, ele sobreviver é o que menos importa no filme. O que importa é como ele conseguirá isso, os aprendizados pelos quais passará, as escolhas, a forma de superação. E, principalmente, o que tudo aquilo significa.
Ang Lee nos traz escolhas bastante felizes para representar essa história. A fotografia é pomposa, os efeitos especiais incríveis, as imagens são belas em uma constituição emocional que aquela trama precisa. O mar aberto sempre fascinou o homem e a forma como o oceano é representado, principalmente à noite, impressiona. A grandiosidade da natureza diante da pequenez do homem, um ser frágil perdido naquela imensidão e a luz que vem do alto, o Deus, ou pelo menos o que ele acredita ser. Afinal, o que mais Deus quer de Pi?
E aí, entra o segundo personagem principal, Richard Parker. O tigre de bengala. Um ser quase mítico que já fascina Pi na infância e funciona como uma lição dada de seu pai. Uma forma dele perceber que não pode confiar em animais, tirando assim sua inocência e sua crença em algo mais. Pi é desiludido nesse momento, mas tem que enfrentar novamente esse ser em meio ao oceano. Mais do que isso, tem que aprender a se comunicar com ele, para que ambos sobrevivam. Um precisa do outro. Um complementa o outro. É é impressionante como a computação gráfica consegue nos dar realismo a esse ser imponente.
Impressiona também o 3D e o realismo conseguido nas imagens. Nos sentimos dentro daquele barquinho junto com seus personagens. Nos sentimos um pouco Pi em cada desafio. Aprendemos a crer com ele, ainda que não profetizemos nenhuma de suas religiões. Porque o que Pi crê não são em religiões que modelam homens sem fé e irracionais. Mas, em algo mais profundo, em uma essência que cada homem só pode encontrar dentro de si. A possibilidade de escolher acreditar.
As Aventuras de Pi é um filme pomposo. Impressiona em imagens, em tema e em construção de mito. Capaz de envolver e emocionar pessoas, principalmente pela busca de algo que é tão caro e raro hoje na nossa sociedade individualista: um objetivo de vida, um motivo para ter a certeza de que realmente vale a pena lutar para continuar vivendo.
As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012 / EUA)
Direção: Ang Lee
Roteiro: David Magee
Com: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain, Gérard Depardieu
Duração: 127 min.
Baseado no livro de Yann Martel, As Aventuras de Pi é mais do que um filme de aventura, é um filme de fé. De comunhão com as crenças, medos e capacidade de superação do ser humano. Nascido Piscine Patel, Pi teve que conviver com adversidades desde muito pequeno, a começar pelo próprio nome, que era de uma piscina pública em Paris e virou chacota dos colegas de sala que o chamavam de pipi. Passou por um trauma na infância que o deixou descrente de muitas coisas e quando voltou a ter um motivo para ter esperanças no futuro, seus pais resolveram deixar a Índia em direção ao Canadá. No caminho, uma tempestade o deixa sozinho no mar com os quatro companheiros inusitados. Sobreviver, será mesmo uma questão de fé.
A estrutura do roteiro de David Magee segue uma não-linearidade ao colocar como ponto de ligamento da trama Pi já mais velho, sendo entrevistado por um escritor que irá escrever a sua história. Dessa forma sabemos que Pi sobreviveu, é verdade. Mas, ele sobreviver é o que menos importa no filme. O que importa é como ele conseguirá isso, os aprendizados pelos quais passará, as escolhas, a forma de superação. E, principalmente, o que tudo aquilo significa.
Ang Lee nos traz escolhas bastante felizes para representar essa história. A fotografia é pomposa, os efeitos especiais incríveis, as imagens são belas em uma constituição emocional que aquela trama precisa. O mar aberto sempre fascinou o homem e a forma como o oceano é representado, principalmente à noite, impressiona. A grandiosidade da natureza diante da pequenez do homem, um ser frágil perdido naquela imensidão e a luz que vem do alto, o Deus, ou pelo menos o que ele acredita ser. Afinal, o que mais Deus quer de Pi?
E aí, entra o segundo personagem principal, Richard Parker. O tigre de bengala. Um ser quase mítico que já fascina Pi na infância e funciona como uma lição dada de seu pai. Uma forma dele perceber que não pode confiar em animais, tirando assim sua inocência e sua crença em algo mais. Pi é desiludido nesse momento, mas tem que enfrentar novamente esse ser em meio ao oceano. Mais do que isso, tem que aprender a se comunicar com ele, para que ambos sobrevivam. Um precisa do outro. Um complementa o outro. É é impressionante como a computação gráfica consegue nos dar realismo a esse ser imponente.
Impressiona também o 3D e o realismo conseguido nas imagens. Nos sentimos dentro daquele barquinho junto com seus personagens. Nos sentimos um pouco Pi em cada desafio. Aprendemos a crer com ele, ainda que não profetizemos nenhuma de suas religiões. Porque o que Pi crê não são em religiões que modelam homens sem fé e irracionais. Mas, em algo mais profundo, em uma essência que cada homem só pode encontrar dentro de si. A possibilidade de escolher acreditar.
As Aventuras de Pi é um filme pomposo. Impressiona em imagens, em tema e em construção de mito. Capaz de envolver e emocionar pessoas, principalmente pela busca de algo que é tão caro e raro hoje na nossa sociedade individualista: um objetivo de vida, um motivo para ter a certeza de que realmente vale a pena lutar para continuar vivendo.
As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012 / EUA)
Direção: Ang Lee
Roteiro: David Magee
Com: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain, Gérard Depardieu
Duração: 127 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
As Aventuras de Pi
2012-12-17T10:38:00-03:00
Amanda Aouad
Ang Lee|aventura|critica|drama|Gerard Depardieu|oscar2013|Suraj Sharma|
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