
Verônica é uma mulher comum que mora em Recife, acaba de se formar em medicina, começa uma residência psiquiátrica em um hospital público, mora com o pai e tem um flerte com Gustavo, personagem de João Miguel. As vezes sai com as amigas para a balada e não parece ter muitos pudores em relação a bebidas, drogas e sexo. Mas, algo parece lhe faltar. Ela fala em alguns momentos de sua incapacidade de amar, por exemplo, mas isso é apenas uma das abstrações de sua apatia constante diante da vida.

A velocidade com que a tecnologia cresce ao nosso redor, o consumismo cada vez mais desenfreado, o script que seguimos de crescer, escolher uma profissão e trabalhar sem ao menos pensar no que nos satisfaz. Tudo isso tem criado sociedades apáticas. Os sonhos nos deixaram há muito tempo. Vivemos em ilusão e mais preocupados em ter do que ser. Faltam objetivos para a vida, faltam ideologias. Somos quase robôs programados a dormir e acordar todos os dias sem parar para pensar no que queremos.

Nem mesmo a doença do pai e o medo da morte parecem sacudir sua vida de uma maneira mais concreta. Verônica está sempre em sua quase letargia, observando a vida passar. Não por acaso, em seus sonhos, o sexo é o refúgio perfeito. As cenas na praia, o mar, o prazer sem culpa e sem preocupações maiores. Talvez ela quisesse viver assim, sem precisar dar satisfações a uma sociedade que também não entende. Mas, Marcelo Gomes acaba não conseguindo traduzir tão bem toda essa questão em imagens, arrastando a narrativa em uma angústia intensa que acaba tornando personagem e filme cansativos.
No entanto, há outro ponto a se destacar na trama que é a forma como a música nos ajuda na condução de tudo aquilo. Boas escolhas trazem conforto, ironia ou ampliam a divagação, como na cena da boate onde ouvimos "Mira Ira", a letra "Tá tudo padronizado no nosso coração. Nosso jeito de amar pelo jeito não é nosso não" diz muito sobre a personagem Verônica e o que ela sente. Outra cena a se destacar é após uma complicação na doença do pai, quando ela dorme na casa de Gustavo e ele a observa ao som de "O que me importa".
Era uma vez eu, Verônica acaba sendo um filme bom, mas que poderia ser muito melhor. Uma angústia sem muita razão de ser, sem empatia, mas que chama a atenção pelo tema e pela interpretação de sua protagonista.
Era uma vez eu, Verônica (Era uma vez eu, Verônica, 2012 / Brasil)
Direção: Marcelo Gomes
Roteiro: Marcelo Gomes
Com: Hermila Guedes, João Miguel, W. J. Solha, Renata Roberta, Inaê Veríssimo
Duração: 90 min.