O Expresso Polar
Baseado no livro de Chris Van Allsburg, Expresso Polar é uma aventura mágica que procura resgatar a crença em Papai Noel em uma criança que começa a desconfiar. E entre estranhamentos com o formato de animação com captura de movimentos, e algumas barrigas no roteiro, consegue manter um clima ameno, digno da época natalina.
O garotinho, de quem nunca é dito o nome, percebe alguns absurdos na lenda do Papai Noel e começa a desconfiar de sua existência, tanto que tenta convencer sua irmãzinha de sua teoria. É quando, na véspera do Natal, ele acaba sendo chamado para embarcar em um trem especial: O Expresso Polar. Lá, ele e outras crianças irão ao Pólo Norte para acompanhar os preparativos finais da festa. Mas, o caminho é que se demonstra a maior aventura.
É interessante como os conceitos de o que é Natal, do consumismo e de amor ao próximo se misturam no roteiro de maneira sutil. Porque é fato que Papai Noel e dar presentes é um produto do capitalismo, que aproveita uma data religiosa para aquecer o mercado. Mas, ao mesmo tempo, o mito de Papai Noel é algo mágico que traz o melhor das pessoas, a vontade de ajudar ao próximo, o amor. Vide o próprio desenvolvimento do garoto protagonista em contraponto com o "antagonista" que só quer o presente. A forma como se torna amigo de outros dois, a angústia por querer ajudar a menina com o bilhete, a própria escolha no momento-chave.
Tudo vai além do presente, do consumo, por mais que o conceito esteja ali. O embarque em um trem mágico e a necessidade de acreditar nos faz inocentes novamente. Crianças que ainda sonham com um futuro melhor, que se permitem ver além da realidade fria dos adultos. É quase um rito de passagem, mas que nos traz uma chama, uma esperança de que mesmo crescendo podemos manter a nossa criança interior. Mesmo adultos podemos nos permitir sonhar, brincar e sermos mais leves.
E a própria escolha do formato de animação para construir o filme, nos dá esse hibrido. Afinal, não é uma animação totalmente infantil, com traços mais arredondados ou desenhos feitos com traços leves. Também não é um filme live action com uma fotografia realista. Expresso Polar é uma animação em 3D feita toda com captura de movimentos. Como se fosse uma mescla do mundo adulto e infantil. Traz algumas estranhezas na concepção dos personagens, é verdade. Por mais que o 3D tenha avançado e em 2004 ainda não era nem metade do que vemos hoje, o rosto humano ainda é um problema a ser vencido aqui.
Mas, de qualquer forma, os cenários e objetos de cena são fantásticos. Tudo com uma perfeição de detalhes que impressiona. E a direção também é cuidadosa. O uso do escudo como espelho para algumas cenas é bem interessante. Assim como o boneco de neve dando "tchau", quando o vento passa e o balança. Outro momento impressionante é o voo da águia com o bilhete da garotinha no bico. A imersão daquela imagem é muito boa. Pena que é exatamente no momento em que o roteiro cai.
O problema é que com o bilhete voando parece que começa uma espécie de barriga no filme. Eles precisam fazer render a trama até a chegada no Pólo Norte que será o clímax e com isso começa com algumas trapalhadas que acabam cansando. É o bilhete, depois o garoto em cima do trem, depois o problema na cabine do maquinista, depois a questão do gelo, até a parte em que a cabine se solta do resto do trem. Tudo muito exagerado, alguns muito forçados. De bom nisso, só o enigmático homem de cima do trem.
Mas, no geral, Expresso Polar é uma animação feita para emocionar. Impossível não destacar a importância de Tom Hanks para o sucesso disso, já que consegue dar vida ao Condutor, o Vagabundo, Papai Noel, pai do garoto e ao garoto mais velho com muita competência. Mas, o ponto principal do filme é mesmo a capacidade de captar a carência da humanidade de amor e afeto verdadeiro, utilizando o símbolo do bom velhinho e fortalecendo a fábula do Natal gelado, mas com a união dos povos. Uma grande festa, sem dúvidas.
Expresso Polar (The Polar Express, 2012 / EUA)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Robert Zemeckis e William Broyles Jr.
Com: Tom Hanks, Nona Gaye, Josh Hutcherson e Michael Jeter
Duração: 100 min.
O garotinho, de quem nunca é dito o nome, percebe alguns absurdos na lenda do Papai Noel e começa a desconfiar de sua existência, tanto que tenta convencer sua irmãzinha de sua teoria. É quando, na véspera do Natal, ele acaba sendo chamado para embarcar em um trem especial: O Expresso Polar. Lá, ele e outras crianças irão ao Pólo Norte para acompanhar os preparativos finais da festa. Mas, o caminho é que se demonstra a maior aventura.
É interessante como os conceitos de o que é Natal, do consumismo e de amor ao próximo se misturam no roteiro de maneira sutil. Porque é fato que Papai Noel e dar presentes é um produto do capitalismo, que aproveita uma data religiosa para aquecer o mercado. Mas, ao mesmo tempo, o mito de Papai Noel é algo mágico que traz o melhor das pessoas, a vontade de ajudar ao próximo, o amor. Vide o próprio desenvolvimento do garoto protagonista em contraponto com o "antagonista" que só quer o presente. A forma como se torna amigo de outros dois, a angústia por querer ajudar a menina com o bilhete, a própria escolha no momento-chave.
Tudo vai além do presente, do consumo, por mais que o conceito esteja ali. O embarque em um trem mágico e a necessidade de acreditar nos faz inocentes novamente. Crianças que ainda sonham com um futuro melhor, que se permitem ver além da realidade fria dos adultos. É quase um rito de passagem, mas que nos traz uma chama, uma esperança de que mesmo crescendo podemos manter a nossa criança interior. Mesmo adultos podemos nos permitir sonhar, brincar e sermos mais leves.
E a própria escolha do formato de animação para construir o filme, nos dá esse hibrido. Afinal, não é uma animação totalmente infantil, com traços mais arredondados ou desenhos feitos com traços leves. Também não é um filme live action com uma fotografia realista. Expresso Polar é uma animação em 3D feita toda com captura de movimentos. Como se fosse uma mescla do mundo adulto e infantil. Traz algumas estranhezas na concepção dos personagens, é verdade. Por mais que o 3D tenha avançado e em 2004 ainda não era nem metade do que vemos hoje, o rosto humano ainda é um problema a ser vencido aqui.
Mas, de qualquer forma, os cenários e objetos de cena são fantásticos. Tudo com uma perfeição de detalhes que impressiona. E a direção também é cuidadosa. O uso do escudo como espelho para algumas cenas é bem interessante. Assim como o boneco de neve dando "tchau", quando o vento passa e o balança. Outro momento impressionante é o voo da águia com o bilhete da garotinha no bico. A imersão daquela imagem é muito boa. Pena que é exatamente no momento em que o roteiro cai.
O problema é que com o bilhete voando parece que começa uma espécie de barriga no filme. Eles precisam fazer render a trama até a chegada no Pólo Norte que será o clímax e com isso começa com algumas trapalhadas que acabam cansando. É o bilhete, depois o garoto em cima do trem, depois o problema na cabine do maquinista, depois a questão do gelo, até a parte em que a cabine se solta do resto do trem. Tudo muito exagerado, alguns muito forçados. De bom nisso, só o enigmático homem de cima do trem.
Mas, no geral, Expresso Polar é uma animação feita para emocionar. Impossível não destacar a importância de Tom Hanks para o sucesso disso, já que consegue dar vida ao Condutor, o Vagabundo, Papai Noel, pai do garoto e ao garoto mais velho com muita competência. Mas, o ponto principal do filme é mesmo a capacidade de captar a carência da humanidade de amor e afeto verdadeiro, utilizando o símbolo do bom velhinho e fortalecendo a fábula do Natal gelado, mas com a união dos povos. Uma grande festa, sem dúvidas.
Expresso Polar (The Polar Express, 2012 / EUA)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Robert Zemeckis e William Broyles Jr.
Com: Tom Hanks, Nona Gaye, Josh Hutcherson e Michael Jeter
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Expresso Polar
2012-12-18T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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