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O Impossível

O tsunami na Tailândia ocorrido em 2004 é um dos maiores desastres da nossa história recente. Foram 5.000 mortes e mais de 2.800 desaparecidos, deixando 1.480 órfãos, somente naquele país. É natural que o cinema queira contar algumas daquelas histórias. Ainda mais quando uma família com mulher, marido e três filhos passa por tudo isso que uma forma tão impressionante.

Henry e Maria resolvem passar as férias de fim de ano junto com seus filhos Lucas, Simon e Thomas, em um hotel paradisíaco quando são surpreendidos na manhã do dia 26 pela enorme onda de devastou toda a costa oeste. Separados, eles terão que lutar pela sobrevivência e pela possibilidade de se reencontrarem, enquanto testemunham as diversas tragédias pessoais que encontram pelo caminho.

Juan Antonio Bayona, que sacudiu o mundo com O Orfanato em 2007, nos traz um tratamento hiperrealista à tragédia, nos colocando no centro do drama. É impressionante a riqueza de detalhes desde o primeiro barulho, passando pela bola quicando no chão, os pássaros, voando, os sons aumentando, os coqueiros sendo derrubados até a grande onda. Bayona utiliza muito bem os blacks para nos deixar desorientados em meio a tanta água e escombros. É possível sentir a dor física dos personagens ao construir as sequências sem pressa, focando em cada dificuldade.

Da mesma forma como foi inteligente da parte do roteirista, alongar um pouco o primeiro ato, onde tudo está bem, para que possamos nos familiarizar com aqueles personagens, gostar deles, para que, quando a tragédia se instalasse, lá estaríamos nós, colados em sua dor, preocupados com sua sorte. Milhares de pessoas estavam ali, na mesma situação, mas ao nos colocar junto com eles, sentimos de uma maneira mais pessoal. Quase como se nos colocássemos em seus lugares.

Há uma escolha em O Impossível de nos prender apenas ao desastre e à luta pela sobrevivência. Tudo é construído ali, no mar de lama e entulho, nos hospitais sem condições de atender a tantos, no desespero pela busca por informações. Cada família desorientada não tem como saber se cada parente sobreviveu ou não. E isso é o pior desespero, a falta de informação em uma situação como essa chega a ser enlouquecedora. Uma mistura de dor da perda com esperança de que alguém possa surgir do nada. O filme é hábil em nos passar essa sensação, até pelas escolhas da construção narrativa.

O problema se encontra em seu terceiro ato. Mesmo levando em conta que é baseado em uma história real, o filme derrapa em problemas diversos. Alguns que desconstroem até a imagem da família construída durante todo o percurso com discursos de ajuda ao próximo e solidariedade na hora do desespero. Complicado detalhar sem entregar a resolução da obra, mas fica uma sensação estranha com algumas atitudes, principalmente por uma imagem da janela do avião.

Outro ponto problemático é a necessidade de emocionar e prolongar o clímax. Toda a sequência que nos lembra um jogo bobo de gato e rato incomoda. É desnecessária a utilização de recursos tão baratos em um filme que já nos mostrou tanto, que já nos fez sofrer e nos emocionou com aquela jornada complexa e dramática. Não que isso destrua o que foi construído até ali, é o que mais esperamos, é o que nos emociona. Só não precisava ser daquele jeito. Às vezes, o simples é muito melhor do que o complexo.

De qualquer maneira, O Impossível impressiona por suas imagens, pelos efeitos especiais do tsunami, pela direção de arte do mundo devastado após a onda, pela entrega dos atores, em especial o trio protagonista Naomi Watts, Ewan McGregor e o garoto Tom Holland, que faz o filho mais velho do casal, mas os dois menores, Samuel Joslin e Oaklee Pendergast também estão muito bem. Destaque ainda para a participação enigmática de Geraldine Chaplin na praia. Poderia ser melhor, se soubesse amarrar a história de uma maneira mais digna, mas ainda assim, é um bom filme.


O Impossível (Lo imposible, 2012 / EUA)
Direção: Juan Antonio Bayona
Roteiro: Sergio G. Sánchez
Com: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland, Geraldine Chaplin
Duração: 114 min.

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