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Amor
Amor
Depois de perder um Oscar dito como ganho para os argentinos em 2010, quando O Segredo dos Seus Olhos bateu A Fita Branca, Michael Haneke volta a figurar como grande favorito na categoria de Filme Estrangeiro, principalmente após as indicações de direção, melhor filme, roteiro e atriz. Amor é um filme sensível, realista e que dói na alma. Uma obra que consegue rimar amor com dor, sem ser piegas ou mesmo pobre de espírito.
Um casal da terceira idade, um amor como poucos, eterno. E um obstáculo inconveniente, uma doença degenerativa que vai paralisando aos poucos a simpática Anne, deixando Georges, cada vez mais, sofrido. Toda a trama é bastante delicada, a doença, na verdade, não é muito explicada, nos parece uma isquemia, com algumas crises. Mas, a primeira é uma crise de ausência. Porém, isso é o que menos importa. A rotina do casal é que nos é apresentada, a dor, a superação, as novas dificuldades e o desfecho de tirar o fôlego.
O filme já começa com um impacto forte, com os bombeiros invadindo a casa e encontrando uma cena poética e mórbida ao mesmo tempo. Retornamos um tempo passado em um concerto de piano e já começamos com os contrastes que Michael Haneke nos conduz a todo momento. A felicidade e o sofrimento caminham lado a lado. Nos tira do conforto, nos incomoda em diversos pontos, principalmente, se existem casos semelhantes na família.
Destaque para os atores Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva que sustentam quase sozinhos toda a obra. As participações esporádicas, principalmente, da filha, dos vizinhos e do ex-aluno, ajudam. Mas, é no casal que se centra toda a trajetória. A troca de olhares, os pactos, os cuidados, o sofrimento exposto, a necessidade de alguma independência. Tudo nos é passado com muita competência pelos dois. A cena da primeira ausência de Anne, por exemplo, é impressionante. O rosto imóvel, o desespero dele em tentar chamá-la, tudo é muito bem construído.
É fácil acompanhar o desenvolvimento dos personagens, à medida em que a doença avança. A entrega dele, os cuidados, a dor de ter que contratar enfermeiras por não conseguir fazer tudo sozinho. Ao mesmo tempo em que ela começa rebelde, querendo mostrar que ainda não é incapaz e aos poucos vai se entregando, não querendo mais viver, ver outras pessoas, continuar naquela luta insana. Ao mesmo tempo que temos momentos de alegria simples como uma cadeira com motor, temos o desespero de um pombo dentro da sala.
É nesse ponto que Amor se mostra não ser apenas atores, mas uma construção perfeita de roteiro, direção, encenação e montagem. Temos momentos muito bem construídos nos detalhes, como quando o ex-aluno os visita. Em um plano, temos a visão dele observando a porta entre-aberta com Anne atrás de Georges, sentada em sua cadeira de rodas. A dor do rapaz que não sabia do estado da ex-professora é passada por imagens. Assim como temos, a dor de Georges exposta em montagens simples dele vendo Anne ao piano, enquanto ouve o CD do rapaz.
Todo o filme é construído em pausas, detalhes, gestos, sentimentos. É sufocante e belo ao mesmo tempo. Um exemplo de amor, que sofre ao ver o estado em que se encontra o ser amado. A sensação de impotência, a necessidade de aceitação. Ainda que seja a coisa mais difícil de se fazer. Em determinado momento, Georges pergunta à filha o que ela quer que ele faça. Ela está histérica, dizendo não aceitar aquilo, mas, a solução parece não existir de fato. É preciso conviver com a doença.
Amor é isso. Um filme-tratado. Um belo retrato de um amor eterno e da forma como o destino brincou com ele, fazendo passar por uma prova extrema. E que chega ao seu final com uma forma tamanha que nos deixa sem ar. Daqueles filmes incômodos que temos que bater palmas ao final.
Amor (Amour, 2012 / Áustria)
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
Com: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva e Isabelle Huppert
Duração: 127 min.
Um casal da terceira idade, um amor como poucos, eterno. E um obstáculo inconveniente, uma doença degenerativa que vai paralisando aos poucos a simpática Anne, deixando Georges, cada vez mais, sofrido. Toda a trama é bastante delicada, a doença, na verdade, não é muito explicada, nos parece uma isquemia, com algumas crises. Mas, a primeira é uma crise de ausência. Porém, isso é o que menos importa. A rotina do casal é que nos é apresentada, a dor, a superação, as novas dificuldades e o desfecho de tirar o fôlego.
O filme já começa com um impacto forte, com os bombeiros invadindo a casa e encontrando uma cena poética e mórbida ao mesmo tempo. Retornamos um tempo passado em um concerto de piano e já começamos com os contrastes que Michael Haneke nos conduz a todo momento. A felicidade e o sofrimento caminham lado a lado. Nos tira do conforto, nos incomoda em diversos pontos, principalmente, se existem casos semelhantes na família.
Destaque para os atores Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva que sustentam quase sozinhos toda a obra. As participações esporádicas, principalmente, da filha, dos vizinhos e do ex-aluno, ajudam. Mas, é no casal que se centra toda a trajetória. A troca de olhares, os pactos, os cuidados, o sofrimento exposto, a necessidade de alguma independência. Tudo nos é passado com muita competência pelos dois. A cena da primeira ausência de Anne, por exemplo, é impressionante. O rosto imóvel, o desespero dele em tentar chamá-la, tudo é muito bem construído.
É fácil acompanhar o desenvolvimento dos personagens, à medida em que a doença avança. A entrega dele, os cuidados, a dor de ter que contratar enfermeiras por não conseguir fazer tudo sozinho. Ao mesmo tempo em que ela começa rebelde, querendo mostrar que ainda não é incapaz e aos poucos vai se entregando, não querendo mais viver, ver outras pessoas, continuar naquela luta insana. Ao mesmo tempo que temos momentos de alegria simples como uma cadeira com motor, temos o desespero de um pombo dentro da sala.
É nesse ponto que Amor se mostra não ser apenas atores, mas uma construção perfeita de roteiro, direção, encenação e montagem. Temos momentos muito bem construídos nos detalhes, como quando o ex-aluno os visita. Em um plano, temos a visão dele observando a porta entre-aberta com Anne atrás de Georges, sentada em sua cadeira de rodas. A dor do rapaz que não sabia do estado da ex-professora é passada por imagens. Assim como temos, a dor de Georges exposta em montagens simples dele vendo Anne ao piano, enquanto ouve o CD do rapaz.
Todo o filme é construído em pausas, detalhes, gestos, sentimentos. É sufocante e belo ao mesmo tempo. Um exemplo de amor, que sofre ao ver o estado em que se encontra o ser amado. A sensação de impotência, a necessidade de aceitação. Ainda que seja a coisa mais difícil de se fazer. Em determinado momento, Georges pergunta à filha o que ela quer que ele faça. Ela está histérica, dizendo não aceitar aquilo, mas, a solução parece não existir de fato. É preciso conviver com a doença.
Amor é isso. Um filme-tratado. Um belo retrato de um amor eterno e da forma como o destino brincou com ele, fazendo passar por uma prova extrema. E que chega ao seu final com uma forma tamanha que nos deixa sem ar. Daqueles filmes incômodos que temos que bater palmas ao final.
Amor (Amour, 2012 / Áustria)
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
Com: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva e Isabelle Huppert
Duração: 127 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Amor
2013-01-15T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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