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Rich Moore
Detona Ralph
Detona Ralph
A junção da Disney com a Pixar parece ter feito os dois estúdios se fundirem de fato em busca de temas. Enquanto a Pixar lançou Valente, uma aventura de uma princesa medieval, a Disney surge com uma aventura inusitada para o seu padrão, ainda que já tenha flertado com jogos eletrônicos em Tron, personagens de videogames em sua rotina quando não estão sendo, digamos, utilizados pelos jogadores.
É nesse universo que se encontra Ralph, o vilão do jogo "Fix-It Felix". Sua função é destruir um prédio, até que o herói Felix chega e conserta toda a confusão que ele causou com suas enormes mãos. O problema é que, fora do jogo, Ralph também é visto como vilão. Isolado no lixão ao lado do prédio, ele não tem amigos, nem participa das festas que os moradores realizam. E, por isso, decide que não vai mais ser um vilão. Sua meta: conseguir uma medalha, nem que para isso tenha que percorrer todos os jogos do fliperama.
Um dos pontos mais interessantes do filme é a linguagem e evolução dos jogos. Ralph segue a estética pixelizada dos jogos dos anos 80. Quando vemos a tela do jogo, tudo é muito simples. Nos bastidores, temos uma animação computadorizada com melhores definições. É divertido ver Ralph passar por três estágios atípicos como o jogo de tiro em primeira pessoa, ou a corrida doce, onde conhece a garotinha Vanellope, que carrega a sua maior esperança de se tornar herói.
Há também boas piadas e referências como a reunião de vilões na "sala" do Pac Man, os jogos e personagens que irão trazer memórias afetivas aos jogadores mais assíduos ou a lenda urbana do Mentos com Coca-Cola diet. A própria criação de um mundo paralelo por trás das máquinas de fliperama, onde todos se comunicam e podem transitar entre os jogos é algo que fascina. Não tem mesmo como não lembrar da Pixar com a vida dos bonecos quando as crianças saem, ou mesmo a capacidade de dar a robôs emoções humanas.
Detona Ralph traz também uma boa simbologia com o sentimento de rejeição que nos assola. Somos seres que vivemos em comunidades. É fácil, então, compreender a dor de Ralph, seu anseio por amigos, sua vontade de interagir e ser reconhecido. Por mais atrapalhado que seja, ele também quer encontrar seu lugar no mundo. E que esse lugar não seja uma montanha de lixo, distante, escura e solitária, onde usa restos de tijolos para se cobrir à noite, enquanto vê as famílias e amigos reunidos em janelas à sua frente.
O problema é que, ao contrário da Pixar, os roteiristas de Detona Ralph não conseguem trabalhar tão bem esses elementos e camadas. A aventura fica repleta de clichês e cenas desnecessárias. Engraçadinhas, mas bobas muitas vezes, tornando tudo muito mais infantil do que o necessário. Claro, que o filme é originalmente para crianças, mas tudo não precisa ser tão raso. As próprias pistas e recompensas da histórias são muito óbvias, tornando toda a aventura "cantada" e as possíveis surpresas, esperadas.
Mas isso não faz de Detona Ralph uma animação ruim. Ela consegue resolver sua principal questão e tem elementos suficientes para envolver crianças de diversas idades. Porém, não tem a capacidade de se tornar uma fábula tão bem resolvida quanto um Toy Story, por exemplo. Ela não capta as questões humanas que temos ali para nos deixar mais próximos dos personagens, nos identificando e sofrendo com eles. Até porque, a trama não nos deixa espaço para isso, diante de tantos estereótipos e resolução visuais engraçadinhas.
Detona Ralph pode decepcionar pela expectativa que se tinha criado diante de um novo mito. Talvez tenhamos exigido demais de um filme que se propõe apenas a ser mais uma aventura legal, em um mundo imaginário. Tal qual os videogames, que só estão ali para divertir um pouco seus jogadores enquanto eles acumulam pontos, live e medalhas. Então, curtamos o que ele tem a nos oferecer.
Detona Ralph (Wreck-It Ralph, 2012 / EUA)
Direção: Rich Moore
Roteiro: Phil Johnston, Jennifer Lee
Duração: 101 min.
Curta-metragem
Antes do filme, temos a bela animação “Paperman“. Uma mistura de computação com desenho feito à mão, com acabamento em preto e branco. Sem um único diálogo, o curta nos conta uma história de amor entre um jovem novaiorquino solitário e uma moça que ele vê em uma estação de trem. A forma como os aviõezinhos de papel se tornam fundamentais para essa história é mágica e poética. E o ritmo nos envolve de uma maneira gostosa de acompanhar. Sem dúvidas, uma bela história.
Veja um pouco da tecnologia utilizada.
É nesse universo que se encontra Ralph, o vilão do jogo "Fix-It Felix". Sua função é destruir um prédio, até que o herói Felix chega e conserta toda a confusão que ele causou com suas enormes mãos. O problema é que, fora do jogo, Ralph também é visto como vilão. Isolado no lixão ao lado do prédio, ele não tem amigos, nem participa das festas que os moradores realizam. E, por isso, decide que não vai mais ser um vilão. Sua meta: conseguir uma medalha, nem que para isso tenha que percorrer todos os jogos do fliperama.
Um dos pontos mais interessantes do filme é a linguagem e evolução dos jogos. Ralph segue a estética pixelizada dos jogos dos anos 80. Quando vemos a tela do jogo, tudo é muito simples. Nos bastidores, temos uma animação computadorizada com melhores definições. É divertido ver Ralph passar por três estágios atípicos como o jogo de tiro em primeira pessoa, ou a corrida doce, onde conhece a garotinha Vanellope, que carrega a sua maior esperança de se tornar herói.
Há também boas piadas e referências como a reunião de vilões na "sala" do Pac Man, os jogos e personagens que irão trazer memórias afetivas aos jogadores mais assíduos ou a lenda urbana do Mentos com Coca-Cola diet. A própria criação de um mundo paralelo por trás das máquinas de fliperama, onde todos se comunicam e podem transitar entre os jogos é algo que fascina. Não tem mesmo como não lembrar da Pixar com a vida dos bonecos quando as crianças saem, ou mesmo a capacidade de dar a robôs emoções humanas.
Detona Ralph traz também uma boa simbologia com o sentimento de rejeição que nos assola. Somos seres que vivemos em comunidades. É fácil, então, compreender a dor de Ralph, seu anseio por amigos, sua vontade de interagir e ser reconhecido. Por mais atrapalhado que seja, ele também quer encontrar seu lugar no mundo. E que esse lugar não seja uma montanha de lixo, distante, escura e solitária, onde usa restos de tijolos para se cobrir à noite, enquanto vê as famílias e amigos reunidos em janelas à sua frente.
O problema é que, ao contrário da Pixar, os roteiristas de Detona Ralph não conseguem trabalhar tão bem esses elementos e camadas. A aventura fica repleta de clichês e cenas desnecessárias. Engraçadinhas, mas bobas muitas vezes, tornando tudo muito mais infantil do que o necessário. Claro, que o filme é originalmente para crianças, mas tudo não precisa ser tão raso. As próprias pistas e recompensas da histórias são muito óbvias, tornando toda a aventura "cantada" e as possíveis surpresas, esperadas.
Mas isso não faz de Detona Ralph uma animação ruim. Ela consegue resolver sua principal questão e tem elementos suficientes para envolver crianças de diversas idades. Porém, não tem a capacidade de se tornar uma fábula tão bem resolvida quanto um Toy Story, por exemplo. Ela não capta as questões humanas que temos ali para nos deixar mais próximos dos personagens, nos identificando e sofrendo com eles. Até porque, a trama não nos deixa espaço para isso, diante de tantos estereótipos e resolução visuais engraçadinhas.
Detona Ralph pode decepcionar pela expectativa que se tinha criado diante de um novo mito. Talvez tenhamos exigido demais de um filme que se propõe apenas a ser mais uma aventura legal, em um mundo imaginário. Tal qual os videogames, que só estão ali para divertir um pouco seus jogadores enquanto eles acumulam pontos, live e medalhas. Então, curtamos o que ele tem a nos oferecer.
Detona Ralph (Wreck-It Ralph, 2012 / EUA)
Direção: Rich Moore
Roteiro: Phil Johnston, Jennifer Lee
Duração: 101 min.
Curta-metragem
Antes do filme, temos a bela animação “Paperman“. Uma mistura de computação com desenho feito à mão, com acabamento em preto e branco. Sem um único diálogo, o curta nos conta uma história de amor entre um jovem novaiorquino solitário e uma moça que ele vê em uma estação de trem. A forma como os aviõezinhos de papel se tornam fundamentais para essa história é mágica e poética. E o ritmo nos envolve de uma maneira gostosa de acompanhar. Sem dúvidas, uma bela história.
Veja um pouco da tecnologia utilizada.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Detona Ralph
2013-01-03T08:30:00-03:00
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