
O filme de Júlia Murat é ousado ao trazer poesia ao esquecimento. Uma vila esquecida, onde os moradores se esqueceram até de morrer e onde a rotina não muda. Toda madrugada Madalena acorda para fazer pão. Um pão quentinho que leva para a venda de Antonio, e onde discutem religiosamente todos os dias sobre onde o produto deve ficar. Depois é hora de ir pra missa, e almoçar todos juntos, até o retorno para a casa.

Talvez, desenvolver melhor essa personagem fosse uma missão do roteiro, já que ficamos meio sem entender sua atitude acomodada ao se prender àquele lugar. Mas, isso também faz parte da vida. A falta de explicação e compreensão de muitas coisas. Um olhar de fora, em uma realidade tão viva e mais comum do que imaginamos.


A fotografia por todo esse clima de silêncio e contemplação, ainda se beneficia da falta da luz elétrica. O lampião levado por Madalena em sua rotina diária nos dá belos contrastes de luz e sombra, além de ajudar no clima bucólico de toda aquela história. Da mesma forma que os encontros de Rita com um dos moradores para tomar cachaça perto, fica mais intimista.
Histórias que só existem quando lembradas é isso. Uma cidade, pessoas e suas histórias que só passam a existir para nós, porque Rita chegou lá e os fez lembrar que ainda estavam vivos. Tão vivos que eram até capazes de finalmente morrer, ou simplesmente comemorar com uma festa divertida.
Histórias que só existem quando lembradas (Histórias que só existem quando lembradas, 2011 / Brasil)
Direção: Júlia Murat
Roteiro: Julia Murat, Maria Clara Escobar, Felipe Sholl
Com: Sonia Guedes, Lisa E. Fávero, Luiz Serra, Ricardo Merkin, Antonio dos Santos, Nelson Justiniano, Maria Aparecida Campos, Manoelina dos Santos, Evanilde Souza, Julião Rosa, Elias dos Santos, Pedro Igreja
Duração: 98 min.