
Um
Zumbi apaixonado por uma garota humana. Quando surgiram as primeiras notícias do novo
filme de
Jonathan Levine, muitos começaram a chamar de o novo Crepúsculo. A trama, que na verdade é adaptação do livro
Sangue Quente de
Isaac Marion, talvez só tenha da Saga de Stephenie Meyer a mesma capacidade de gerar ódio por parte de fãs mais xiitas de mitos inexistentes. Afinal, vai ter muita gente reclamando que
Zumbi não pode pensar, muito menos amar.
De fato, é estranho termos como narrador do filme um
Zumbi. Mas, imagino que R, o personagem de
Nicholas Hoult, nos narre sua história de um tempo futuro distante. De qualquer maneira não importa. Ele era um
zumbi que vivia a sua rotina ao lado do amigo M, até que um dia em uma caçada ele vê Julie, a bela jovem interpretada por
Teresa Palmer. Ela o fascina, ele não sabe exatamente o porquê, mas logo depois, ele morde o namorado da moça e devora o seu
cérebro, tendo sensações e lembranças desse ser. Começa, então, a sua jornada para tentar permanecer o máximo possível ao lado da amada e a relação dos dois causa uma revolução no mundo dos
zumbis e dos homens.

É um argumento absurdo, não tenho dúvidas. Mas, tão absurdo quanto imaginar que
zumbis podem se apaixonar e pensar, é imaginar que
zumbis possam existir. Não há tanto problema na brincadeira, até porque ótimas paródias e
comédias já foram criadas com o tema, a exemplo de
Todo Mundo Quase Morto. E o clima de
Meu Namorado é um Zumbi, apesar do título em português horrivelmente meloso, é de
comédia. Há muita brincadeira e piada com tudo, principalmente com músicas. Temos músicas como
Patience do
Guns'n'Roses,
Hungry Heart de
Bruce Springsteen ou
Pretty Woman de
Roy Orbison em momentos bem divertidos.
Mas, a referência maior de
Meu Namorado é um Zumbi é mesmo o eterno clássico de amor proibido
Romeu e Julieta. A começar pelos nomes dos personagens, Julie e R. Ele só lembra que seu nome começava com a letra R e assim fica sendo chamado. Por que não R de
Romeu? E seu amigo M? Não seria M de Mercutio? O grande amigo de Romeu no romance de
Shakespeare? Depois temos momentos mais explícitos como uma simulação torta da cena do balcão com direito a Julie dizendo que ele não pode estar ali, pois aquele lugar é a morte para ele, se os seus o descobrirem. E, claro, o amor deles floresce e começa a modificar a todos em sua volta.

Por isso, apesar do tom farsesco que não leva o próprio argumento a sério, além das diversas referências e piadas,
Meu Namorado é um Zumbi é uma
comédia romântica. Acredita no amor acima de tudo. Em seu potencial de transformação. Mas, nem isso fazem de R um
zumbizinho camarada desde o início. Ele morde e come humanos como qualquer outro. Aliás, passamos boas cenas com ele saboreando o
cérebro do ex-namorado de Julie até que comece a ter uma consciência maior da condição humana. Por isso, ao contrário dos fãs xiitas, não acho que Isaac Marion deturpou os
zumbis, ele apenas criou um viés de possibilidade extra que entendemos melhor ao final da jornada.

Porém, apesar do clima divertido, há uma mancha no
filme de Jonathan Levine. Os tais caveiras (não é a Tropa de Elite). Primeiro que eles são mal construídos, com efeitos especiais bem abaixo do nível atual de tecnologia. Depois porque a própria constituição deles é meio estranha. Uma espécie de
zumbis dos
zumbis que perderam o envoltório de pele, mas não são apenas osso, com uma espécie de carne queimada. Efeitos não é mesmo o forte do
filme, vide um determinado órgão que é mostrado nos
zumbis em uma cena específica. Mas, a própria concepção dos caveiras é meio estranha, até porque eles são super ágeis e parecem raciocinar até mais que os
zumbis "normais".
Meu Namorado é um Zumbi não é um grande
filme. Não tem a tensão, nem a complexidade de obras como
The Walking Dead. Nem é uma
paródia completa sobre o tema. É uma
comédia romântica que se apropria de um universo em alta para brincar. Cabe a gente não questionar muito, porque por mais absurdo que muita coisa pareça,
Jonathan Levine consegue nos conduzir com competência, tornando a jornada divertida, ainda que passageira.
Meu Namorado é um Zumbi (Warm Bodies, 2013 / EUA)
Direção: Jonathan Levine
Roteiro: Jonathan Levine
Com: Nicholas Hoult, Teresa Palmer, John Malkovich, Analeigh Tipton, Rob Corddry e Dave Franco
Duração: 97 min.