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Os Miseráveis
Os Miseráveis
Baseado no romance de Victor Hugo e no musical de Claude-Michel Schönberg, Os Miseráveis está mais para uma ópera que um filme musical tradicional. Afinal, raros são os diálogos que não são cantados em cena. Além disso, toda a estrutura é de uma ópera clássica, estilo Wagner, onde cada personagem tem seu tema que se repete sempre em que ele é o foco, mesmo na voz de outros personagens que contracenam com ele. Quem não gosta de acompanhar histórias cantadas, pode se incomodar. Mas, é um espetáculo belo de se ver.
A história é mais do que conhecida, o drama vivido é intenso e todas as emoções são exacerbadas. Ver atores conhecidos cantando pode distanciar da trama e nos fazer não embarcar completamente naquilo, mas se comportar como quem assiste a um espetáculo simplesmente. Talvez por isso, Os Miseráveis tenha tido reações tão frias em alguns lugares. Porém, há uma carga tão forte ali que merece um olhar mais cuidadoso. Isso sem falar na entrega dos atores que se doam de fato a seus personagens com dignidade.
A história de Jean Valjean é emocionante por si só. Um homem que é preso por dezenove anos só por ter roubado um pão para a irmã que morria de fome é assustador. Tudo bem, ele não ficou preso esse tempo todo por isso, sua pena seria de cinco anos, o resto foi pelas tentativas de fuga. De qualquer forma, é uma relação extrema, até pelo papel da condicional que o enquadra como altamente perigoso. Caçado como um rato pelo inspetor Javert, Jean Valjean tem que se reinventar a todo momento. E sua trajetória de fé, após a nova oportunidade é bela. Assim como sua dedicação à pequena Cosette.
Por outro lado, a postura "lawful neutral" de Javert pode assustar alguns. Um homem que vive para a lei e só acredita nisso, acima de qualquer outra questão, chega a ser estranho. Ele não é bom, nem mal, apenas segue o código estabelecido sem questionamentos e, assim, comete injustiças que na visão dele nada mais são do que o cumprimento do dever. Aliás, questão como honra e dever estão tão escassas hoje em dia que muita coisa na história pode soar estranho, exagerado e sem sentido aos olhares atuais. Atitudes como o do próprio Jean Valjean que escolhe pelo certo em momentos em que muitos prefeririam outros caminhos.
Mas, discutir o texto de Os Miseráveis é complexo. Seja pela época em que foi concebido, seja pelas adaptações feitas. O tema e o cerne são a questão entre o povo e o poder. A França, berço da revolução iluminista que termina em outro golpe e outro rei ditador enquanto que o povo continua nas ruas, sofrido, doente, injustiçado. O sentimento revolucionário que sobrevive na obra, independente da época, emociona e envolve, porque questões sociais são universais. Assim como a busca pela liberdade. E esse sentimento permanece no filme, tornando todos os exageros e deslocamentos menores.
O espetáculo enche aos olhos, ainda que atores não sejam os melhores sopranos e tenores possíveis. A interpretação é o foco. Tanto que Tom Hooper optou por captação direta das canções no set de filmagem. O protagonista Hugh Jackman, ainda que deslocado de seu tom, já que não é tenor, não decepciona. A entrega que tem a Jean Valjean nos convence e emociona. Assim como Anne Hathaway que tem uma construção de Fantine tão crível que nos proporciona momentos sublimes desde seus primeiros olhares na fábrica.
Russell Crowe, no entanto, parece um ator limitado e cantando é ainda mais problemático. Ainda assim também há verdade em seu Javert, assim como há verdade em Amanda Seyfried e Eddie Redmayne como o casal Marius e Cosette. Mas, a voz mais bela que ouvimos é sem dúvidas de Samantha Barks, que chega a nos arrepiar cantando On My Own. Já o casal de trambiqueiros vividos por Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter são o alívio cômico da trama e estão bem nos estereótipos, dando dinâmica à narrativa.
Porém, se a história é conhecida, os atores estão ótimos e a fotografia nos oferece um bom espetáculo, não podemos dizer o mesmo da direção de Tom Hooper que chega a ser preguiçosa em alguns momentos. Repete muito os planos, trabalha sempre com profundidade de campo baixíssima, focando sempre o personagem que canta e nos dá um ritmo frenético na montagem que cansa em alguns momentos. Acabou sendo mais do que justa, sua não indicação ao Oscar.
Os Miseráveis é um filme-espetáculo. Bem feito, com músicas mais do que conhecidas e admiradas, atores em grande performance e uma trama social e política que ainda tem pontos de reflexão importantes. Quem embarcar na proposta, sairá satisfeito do cinema.
Os Miseráveis (Les Misérables, 2012 / EUA)
Direção: Tom Hooper
Roteiro: William Nicholson*
Com: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Eddie Redmayne e Samantha Barks
Duração: 158 min.
*romance original de Victor Hugo. Musical: Claude-Michel Schönberg. Texto original francês: Jean-Marc Natel e Alain Boublil. Músicas: Herbert Kretzmer.
A história é mais do que conhecida, o drama vivido é intenso e todas as emoções são exacerbadas. Ver atores conhecidos cantando pode distanciar da trama e nos fazer não embarcar completamente naquilo, mas se comportar como quem assiste a um espetáculo simplesmente. Talvez por isso, Os Miseráveis tenha tido reações tão frias em alguns lugares. Porém, há uma carga tão forte ali que merece um olhar mais cuidadoso. Isso sem falar na entrega dos atores que se doam de fato a seus personagens com dignidade.
A história de Jean Valjean é emocionante por si só. Um homem que é preso por dezenove anos só por ter roubado um pão para a irmã que morria de fome é assustador. Tudo bem, ele não ficou preso esse tempo todo por isso, sua pena seria de cinco anos, o resto foi pelas tentativas de fuga. De qualquer forma, é uma relação extrema, até pelo papel da condicional que o enquadra como altamente perigoso. Caçado como um rato pelo inspetor Javert, Jean Valjean tem que se reinventar a todo momento. E sua trajetória de fé, após a nova oportunidade é bela. Assim como sua dedicação à pequena Cosette.
Por outro lado, a postura "lawful neutral" de Javert pode assustar alguns. Um homem que vive para a lei e só acredita nisso, acima de qualquer outra questão, chega a ser estranho. Ele não é bom, nem mal, apenas segue o código estabelecido sem questionamentos e, assim, comete injustiças que na visão dele nada mais são do que o cumprimento do dever. Aliás, questão como honra e dever estão tão escassas hoje em dia que muita coisa na história pode soar estranho, exagerado e sem sentido aos olhares atuais. Atitudes como o do próprio Jean Valjean que escolhe pelo certo em momentos em que muitos prefeririam outros caminhos.
Mas, discutir o texto de Os Miseráveis é complexo. Seja pela época em que foi concebido, seja pelas adaptações feitas. O tema e o cerne são a questão entre o povo e o poder. A França, berço da revolução iluminista que termina em outro golpe e outro rei ditador enquanto que o povo continua nas ruas, sofrido, doente, injustiçado. O sentimento revolucionário que sobrevive na obra, independente da época, emociona e envolve, porque questões sociais são universais. Assim como a busca pela liberdade. E esse sentimento permanece no filme, tornando todos os exageros e deslocamentos menores.
O espetáculo enche aos olhos, ainda que atores não sejam os melhores sopranos e tenores possíveis. A interpretação é o foco. Tanto que Tom Hooper optou por captação direta das canções no set de filmagem. O protagonista Hugh Jackman, ainda que deslocado de seu tom, já que não é tenor, não decepciona. A entrega que tem a Jean Valjean nos convence e emociona. Assim como Anne Hathaway que tem uma construção de Fantine tão crível que nos proporciona momentos sublimes desde seus primeiros olhares na fábrica.
Russell Crowe, no entanto, parece um ator limitado e cantando é ainda mais problemático. Ainda assim também há verdade em seu Javert, assim como há verdade em Amanda Seyfried e Eddie Redmayne como o casal Marius e Cosette. Mas, a voz mais bela que ouvimos é sem dúvidas de Samantha Barks, que chega a nos arrepiar cantando On My Own. Já o casal de trambiqueiros vividos por Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter são o alívio cômico da trama e estão bem nos estereótipos, dando dinâmica à narrativa.
Porém, se a história é conhecida, os atores estão ótimos e a fotografia nos oferece um bom espetáculo, não podemos dizer o mesmo da direção de Tom Hooper que chega a ser preguiçosa em alguns momentos. Repete muito os planos, trabalha sempre com profundidade de campo baixíssima, focando sempre o personagem que canta e nos dá um ritmo frenético na montagem que cansa em alguns momentos. Acabou sendo mais do que justa, sua não indicação ao Oscar.
Os Miseráveis é um filme-espetáculo. Bem feito, com músicas mais do que conhecidas e admiradas, atores em grande performance e uma trama social e política que ainda tem pontos de reflexão importantes. Quem embarcar na proposta, sairá satisfeito do cinema.
Os Miseráveis (Les Misérables, 2012 / EUA)
Direção: Tom Hooper
Roteiro: William Nicholson*
Com: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Eddie Redmayne e Samantha Barks
Duração: 158 min.
*romance original de Victor Hugo. Musical: Claude-Michel Schönberg. Texto original francês: Jean-Marc Natel e Alain Boublil. Músicas: Herbert Kretzmer.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Miseráveis
2013-02-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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