As atrizes Wiranu Tembé e Mayara Bentes, Tainá e sua mãe respectivamente, estiveram em Salvador para a pré-estreia do filme e pudemos conversar um pouco com elas. Wiranu Tembé foi a escolhida após uma busca intensa que investigou mais de 2.200 meninas em toda a Amazônia. Com apenas cinco anos, sem saber uma palavra em português, ela encantou a equipe e conseguiu aprender rapidamente tudo o que precisava para ficar com o papel. Já Mayara Bentes, nunca tinha pensado em ser atriz, mas, descendente de índios, também foi descoberta no Pará e se encantou com o ofício. Veja como foi a conversa com as duas e com o preparador de elenco Cláudio Barros.
*Fotos por Rebeca Azevedo.
Índia da aldeia Tekohaw, a pequena Wiranu não falava uma palavra em português quando foi escolhida para ser a Tainá. Um desafio intenso que a equipe do filme encarou e que deu ótimos frutos, já que a pequena indiazinha é graciosa e estava bastante à vontade em tela. Até por sua idade e diferença cultural, a entrevista com ela foi mais simples. Ainda assim, tem ótimos momentos.
Tudo bem, Wiranu? Você gostou de fazer o filme?
- Gostei.
Do que você gostou mais?
- Gostei mais de andar no balão e cantar a música do Toque Patoque.
Você já conhecia a música?
- Não.
Cláudio Barros, que acompanhava a entrevista, intervém, explicando: "o Toque Patoque, embora pareça uma música indígena, não é. É uma música utilizada no treinamento para estimular o ritmo, o tempo, o jogo da musicalidade. Nós utilizamos isso no treinamento e aí fizemos algumas adaptações para ficar mais próxima do universo indígena, mas é uma música de exercício."
E você já se viu na tela, o que achou?
- Já, achei bem legal. Eu gostei.
E você, viajando pelo país com a equipe do filme. O que você tem visto, o que está gostando mais?
- Gosto da piscina e do mar. É diferente do rio. E gosto também de pipoca.
E o que você gostou que não tem na sua aldeia e queria levar para lá.
- Luz e cama. Na aldeia, eu durmo em rede.
E você quer fazer outros filmes?
- Quero, primeiro eu quero estudar para ser atriz. Eu quero ser atriz.
Como foi o trabalho com a Wiranu Tembé? Como ela foi descoberta?
- Ela foi encontrada depois de 2200 testes. Dois anos e meio de busca em todos os Estados da Amazônia. A gente chegou a ficar com dez crianças selecionadas, mas aí fomos participar dos Jogos Indígenas que é um evento que acontece de dois em dois anos no estado do Pará. Junta todas as aldeias e faz uma espécie de olimpíadas. Na abertura dos jogos, cada etnia apresenta um ritual, e no ritual dos Tekohaw nós vimos essa criança e ficamos loucos. Já tínhamos fechado o elenco de dez meninas para participar do treinamento. A Wiranu veio e roubou a cena, foi a décima primeira. Ela tinha só de quatro para cinco anos, estávamos procurando crianças na faixa de sete anos. Depois de 35 dias de treinamento, ela tinha surpreendido a todos.
E o que ela tinha de especial?
- A Wiranu não tinha nenhum tipo de ansiedade, de expectativa sobre a questão de ser Tainá ou não, de reproduzir a trajetória de Eunice Baía (Tainá dos outros dois filmes), ela tinha a naturalidade, espontaneidade, olhar puro, sem ansiedade, sem querer ser nada. Então, no treinamento, ela era Wiranu, uma menina de uma aldeia que estava brincando, se divertindo. E ela tinha todas as características físicas e emocionais que a Tainá tem. Então, ela era a Tainá.
E a relação dela com as outras crianças, como foi essa adaptação?
- A gente teve a preocupação desse contato ser planejado. Primeiro ela ficou só com a família e a gente fez todo o treinamento solitário, durante um bom tempo. Depois veio o Igor (Ozzy, que faz o Gobi), e a gente fez a interação dela com o Gobi. E já mais próximo do filme chegou a Bia Noskoski porque a gente precisava que a Bia chegasse próximo, é uma menina urbana que estranha toda a cultura da floresta e a gente precisava que a atriz tivesse esse contato estranho com a floresta. É por isso que quando a gente olha o filme, a gente acredita. É tudo planejado nesse sentido.
E trabalhar com criança é mais difícil ou mais fácil?
- Eu não diria que é mais difícil, é mais delicado. Porque com um ator profissional, que passou por uma faculdade, estudou para ser ator, você vai utilizar métodos e caminhos que ele já conhece. Eles entram em um acordo e vai por aquele caminho existente. Com uma criança, você tem que utilizar o que a criança tem de mais verdadeiro que é o universo lúdico, universo da brincadeira. Então, não se fala em cena, não se fala em personagem. Utiliza-se esse universo da brincadeira, do jogo, para ir lentamente se construindo as cenas.
Esse é o seu primeiro filme, certo?
- Sim, meu primeiro filme, meu primeiro trabalho como atriz, minha primeira experiência.
Mas, como surgiu o convite? Você se candidatou a vaga?
- Não. Na verdade, eu estava em um barzinho, jogando sinuca e o Cláudio Barros se aproximou perguntando se eu tinha interesse em fazer um teste fotográfico que meu perfil físico se encaixava com o que ele estava procurando. No início, fiquei meio retraída, mas depois topei. Demorou um bom tempo, e ele me ligou falando que eu fui uma das cinco selecionadas para fazer parte de um treinamento em um Parque Ecológico em Belém, aí topei na hora.
E como foi essa experiência de ser a mãe de Tainá, a última das Amazonas? Fale um pouco sobre isso.
- Foi uma experiência maravilhosa, grandiosa para mim, foi ótimo, apesar de momentos difíceis devido a eu não ser atriz, não ter nenhum estudo, nenhuma teoria. Mas, eu adorei.
E experiência com a Amazônia? Você já conhecia bem a floresta?
- Eu moro em Belém do Pará, então, nos momentos de lazer eu sempre gosto de ficar com a natureza. Já é do meu cotidiano.
Você tem é descendente de indígenas?
- Sim, sou.
E como você definiria o filme?
- É um filme de mensagem ecológica, de proteção aos animais, às aldeias indígenas, ao desmatamento.
Você já tinha visto os outros filmes? Conhecia a personagem?
- Sim, já conhecia. A Tainá é super comentada por lá.
E como foi a relação com a Wiranu?
- Durante o treinamento nosso contato era bem próximo. Eu adoro criança, então, foi maravilhoso.
Vai querer continuar sendo atriz, a partir de agora?
- Olha, para ser atriz é preciso estudar muito. Então, eu gostei de ter feito esse trabalho e se aparecer alguma nova oportunidade, eu, com certeza, vou encarar. Pretendo investir na carreira, estudar. Mas, por agora não tem nada certo.
E você tem preferência por filme, teatro, televisão?
- Olha, o que aparecer, eu estou encarando. Porque tive uma preparação excelente. Tiveram momentos difíceis, porque eu nunca tinha lidado com tudo aquilo, mas eu passei, superei, fiz com segurança, acreditando em meu potencial e espero que todos sejam assim. Estou aqui para isso.
Para encerrar, o que você acredita ser o mais importante do filme? Como você recomendaria ele?
- O mais importante é o cuidado com a natureza, sua preservação. E é um filme que é uma aventura. Então, ele não é feito só para as crianças. Mas, também para os pais. É uma diversão do início ao fim.