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A Busca

A Busca - Wagner MouraPrimeiro longametragem de Luciano Moura, A Busca é um filme instável. Apesar de o diretor colaborar no roteiro escrito junto com Elena Soarez, parece que direção e roteiro brigam em suas escolhas, fazendo a trama começar muito bem e terminar meio perdida. Uma sensação de vazio fica no final.

A Busca fala do que o título já anuncia, um pai em busca de seu filho que sumiu. Ele não se perdeu, não foi sequestrado, nem sofreu um acidente, no entanto. Tudo indica que o garoto Pedro fugiu de casa mesmo, todos os indícios da abertura do filme demonstram isso, até mesmo um pequeno detalhe na camisa dele que traz a frase: "Na dúvida, desista". Pedro parece cansado com a situação familiar. Seu pai e sua mãe, recém-divorciados brigam por pequenos detalhes. E ele parece também não ter voz naquela casa, já que seu pai praticamente o está obrigando a embarcar em um intercâmbio. Isso sem falar em uma reação exagerada com a chegada de uma cadeira do avô paterno do menino.

A Busca - Wagner MouraA parte inicial do filme é construída para nos gerar desconforto. Há muito silêncio, gestos, sombras, um retrato de uma família sem rumo. Wagner Moura e Mariana Lima que interpretam o casal, conseguem construir uma química que nos faz crer em seus dramas. No amor que não encontra mais lugar, ao mesmo tempo em que ainda existe, pois há um sofrimento visível, principalmente da parte dele. A forma como o garoto Pedro se sente sufocado também é muito clara. A forma como se despede da mãe para um fim de semana na casa do amigo, os detalhes. Ou seja, uma ótima apresentação de personagens e do problema.

A Busca - Wagner MouraA partir da constatação do sumiço de Pedro, seu pai Theo parte em uma jornada de busca, enquanto que sua mãe fica em casa, chorando e rezando. Isso já é meio estranho. A única pista que têm é um possível acidente em uma estrada e a compra de um cavalo. Que o pai fosse desembestado seguindo as pistas insólitas, ok. Mas, a mãe, por que não procurou a polícia? Por que não acionaram outros meios de busca? Tudo o que Branca faz é esperar os telefonemas de Theo e dizer: traz meu filho de volta.

De qualquer maneira, o road movie tem suas qualidades, até pelo talento de Wagner Moura que nos envolve em suas reações. E pelos detalhes que vão sendo construídos, como o boné da Nova Zelândia que o garoto tenta comprar. Afinal, Nova Zelândia era o local para onde o pai queria enviá-lo em intercâmbio. Ou pela camisa no operário do caminho, pelo próprio cavalo, mulher grávida e desenho na borracharia onde temos a participação do ator Leandro Firmino, o eterno Dadin..., ops, Zé Pequeno.

Mesmo que as situações sejam inusitadas e soe meio falso ele consegue seguir tão bem os passos do filho, é interessante. Envolvente até. Compramos a ideia e seguimos com Theo. Nos irritamos com o velho que não quer emprestar o celular, achamos divertido os jovens na beira da estrada querendo carona para uma festa, ou mesmo as garotas que conheceram Pedro, incluindo a grávida. Isso sem falar no próprio borracheiro divertido, com todos os estereótipos de mulheres peladas. O problema se encontra no terceiro ato do filme.

A Busca - Wagner MouraSem entrar em detalhes dos acontecimentos, o grande problema de A Busca é uma aparente discordância entre roteiro e direção, como apontado no início do texto. Ouvi muita gente dizendo que faltou emoção no filme. Sim, falta, porque as escolha de direção não são pelo melodrama. O filme é construído em um viés realista, cru, pragmático, onde as sensações e o cognitivo são mais importantes que o viés emocional. O que é legítimo. Muitos excelentes filmes são feitos assim. E A Busca seguia esse caminho, principalmente pela ótimo primeiro ato.

Então, não importam muito as emoções, mas as sensações que a busca de Theo vão nos causando. O envolvimento que ele vai nos dando, como se estivéssemos ali, sem raciocinar direito em uma angústia pelo encontro com Pedro. O problema é que o clímax pensado pelo roteiro necessitava de um viés emotivo. Além de um absurdo que quebra um pouco o pacto ficcional até então, com um certo acidente, a curva final é construída para nos fazer chorar, ou no mínimo nos emocionar com determinadas situações. Mas, como não fomos preparados para isso durante o percurso, tudo cai em um imenso vazio, deixando uma sensação de frustração.

A Busca, então, se perde. O tema do filme se perde. As escolhas se perdem. Ainda que não se torne uma obra ruim. Tem suas qualidades, mas também suas falhas e a maior delas é o vazio que nos deixa. Não aquele vazio existencial que nos faz pensar, mas aquele nada que nos faz perguntar para que serviu tudo aquilo.



A Busca (A Busca, 2013 / Brasil)
Direção: Luciano Moura
Roteiro: Luciano Moura e Elena Soarez
Com: Wagner Moura, Lima Duarte, Mariana Lima
Duração: 90 min.

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