A Parte dos Anjos
Sendo considerado um filme "light" do diretor Ken Loach, A Parte dos Anjos tem muito mais drama do que a maioria das "dramédias" por aí. E nos conquista exatamente por sua simplicidade e quase ingenuidade em lidar com temas como marginalização e nova chance.
Na trama, o garoto Robbie está em busca de uma nova chance de vida. Seu filho acaba de nascer e sua namorada Leonie exige que ele mude. Ela briga com a própria família para manter o amor com um rapaz assim e precisa que ele corresponda. Robbie está cumprindo pena com serviços comunitários e é nessa jornada que ele conhece um grupo de amigos nada comuns. E também onde é apresentado ao uísque, a arte da destilação e degustação da bebida.
A trama se passa na Escócia, terra do uísque, é natural que este seja um personagem importante. Aliás, é graças ao uísque que os personagens se unem e a narrativa anda. E é graças a ele também o título do filme, "a parte dos anjos" que é o percentual de evaporação da bebida enquanto decanta nos barris. É impressionante a rapidez com a qual Robbie se torna um especialista da bebida, principalmente levando em conta que, no primeiro gole quis acrescentar Coca-Cola para tornar "bebível". Mas, não deixa de ser divertido.
O humor do filme é bastante sutil, inteligente, sempre brincando com as situações locais, as tradições, os clichês. Tanto que, em determinado momento, os jovens se "fantasiam" com kilts para dar vazão a um plano. O próprio leilão de um malte raro é quase uma piada. Isso sem falar no ritmo das situações, que sempre tem algo de cômico, irônico ou mesmo ridículo.
Mas, A Parte dos Anjos não é apenas comédia, tem também o drama que envolve os personagens e sua falta de "lugar ao sol". Robbie é um rapaz marcado, que tem um arqui-inimigo em sua cola. Uma trama pouco desenvolvida que serve como mais um obstáculo em sua tentativa de vida honesta do que outra coisa. Mas, temos momentos de grandes catarse para ele como quando é demonstrada uma acareação com um rapaz que ele bateu no passado.
O ator Paul Brannigan consegue nos apresentar bem as nuanças desse personagem complexo. Explosivo, agressivo até, mas que é capaz de um amor enorme, por seu filho, pela namorada, pelos amigos, pelo conselheiro Harry. Aliás, o ator John Henshaw faz uma ótima dobradinha com o protagonista, nos dando nuanças dessa relação que vai surgindo, e justifica o tom de melodrama na parte final.
Robbie é também um rapaz muito inteligente e sua inteligência é passada para o plano e consequentemente para roteiro, ou o contrário, claro. O fato é que A Parte dos Anjos não tem uma estrutura clichê de histórias de reabilitação. Há o drama, há o sofrimento, há a busca pela nova chance, mas tudo isso é construído com escolhas bastantes inusitadas e que nos trazem personagens também complexos.
A Parte dos Anjos é daqueles filmes gostosos de acompanhar. Não pretende mudar o mundo, nem apresentar fórmulas. Faz críticas e brincadeiras com a mesma intensidade. Assim como a vida. Em que não há super bandidos nem heróis definitivos.
A Parte dos Anjos (The Angels' Share, 2012 / Inglaterra)
Direção: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty
Com: Paul Brannigan, John Henshaw, Gary Maitland
Duração: 101 min.
Na trama, o garoto Robbie está em busca de uma nova chance de vida. Seu filho acaba de nascer e sua namorada Leonie exige que ele mude. Ela briga com a própria família para manter o amor com um rapaz assim e precisa que ele corresponda. Robbie está cumprindo pena com serviços comunitários e é nessa jornada que ele conhece um grupo de amigos nada comuns. E também onde é apresentado ao uísque, a arte da destilação e degustação da bebida.
A trama se passa na Escócia, terra do uísque, é natural que este seja um personagem importante. Aliás, é graças ao uísque que os personagens se unem e a narrativa anda. E é graças a ele também o título do filme, "a parte dos anjos" que é o percentual de evaporação da bebida enquanto decanta nos barris. É impressionante a rapidez com a qual Robbie se torna um especialista da bebida, principalmente levando em conta que, no primeiro gole quis acrescentar Coca-Cola para tornar "bebível". Mas, não deixa de ser divertido.
O humor do filme é bastante sutil, inteligente, sempre brincando com as situações locais, as tradições, os clichês. Tanto que, em determinado momento, os jovens se "fantasiam" com kilts para dar vazão a um plano. O próprio leilão de um malte raro é quase uma piada. Isso sem falar no ritmo das situações, que sempre tem algo de cômico, irônico ou mesmo ridículo.
Mas, A Parte dos Anjos não é apenas comédia, tem também o drama que envolve os personagens e sua falta de "lugar ao sol". Robbie é um rapaz marcado, que tem um arqui-inimigo em sua cola. Uma trama pouco desenvolvida que serve como mais um obstáculo em sua tentativa de vida honesta do que outra coisa. Mas, temos momentos de grandes catarse para ele como quando é demonstrada uma acareação com um rapaz que ele bateu no passado.
O ator Paul Brannigan consegue nos apresentar bem as nuanças desse personagem complexo. Explosivo, agressivo até, mas que é capaz de um amor enorme, por seu filho, pela namorada, pelos amigos, pelo conselheiro Harry. Aliás, o ator John Henshaw faz uma ótima dobradinha com o protagonista, nos dando nuanças dessa relação que vai surgindo, e justifica o tom de melodrama na parte final.
Robbie é também um rapaz muito inteligente e sua inteligência é passada para o plano e consequentemente para roteiro, ou o contrário, claro. O fato é que A Parte dos Anjos não tem uma estrutura clichê de histórias de reabilitação. Há o drama, há o sofrimento, há a busca pela nova chance, mas tudo isso é construído com escolhas bastantes inusitadas e que nos trazem personagens também complexos.
A Parte dos Anjos é daqueles filmes gostosos de acompanhar. Não pretende mudar o mundo, nem apresentar fórmulas. Faz críticas e brincadeiras com a mesma intensidade. Assim como a vida. Em que não há super bandidos nem heróis definitivos.
A Parte dos Anjos (The Angels' Share, 2012 / Inglaterra)
Direção: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty
Com: Paul Brannigan, John Henshaw, Gary Maitland
Duração: 101 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Parte dos Anjos
2013-03-17T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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