A história acontece no início dos anos de 1900. Temos a mesma estrutura dramática de uma parte inicial no Kansas. Sam Raimi quer tanto seguir o que foi feito por Victor Fleming em 1939 que constrói essa primeira parte em preto e branco, além da razão de tela ser 4x3. Apenas quando chega em Oz, o filme ganha colorido e abre a janela para o 16x9. Mas, é interessante que o 3D já é muito bem explorado ainda no Kansas. Inclusive, usando a área de escape para fazer a animação extrapolar a tela como o jogo do cuspidor de fogo do circo. A exibição em 3D de Oz agrada a todos os públicos. Tem um bocado de objetos saindo da tela, para quem quer espetáculo. E tem um bom uso da profundidade de campo, nos dando uma dimensão a mais que faz sentido em tela.
Mas, não é apenas na escolha de preto e branco/ colorido que Sam Raimi procura aproximar sua obra da anterior. Há todo um paralelo que pode ser feito entre a trajetória de Oscar e Dorothy a começar pelo tornado que os leva para Oz. A diferença é que Oscar está querendo fugir do Kansas, enquanto Dorothy já tinha passado a fase de chateação e está apenas voltando para casa. Isso fará toda a diferença no caminho dos dois no outro mundo. Eles também encontram situações e pessoas no Kansas que terão espelhos em Oz. A menininha do circo, com a garotinha de porcelana, o ajudante com o simpático macaquinho Finley, e claro, a garota Annie e a bruxa Glinda.
Oscar Diggs é um mágico ilusionista que sofre com a falta de dinheiro e reconhecimento. Ele tem sonhos altos, quer ser grande. Quer ir além do comum. É também um conquistador barato, que sempre repete a mesma história para conquistar mocinhas indefesas e depois as larga. É nessa, que ele tem que fugir do Kansas, quando um homem vai tirar satisfações sobre o que ele fez. Em seu balão, entra no tornado e vai parar em Oz. Oz era também o nome pelo qual ele era conhecido e isso faz com que ele seja reconhecido como um grande mágico que a lenda daquela cidade espera para livrá-lo do mal. Nessa jornada, ele vai se envolver com as três bruxas locais, e escolher qual é mesmo o caminho que pretende seguir.
Em Oz, temos mais uma semelhança deste filme com a história anterior. Ele também cai do céu e é recepcionado por uma bruxa que lhe diz sua missão. E enquanto anda pelo caminho de tijolos amarelos, encontra pessoas que precisa salvar e que acabam se unindo à sua aventura. Se Dorothy tinha um leão, um homem de lata e um espantalho. Oz tem um macaco alado, uma boneca de porcelana e uma bruxa. E nesse trio, destaque para o macaco que é interpretado por Zach Braff em técnica de captura de movimentos. Engraçado e fofo, ele é o ponto alto em muitos momentos da trama. Ao contrário de Theodora que é exageradamente tola, acabando por prejudicar a sua virada na trama.
Mas, nessa necessidade de homenagear e seguir o original, Oz, Mágico e Poderoso tem alguns problemas relacionados ao tom over de cenários e interpretações. Apesar do avanço tecnológico e de muitas melhorias no cenário em computação gráfica, ainda há muita coisa que soa falso, como flores e espaços recriados ao modelo de 1939. Tem até como reconhecer o cruzamento em que Dorothy conhece o espantalho, por exemplo. Pode causar certo estranhamento a olhos de hoje. Da mesma forma que a interpretação dos atores, em muitos momentos puxa para o estereótipo. Isso sem falar na própria Bruxa Má do Oeste que é a caricatura da bruxa de Halloween com sua cor verde, seu chapéu, sua vassoura e sua risada estridente.
De qualquer maneira, ainda que siga o padrão, Sam Raimi brinca muito com isso. Principalmente com o fato do primeiro filme ser um musical. Em dois momentos onde a música é inserida, há uma piada. Seja quando Oz é atacado por fadas do rio, ou quando os munchkins se apresentam. Além, claro, da própria cacterização do mágico Oz, um canastrão, que finge ser o que não é e está sempre um tom acima. É uma máscara, uma forma de iludir as pessoas. Assim como o cinema. Não por acaso, o ídolo de Oz é Thomas Edison, considerado pelos americanos como o verdadeiro criador da sétima arte. É na ilusão, na arte do ilusionismo, que está o poder de Oz.
Ainda que o roteiro caia em alguns momentos, Oz, Mágico e Poderoso consegue manter um bom ritmo e nos faz embarcar naquela história de uma maneira especial. Nos faz querer acreditar naquele mundo dos sonhos e suas possibilidades. É nos deixar levar pela emoção e seguir o curso encontrando dentro de nós o nosso verdadeiro ser e nossa verdadeira história. Não chega a ter a força do clássico de 39, mas é digno dele.
Oz, Mágico e Poderoso (Oz the Great and Powerful, 2013 / EUA)
Direção: Sam Raimi
Roteiro: Mitchell Kapner, David Lindsay-Abaire
Com: James Franco, Michelle Williams, Rachel Weisz, Zach Braff e Mila Kunis
Duração: 130 min.