
Antes de mais nada, é preciso deixar uma coisa clara,
A Morte do Demônio é um
filme de
horror, não de
terror. Poucos são os sustos e as cenas que nos dão medo, ao contrário da profusão de
sangue,
vômitos, cicatrizes e outros detalhes que nos deixam inquietos na cadeira. Ao contrário do que promete o trailer, essa nova versão também tem um tom
trash, ainda que em doses menores que o clássico de
Sam Raimi da década de 80. Ainda assim, o
filme tem seus encantos para os fãs da série, principalmente os créditos finais. E isso não é desmerecendo o resto, mas fique até o final e verá.
Esquecendo o antigo protagonista
Ash, o
filme se concentra em cinco amigos, Eric, Olivia, David, Natalie e Mia que estão em uma cabana para ajudar esta última a se livrar do vício em
drogas. Olivia é enfermeira e acredita que pode dar conta das crises de
abstinência da garota, enquanto eles tiram essa espécie de férias forçadas no meio do mato. O problema é que durante a crise de Mia, eles acabam descobrindo um porão na casa onde coisas estranhas são encontradas, inclusive um
livro que não deveria ser lido.

Portas abertas para o
demônio, o
filme se joga em uma sequência de cenas de
horror explícito, muita agonia e pouco embasamento. É interessante como o que vai acontecendo com os garotos oscila entre o
trash e o horror mais genuíno. A cena em que Mia é possuída na beira do lago é impressionante. A metáfora da própria situação de dependente química, as alucinações possíveis pela
abstinência e todas as questões que envolvem a
possessão também são bem realizadas. Mas, a personagem Olivia, por exemplo, é um ponto que falta embasamento. A cena dela no banheiro é das mais
bizarras na trama.

E nem vou me aprofundar muito na questão do Eric. Por mais curioso que seja o cara, a forma como ele insiste em burlar os avisos do
livro e vai decifrando as questões é irritante. E fica ilógico que tão rapidamente ele relacione os acontecimentos a isso. Afinal, uma pessoa em sã consciência ler avisos de que não deve ler um
livro, livro esse que já encontrou da forma como encontrou, ter que usar de técnicas investigativas para descobrir as palavras-chaves e ainda pronunciá-las tão displicentemente em voz alta, essa pessoa não pode acreditar em
sobrenatural. Se ela é cética e tem uma mente científica, não é no primeiro indício que se torna um crente. Eric, então, procuraria alguma outra explicação lógica antes de afirmar que "a culpa é do livro".

Mas, tudo bem. Alguns podem alegar que isso também faz parte dos
filmes de
terror e que sem isso não teria história. Aliás, o prólogo do
filme já nos dá uma sensação de que não precisa mesmo de história já que vemos o ritual da "morte" do
demônio. Esse prólogo serve também para um momento de
flashback completamente desnecessário na trama, quando David diz: "alguma coisa queimou aqui". Aquilo só faria sentido se fosse para os personagens verem o que aconteceu, já que a gente tinha acabado de testemunhar aquilo. Fica didático e tolo, até.
Mas, apesar de todos os clichês e coisas mal explicadas, a trama arrasta em boa parte da projeção. Mas
A Morte do Demônio tem uma qualidade louvável: a reviravolta. A forma como ato final da trama se desenvolve é um bálsamo para uma história que parecia fadada ao fracasso. Talvez por isso, tanta gente saia satisfeita do
cinema. A sensação final acaba valendo. Era o que os espectadores estavam buscando. Aí você consegue se assustar, ficar tenso, com medo e ainda se divertir com referências. É surpreendente e inteligente. Isso sem falar em alguns presentes para os fãs da série original.
A Morte do Demônio é um
filme para quem tem paciência. É difícil embarcar no início, é irritante algumas coisas que acontecem. Não tem explicação algumas escolhas. Mas, no final, há uma recompensa. Não torna o
filme a melhor estreia do ano, nem mesmo o melhor
terror do ano, mas brinca com expectativas e nostalgias. E se você é fã da série original, uma dica, fique até o final dos créditos. Além dos próprios créditos serem muito bons, com imagens de
sangue e outros efeitos gráficos, tem algumas surpresas esperando por vocês. Divirtam-se.
A Morte do Demônio (Evil Dead, 2013 / EUA)
Direção: Fede Alvarez
Roteiro: Fede Alvarez e Rodo Sayagues
Com: Jane Levy, Shiloh Fernandez, Lou Taylor Pucci, Jessica Lucas e Elizabeth Blackmore
Duração: 91 min.