Home
Andy Garcia
Camilla Belle
Carol Castro
Christiane Torloni
Colin Egglesfield
critica
drama
Juliette Lewis
Marcio Garcia
Angie
Angie
É ótimo quando podemos acompanhar a evolução do trabalho de um diretor que começou como ator. Ver que a cada filme, ele aprende mais um pouco e se firma na função, como foi o caso de Ben Affleck. Ou mesmo, o caso do brasileiro Selton Mello que em O Palhaço demonstrou muito mais maturidade que em Feliz Natal. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito de Márcio Garcia. Ao ver Angie, a impressão que fica é que o interessante Amor por Acaso foi sorte de principiante.
Angie é um filme que gira em torno de Angie, uma garota brasileira que mora nos Estados Unidos de uma maneira meio anárquica. Vive em uma barraca no meio do mato, não tem muitos compromissos nem deixa muita gente se aproximar dela. Seu único amigo é o morador de rua Chuck, vivido por Andy Garcia. Angie guarda consigo um segredo, está ali, vivendo daquele jeito porque está procurando o seu pai, que abandonou a família quando ela tinha cinco anos. Mas, enquanto não encontra o pai, ela vai simplesmente vivendo cada dia de um jeito.
A premissa até tem seus atrativos, poderia ser uma obra de contemplação, de redescobertas, de aprofundamentos psicológicos. Mas, o roteiro de Julia Camara é um emaranhado de nadas que se juntam em uma falta de lógica e atrativos. A começar pelos péssimos diálogos expositivos. As cenas não parecem fazer muito sentido também. São soltas em uma montagem também anárquica de flashes da vida da menina. É um cara que tenta invadir a barraca e é parado por Chuck, Angie, então, pergunta, "quer comer algo, Chuck?", ele aceita e corta para o dia seguinte. Ou então, "vamos dançar, Chuck" e corta.
E depois de um primeiro ato assim, sem muita conexão com a personagem, sem compreender sua jornada, simplesmente ouvimos Chuck dizer que ela é mais do que aquilo, que precisa sair dali e ela sai. Mas, Marcio Garcia, ignorando essa falta de ligação com o público, quer nos fazer crer que esse é um momento decisivo da trama. A música pomposa sobe tomando conta da sala em um clipe relativamente longo de Angie arrumando suas coisas, deixando cartas no trabalho e para Chuck e pegando a estrada. Aliás, clipes de passagem é o que mais tem no filme.
Angie vai parar em outra cidade, onde conhece o policial David, vivido por Colin Egglesfield e sua prima vivida por Juliette Lewis, dona de uma lanchonete local. A atriz, aliás, está deslocada em cena, com direito até a piadinhas tolas sobre o Brasil em uma cena de Product Placement (o popular "merchandising") absurdo da Leader. Absurdo não apenas por surgir uma caixa da loja do nada ali, porque é a "loja preferida" de Angie. Mas, principalmente de como sua irmã enviou o pacote, já que não tinha o seu endereço. Tudo o que ela diz nos telefonemas escassos é: "estou por aí, não se preocupe, ainda não encontrei ele". Mas, Márcio Garcia ainda nos reservaria um "genial" Product Integration (o velho "merchan", só que com o produto fazendo parte da narrativa) da Gillette, que nos faz não levar mesmo a sério essas inserções de marca.
Interessante é que Angie está teoricamente procurando o pai, mas nunca a vemos de fato fazendo isso. Só uma cena rápida quando pergunta quem morava em determinada casa. Sua busca se resume a riscar cidades no mapa e olhar uma foto enigmática de um homem com cabelo cobrindo o rosto, abraçando uma menininha. Diante de motivações tão confusas, é até de se admirar a interpretação de Camilla Belle como protagonista dessa trama. Ela consegue levar sua jornada de maneira digna.
O mesmo não podemos dizer das atrizes brasileiras Carol Castro e Christiane Torloni. Mas, é de se compreender que atuando apenas com um telefone e com diálogos expositivos, é mesmo difícil dosar a interpretação. Há momentos tão absurdos que, na primeira ligação de Angie para a irmã, por exemplo, Carol Castro já atende em prantos, querendo saber o paradeiro dela. Angie durante a conversa começa a chorar também. Aí, a irmã pergunta: "Angie, você está chorando? Por quê? O que houve?" Mas, não era ela que estava em prantos? Como não entende que a irmã também se emocionou e começou a chorar?
E como se não bastasse tudo, a revelação do pai de Angie é completamente sem sentido. Sem sentido no sumiço, na fala da mãe explicando que "mentiu", e em outros detalhes que não dá para revelar sem spoilers. E ainda surge uma personagem interpretada pela atriz Ingrid Rogers, que até então não tinha aparecido na trama e que de repente é apresentada como alguma amiga de Angie do passado. Talvez a sequência dela tenha saído do corte final, quem vai entender?
Depois de um começo promissor com uma comédia romântica despretensiosa, Márcio Garcia encara o seu segundo filme de uma forma irreconhecível. São tantas escolhas ruins que fica a pergunta de como ele conseguiu um resultado desses. Ainda mais com uma reunião de elenco tão atrativa. Uma pena.
Angie (Open Road, 2013 / Brasil / EUA)
Direção: Marcio Garcia
Roteiro: Julia Camara
Com: Colin Egglesfield, Juliette Lewis, Camilla Belle, Juliette Lewis, Andy Garcia, Carol Castro e Christiane Torloni
Duração: 83 min.
Angie é um filme que gira em torno de Angie, uma garota brasileira que mora nos Estados Unidos de uma maneira meio anárquica. Vive em uma barraca no meio do mato, não tem muitos compromissos nem deixa muita gente se aproximar dela. Seu único amigo é o morador de rua Chuck, vivido por Andy Garcia. Angie guarda consigo um segredo, está ali, vivendo daquele jeito porque está procurando o seu pai, que abandonou a família quando ela tinha cinco anos. Mas, enquanto não encontra o pai, ela vai simplesmente vivendo cada dia de um jeito.
A premissa até tem seus atrativos, poderia ser uma obra de contemplação, de redescobertas, de aprofundamentos psicológicos. Mas, o roteiro de Julia Camara é um emaranhado de nadas que se juntam em uma falta de lógica e atrativos. A começar pelos péssimos diálogos expositivos. As cenas não parecem fazer muito sentido também. São soltas em uma montagem também anárquica de flashes da vida da menina. É um cara que tenta invadir a barraca e é parado por Chuck, Angie, então, pergunta, "quer comer algo, Chuck?", ele aceita e corta para o dia seguinte. Ou então, "vamos dançar, Chuck" e corta.
E depois de um primeiro ato assim, sem muita conexão com a personagem, sem compreender sua jornada, simplesmente ouvimos Chuck dizer que ela é mais do que aquilo, que precisa sair dali e ela sai. Mas, Marcio Garcia, ignorando essa falta de ligação com o público, quer nos fazer crer que esse é um momento decisivo da trama. A música pomposa sobe tomando conta da sala em um clipe relativamente longo de Angie arrumando suas coisas, deixando cartas no trabalho e para Chuck e pegando a estrada. Aliás, clipes de passagem é o que mais tem no filme.
Angie vai parar em outra cidade, onde conhece o policial David, vivido por Colin Egglesfield e sua prima vivida por Juliette Lewis, dona de uma lanchonete local. A atriz, aliás, está deslocada em cena, com direito até a piadinhas tolas sobre o Brasil em uma cena de Product Placement (o popular "merchandising") absurdo da Leader. Absurdo não apenas por surgir uma caixa da loja do nada ali, porque é a "loja preferida" de Angie. Mas, principalmente de como sua irmã enviou o pacote, já que não tinha o seu endereço. Tudo o que ela diz nos telefonemas escassos é: "estou por aí, não se preocupe, ainda não encontrei ele". Mas, Márcio Garcia ainda nos reservaria um "genial" Product Integration (o velho "merchan", só que com o produto fazendo parte da narrativa) da Gillette, que nos faz não levar mesmo a sério essas inserções de marca.
Interessante é que Angie está teoricamente procurando o pai, mas nunca a vemos de fato fazendo isso. Só uma cena rápida quando pergunta quem morava em determinada casa. Sua busca se resume a riscar cidades no mapa e olhar uma foto enigmática de um homem com cabelo cobrindo o rosto, abraçando uma menininha. Diante de motivações tão confusas, é até de se admirar a interpretação de Camilla Belle como protagonista dessa trama. Ela consegue levar sua jornada de maneira digna.
O mesmo não podemos dizer das atrizes brasileiras Carol Castro e Christiane Torloni. Mas, é de se compreender que atuando apenas com um telefone e com diálogos expositivos, é mesmo difícil dosar a interpretação. Há momentos tão absurdos que, na primeira ligação de Angie para a irmã, por exemplo, Carol Castro já atende em prantos, querendo saber o paradeiro dela. Angie durante a conversa começa a chorar também. Aí, a irmã pergunta: "Angie, você está chorando? Por quê? O que houve?" Mas, não era ela que estava em prantos? Como não entende que a irmã também se emocionou e começou a chorar?
E como se não bastasse tudo, a revelação do pai de Angie é completamente sem sentido. Sem sentido no sumiço, na fala da mãe explicando que "mentiu", e em outros detalhes que não dá para revelar sem spoilers. E ainda surge uma personagem interpretada pela atriz Ingrid Rogers, que até então não tinha aparecido na trama e que de repente é apresentada como alguma amiga de Angie do passado. Talvez a sequência dela tenha saído do corte final, quem vai entender?
Depois de um começo promissor com uma comédia romântica despretensiosa, Márcio Garcia encara o seu segundo filme de uma forma irreconhecível. São tantas escolhas ruins que fica a pergunta de como ele conseguiu um resultado desses. Ainda mais com uma reunião de elenco tão atrativa. Uma pena.
Angie (Open Road, 2013 / Brasil / EUA)
Direção: Marcio Garcia
Roteiro: Julia Camara
Com: Colin Egglesfield, Juliette Lewis, Camilla Belle, Juliette Lewis, Andy Garcia, Carol Castro e Christiane Torloni
Duração: 83 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Angie
2013-04-16T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Andy Garcia|Camilla Belle|Carol Castro|Christiane Torloni|Colin Egglesfield|critica|drama|Juliette Lewis|Marcio Garcia|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Com previsão de lançamento para maio desse ano, Estranhos , primeiro longa do diretor Paulo Alcântara terá pré-estreia (apenas convidados) ...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...