O Acordo
Até onde um pai pode ir para proteger o seu filho? O uso de substâncias ilícitas é crime, mas até onde vai o limite entre usuário e o traficante? E um atravessador réu primário deve ser tratado com que rigor? Baseado em uma história real, O Acordo traz questionamentos diversos sobre drogas, narcotráfico e leis norte-americanas.
Dwayne Johnson, o eterno "The Rock", é John Matthews. Um bem sucedido empresário do ramo de construções que vê sua vida virada ao avesso quando seu filho adolescente é preso como traficante de drogas. Na verdade, o garoto apenas recebeu de um "amigo" uma grande dose de ecstasy que poderia ser revendida entre amigos. Por ser enquadrado como traficante, o garoto pegará, no mínimo, a pena de 10 anos, a não ser que colabore em outras prisões. Réu primário, sem nenhum outro antecedente e sem conhecer o mundo do crime, ele não tem o que fazer. É quando seu pai decide que ele mesmo fará alguma coisa.
A construção da trama é envolvente, muito pela informação de ser baseado em uma história real, é verdade, informação essa que já surge na tela no início dos créditos. É claro, também, que muito floreio deve ter acontecido. Mas, não deixa de ser curioso entender um pouco mais da forma como os Estados Unidos lidam com o narcotráfico e suas leis rígidas em casos tão díspares. Afinal, o garoto Jason Collins não parece mesmo um criminoso perigoso que mereça ficar dez anos na cadeia. Mas, ao mesmo tempo, leis são para serem cumpridas e ficar cedendo ali ou aqui deseduca a nação, como vemos por aqui.
A impressão que fica do roteiro de O Acordo, no entanto, é que a lei só existe para coagir os pequenos a entregarem os grandes, colaborando com a polícia na investigação e prisão das quadrilhas. E nisso, há um certo perigo do filme, que parece ser tendencioso até pelos dizeres finais comparação as penas para réus primários no caso de drogas com outros crimes como estupro e assassinato. Ao mesmo tempo, a personagem de Susan Sarandon, a promotora Joanne Keeghan, deixa bem claro como é o jogo político desse caso. Tanto que acaba permitindo o acordo com o pai desesperado.
A direção de Ric Roman Waugh tem várias nuanças interessantes na construção dos personagens e das situações. Uma cena muito boa é quando John vai visitar o filho na cadeia. Toda a cena é repleta de signos. A forma como cada um segura o telefone, os outros detentos olhando de canto de olho para o garoto. A boca do garoto ferida e sua reação quando o pai lhe pergunta o que houve. O choro dele e a forma como o pai olha para os lados e pede que ele não chore. A forma como a câmera pega o pai de costas, em uma angulação que possa ver pelo menos outros dois detentos para que possamos observar tudo isso.
Em compensação, temos outras cenas bobas e inverossímeis como John gritando para o empregado que quer que o ajude "20 mil" no meio da rua. O rapaz ficou todo desconfiado e não queria fazer o acordo estando dentro de uma lanchonete e cochichando, ia aceitar depois dessa exposição pública? A forma como a mãe de Jason, interpretada por Melina Kanakaredes, lida com a situação também incomoda. A mulher fica histérica exigindo uma atitude do ex-marido, como se ele fosse responsável ou pudesse interferir na lei. Lembrou muito a personagem de Mariana Lima em A Busca. E claro, apesar de toda a construção de tensão, investigação e acordo, um filme que tem Dwayne Johnson acaba terminando em correria, perseguição e muitas outras cenas de ação mentirosas.
Mas, no final, O Acordo acaba sendo uma boa surpresa. Diante de tantos filmes com roteiros descartáveis e tramas vazias, acaba trazendo à tona uma questão instigante e importante de ser discutida, ainda que apresentada de forma tendenciosa. E falar dos perigos das drogas e do caminho do dinheiro fácil também é sempre importante. Um filme que tem mais qualidades que defeitos.
O Acordo (Snitch, 2013 / EUA)
Direção: Ric Roman Waugh
Roteiro: Justin Haythe, Ric Roman Waugh
Com: Dwayne Johnson, Jon Bernthal, Susan Sarandon
Duração: 112 min.
Dwayne Johnson, o eterno "The Rock", é John Matthews. Um bem sucedido empresário do ramo de construções que vê sua vida virada ao avesso quando seu filho adolescente é preso como traficante de drogas. Na verdade, o garoto apenas recebeu de um "amigo" uma grande dose de ecstasy que poderia ser revendida entre amigos. Por ser enquadrado como traficante, o garoto pegará, no mínimo, a pena de 10 anos, a não ser que colabore em outras prisões. Réu primário, sem nenhum outro antecedente e sem conhecer o mundo do crime, ele não tem o que fazer. É quando seu pai decide que ele mesmo fará alguma coisa.
A construção da trama é envolvente, muito pela informação de ser baseado em uma história real, é verdade, informação essa que já surge na tela no início dos créditos. É claro, também, que muito floreio deve ter acontecido. Mas, não deixa de ser curioso entender um pouco mais da forma como os Estados Unidos lidam com o narcotráfico e suas leis rígidas em casos tão díspares. Afinal, o garoto Jason Collins não parece mesmo um criminoso perigoso que mereça ficar dez anos na cadeia. Mas, ao mesmo tempo, leis são para serem cumpridas e ficar cedendo ali ou aqui deseduca a nação, como vemos por aqui.
A impressão que fica do roteiro de O Acordo, no entanto, é que a lei só existe para coagir os pequenos a entregarem os grandes, colaborando com a polícia na investigação e prisão das quadrilhas. E nisso, há um certo perigo do filme, que parece ser tendencioso até pelos dizeres finais comparação as penas para réus primários no caso de drogas com outros crimes como estupro e assassinato. Ao mesmo tempo, a personagem de Susan Sarandon, a promotora Joanne Keeghan, deixa bem claro como é o jogo político desse caso. Tanto que acaba permitindo o acordo com o pai desesperado.
A direção de Ric Roman Waugh tem várias nuanças interessantes na construção dos personagens e das situações. Uma cena muito boa é quando John vai visitar o filho na cadeia. Toda a cena é repleta de signos. A forma como cada um segura o telefone, os outros detentos olhando de canto de olho para o garoto. A boca do garoto ferida e sua reação quando o pai lhe pergunta o que houve. O choro dele e a forma como o pai olha para os lados e pede que ele não chore. A forma como a câmera pega o pai de costas, em uma angulação que possa ver pelo menos outros dois detentos para que possamos observar tudo isso.
Em compensação, temos outras cenas bobas e inverossímeis como John gritando para o empregado que quer que o ajude "20 mil" no meio da rua. O rapaz ficou todo desconfiado e não queria fazer o acordo estando dentro de uma lanchonete e cochichando, ia aceitar depois dessa exposição pública? A forma como a mãe de Jason, interpretada por Melina Kanakaredes, lida com a situação também incomoda. A mulher fica histérica exigindo uma atitude do ex-marido, como se ele fosse responsável ou pudesse interferir na lei. Lembrou muito a personagem de Mariana Lima em A Busca. E claro, apesar de toda a construção de tensão, investigação e acordo, um filme que tem Dwayne Johnson acaba terminando em correria, perseguição e muitas outras cenas de ação mentirosas.
Mas, no final, O Acordo acaba sendo uma boa surpresa. Diante de tantos filmes com roteiros descartáveis e tramas vazias, acaba trazendo à tona uma questão instigante e importante de ser discutida, ainda que apresentada de forma tendenciosa. E falar dos perigos das drogas e do caminho do dinheiro fácil também é sempre importante. Um filme que tem mais qualidades que defeitos.
O Acordo (Snitch, 2013 / EUA)
Direção: Ric Roman Waugh
Roteiro: Justin Haythe, Ric Roman Waugh
Com: Dwayne Johnson, Jon Bernthal, Susan Sarandon
Duração: 112 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Acordo
2013-04-21T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|Dwayne Johnson|Jon Bernthal|Ric Roman Waugh|Susan Sarandon|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
Com previsão de lançamento para maio desse ano, Estranhos , primeiro longa do diretor Paulo Alcântara terá pré-estreia (apenas convidados) ...