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O Descobrimento do Brasil
O Descobrimento do Brasil
Hoje é celebrado o descobrimento do Brasil. Descobrimento esse que alguns alegam ter sido, na realidade, uma invasão. Afinal, as terras não eram inabitadas. De qualquer maneira, os portugueses com seu jeitinho, acabaram dizimando menos índios que em todo o restante da América. Em 1937, o filme O Descobrimento do Brasil, tentou mostrar isso de uma maneira bastante romântica. Mas, não é exatamente sobre ele que eu quero falar hoje, e sim, sobre o seu diretor, Humberto Mauro. Um dos cineastas mais importantes da nossa história cinematográfica, mas que hoje só é lembrado por seu divertido clipe A Velha a Fiar.
Humberto Mauro era mineiro e um cineasta artesão. Em sua primeira fase, o cinema brasileiro era feito de ciclos regionais, e o ciclo de Minas Gerais fora encabeçado por ele. O cineasta era roteirista, diretor, montador e ator de suas obras que eram feitas, na maioria em sua fazenda com seus amigos e vizinhos. Os integrantes do Cinema Novo o consideravam o Pai do Cinema Brasileiro, e ele vai, inclusive atuar em algumas obras do movimento. Entre seus filmes mais conhecidos estão Na Primavera da Vida, Brasa Dormida, Sangue Mineiro, Ganga Bruta, Favela dos meus amores, e O Canto da Saudade, último longa-metragem que fez na vida.
O Descobrimento do Brasil foi uma obra sua atípica. Primeiro que ele foi contratado pelo Governo de Getúlio Vargas para fazer o filme. O roteiro original não era seu. Na verdade, tinha um tom documental baseado na carta de Pero Vaz de Caminha e já tinha tido outros dois diretores antes que não deram certo. Humberto Mauro recomeçou do zero. A encenação do que seria a época acaba sendo artificial demais, não cria empatia. Tem uma cena onde os índios dormem no navio português que é caricata ao extremo. Já a primeira missa, o diretor tentou reproduzir fielmente o quadro de Victor Meirelles e acabou ficando interessante. De qualquer maneira é um filme com pouca vida, ao contrário dos seus demais trabalhos.
Até porque uma das características do cinema de Humberto Mauro era a crítica. Extremamente inteligente, o cineasta criava de maneira quase instintiva. Tanto que era considerado um gênio incompreendido. Falava Tupi, sabia código morse e se encantou com o cinema pela possibilidade de manusear uma máquina. Segundo o cineasta: "Cinema é cachoeira. Deve ter dinamismo, beleza, continuidade eterna". Aliás, Humberto Mauro era conhecido também por suas frases como "Curso de brasileiro é olhar. Olhou, viu, fez". ou "Natureza a gente não deve filmar quando a gente quer, mas quando a natureza escolhe".
Humberto Mauro foi pioneiro em diversos aspectos. Ele foi o primeiro cineasta a mostra a favela no cinema, no filme Na Primavera da Vida de 1926. Como curiosidade, a trilha sonora desse filme traz a música "Lata d´água na Cabeça". Foi também o primeiro a gerar polêmicas com a censura em Ganga Bruta por ter mostrado os joelhos das atrizes, coisa inadmissível na época. É dele também aquele que é considerado o filme mais importante da época, Favela dos Meus Amores de 1937. Filme que hoje encontra-se desaparecido. As latas dos negativos não foram encontradas e tudo que se tem são memórias e algumas fotos.
O Canto da Saudade é um dos seus últimos filmes e dos que mais admiro, pelo menos dos que pude ver. Mostra a essência do homem brasileiro, a questão do campo, as politicagens e o sonho de um camponês simples. O canto do título é do acordeon de Galdino, que toca pelos campos sua paixão por Maria Fausta, afilhada do coronel Januário que é interpretado pelo próprio Humberto Mauro. Aliás, a cena do comício do coronel, que é candidato a prefeito, é um dos melhores momentos do filme. A cadência da cena, a forma como ele vai construindo as promessas e ganhando o povo. A interpretação do cineasta. Tudo muito bem orquestrado. Outra cena de destaque é Galdino tocando O Guarani de Carlos Gomes. O filme ganhou diversos prêmios, entre eles o Prêmio Saci de Melhor Diretor em 1953. Ao receber o prêmio, Humberto Mauro brincou "Pensei em ganhar dinheiro com O Canto da Saudade, ganhei um Saci".
Brincadeiras a parte, Humberto Mauro é daqueles nomes que não deveriam ser esquecidos da nossa filmografia. Confesso que só o conheci nas aulas de História do Cinema Brasileiro na Faculdade, mas me encantei por sua simplicidade e genialidade ao mesmo tempo. Um artista a ser admirado que consegue dialogar ainda hoje com sua capacidade de comunicação e expressão.
Humberto Mauro era mineiro e um cineasta artesão. Em sua primeira fase, o cinema brasileiro era feito de ciclos regionais, e o ciclo de Minas Gerais fora encabeçado por ele. O cineasta era roteirista, diretor, montador e ator de suas obras que eram feitas, na maioria em sua fazenda com seus amigos e vizinhos. Os integrantes do Cinema Novo o consideravam o Pai do Cinema Brasileiro, e ele vai, inclusive atuar em algumas obras do movimento. Entre seus filmes mais conhecidos estão Na Primavera da Vida, Brasa Dormida, Sangue Mineiro, Ganga Bruta, Favela dos meus amores, e O Canto da Saudade, último longa-metragem que fez na vida.
O Descobrimento do Brasil foi uma obra sua atípica. Primeiro que ele foi contratado pelo Governo de Getúlio Vargas para fazer o filme. O roteiro original não era seu. Na verdade, tinha um tom documental baseado na carta de Pero Vaz de Caminha e já tinha tido outros dois diretores antes que não deram certo. Humberto Mauro recomeçou do zero. A encenação do que seria a época acaba sendo artificial demais, não cria empatia. Tem uma cena onde os índios dormem no navio português que é caricata ao extremo. Já a primeira missa, o diretor tentou reproduzir fielmente o quadro de Victor Meirelles e acabou ficando interessante. De qualquer maneira é um filme com pouca vida, ao contrário dos seus demais trabalhos.
Até porque uma das características do cinema de Humberto Mauro era a crítica. Extremamente inteligente, o cineasta criava de maneira quase instintiva. Tanto que era considerado um gênio incompreendido. Falava Tupi, sabia código morse e se encantou com o cinema pela possibilidade de manusear uma máquina. Segundo o cineasta: "Cinema é cachoeira. Deve ter dinamismo, beleza, continuidade eterna". Aliás, Humberto Mauro era conhecido também por suas frases como "Curso de brasileiro é olhar. Olhou, viu, fez". ou "Natureza a gente não deve filmar quando a gente quer, mas quando a natureza escolhe".
Humberto Mauro foi pioneiro em diversos aspectos. Ele foi o primeiro cineasta a mostra a favela no cinema, no filme Na Primavera da Vida de 1926. Como curiosidade, a trilha sonora desse filme traz a música "Lata d´água na Cabeça". Foi também o primeiro a gerar polêmicas com a censura em Ganga Bruta por ter mostrado os joelhos das atrizes, coisa inadmissível na época. É dele também aquele que é considerado o filme mais importante da época, Favela dos Meus Amores de 1937. Filme que hoje encontra-se desaparecido. As latas dos negativos não foram encontradas e tudo que se tem são memórias e algumas fotos.
O Canto da Saudade é um dos seus últimos filmes e dos que mais admiro, pelo menos dos que pude ver. Mostra a essência do homem brasileiro, a questão do campo, as politicagens e o sonho de um camponês simples. O canto do título é do acordeon de Galdino, que toca pelos campos sua paixão por Maria Fausta, afilhada do coronel Januário que é interpretado pelo próprio Humberto Mauro. Aliás, a cena do comício do coronel, que é candidato a prefeito, é um dos melhores momentos do filme. A cadência da cena, a forma como ele vai construindo as promessas e ganhando o povo. A interpretação do cineasta. Tudo muito bem orquestrado. Outra cena de destaque é Galdino tocando O Guarani de Carlos Gomes. O filme ganhou diversos prêmios, entre eles o Prêmio Saci de Melhor Diretor em 1953. Ao receber o prêmio, Humberto Mauro brincou "Pensei em ganhar dinheiro com O Canto da Saudade, ganhei um Saci".
Brincadeiras a parte, Humberto Mauro é daqueles nomes que não deveriam ser esquecidos da nossa filmografia. Confesso que só o conheci nas aulas de História do Cinema Brasileiro na Faculdade, mas me encantei por sua simplicidade e genialidade ao mesmo tempo. Um artista a ser admirado que consegue dialogar ainda hoje com sua capacidade de comunicação e expressão.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Descobrimento do Brasil
2013-04-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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