Diego e Emilia são casados há 16 anos. Têm um filho de quatorze e estão naquela rotina onde o sexo é quase mais uma obrigação semanal. Já os seus melhores amigos, Betina e Ricardo parecem eternos namorados. O segredo do casal é revelado em um jantar: eles praticam swing. Segundo ambos, esse é o tempero para se manter apaixonados e vão propor que Diego e Emilia também experimentem. Emilia logo se anima, mas Diego tem várias restrições. A partir daí, muitas confusões ainda vão se desenrolar.
Mas, o mais interessante de 2 mais 2 não é exatamente a história, mas a cadência da trama que vai se desenvolvendo de uma maneira muito gostosa, envolvente e divertida. Há diversas piadas visuais que dão um tempero a mais ao filme, a começar pela apresentação dos personagens. Diego e Ricardo são médicos cardiologistas e sócios de uma clínica de sucesso. Quando vão receber um prêmio, Diego faz o discurso e quando Ricardo vai se aproximar do microfone, o apresentador o corta, demonstrando quem é o líder e famoso na dupla. Durante o jantar, quando Ricardo e Betina se beijam apaixonadamente, Diego e Betina olham admirados e Diego dá um beijinho tímido no ombro de Betina, demonstrando a diferença dos casais.
Diversos outros detalhes visuais vão ajudando a compor a história, chegando até a um detalhe da porta da sala de cirurgia em determinado momento da trama que mostra bem como estão Diego e Ricardo àquela altura. Mas, uma sacada bem divertida é a utilização de metáforas com o trabalho de Emilia, que é a mulher do tempo em um telejornal local. As previsões de tempo de seu programa são uma clara alusão aos acontecimentos da trama. Chuvas fortes são problemas. Barreira arrebentada, Diego cedendo. Sol, alegria e paz entre as famílias, nova chuva e tormenta, mais problemas, e assim por diante. E a maneira irônica como tudo isso é inserido, não deixa de ser uma boa construção.
Lidar com sexo é sempre um assunto delicado, ainda mais com swing e orgias. E Diego Kaplan consegue conduzir isso com muita sensibilidade e bom humor. A festa na casa de um amigo de Ricardo e Betina mesmo é um ponto alto. É tudo muito estranho para casais monogâmicos conservadores. E exagerado também. Todos os personagens se comportam como cães no cio, que vão simplesmente agarrando quem vêem pela frente. É interessante como somos colocados na visão do personagem Diego que está sempre muito incomodado com tudo aquilo. E a sua conversão vai sendo quase a nossa conversão de que, tudo bem, não deve ser algo tão problemático assim, nós que somos caretas. Até por isso, a virada na trama é tão bem-vinda. Não chega a ser uma resolução conservadora, mas uma espécie de conscientização.
Pois é interessante, ao se tocar em um tema como esse, não falar em culpas, pecados, proibições, mas de limites. 2 mais 2 acaba conseguindo se sair bem nessa questão. E um grande trunfo para isso é o elenco, que se entrega de uma maneira muito natural aos acontecimentos, criando química entre os casais e cumplicidade com a plateia. Há verdade nas cenas e lembrar que existem sentimentos envolvidos e que tudo não é apenas instinto é importante, deixa a trama mais próxima da realidade do espectador. Porque no fundo somos seres possessivos e precisamos de coisas básicas como fidelidade e envolvimento emocional. Mesmo os homens que parecem sempre encarar o sexo de uma maneira mais aberta que as mulheres em geral.
2 mais 2 não chega a ser um tratado sexual, nem tem a pretensão de discussões mais profundas. Mas, consegue falar de maneira divertida do tema e de pontos polêmicos nele. Tem origem em uma série de televisão famosa na Argentina e foi grande sucesso de bilheteria por lá, ficando três semanas no topo do ranking, só para ter uma ideia. É envolvente, inteligente e divertida como uma boa comédia deve ser. Mas, também, não vai além disso.
2 mais 2 (Dos más dos, 2013 / Argentina)
Direção: Diego Kaplan
Roteiro: Daniel Cúparo, Juan Vera
Com: Adrián Suar, Carla Peterson, Julieta Díaz e Juan Minujín
Duração: 103 min.